quarta-feira, 16 de abril de 2008

Proteção em xeque

Valor Econômico
Por Luciana Monteiro e Angelo Pavini, de São Paulo
16/04/2008


Acostumados à constância do retorno dos fundos DI, consideradas as carteiras mais conservadoras do mercado, muitos investidores levaram um susto ao ver as cotas de sexta-feira, dia 11, e segunda-feira, dia 14. A maioria dos fundos de varejo de grandes bancos registra perdas de até 0,17% num único dia, o que representa quase uma semana da variação do CDI, de 0,04% ao dia. E vários bancos ainda vão mostrar esse prejuízo hoje, na cota de ontem, dia 15. O motivo é um ajuste - chamado de marcação a mercado - à alta dos juros dos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) emitidos pelos grandes bancos.


Por lei, os fundos DI têm de aplicar no mínimo 80% de seu patrimônio em títulos públicos e os outros 20% podem estar em papéis de renda fixa de baixo risco de crédito, como CDBs de grande bancos. O problema é que as taxas desses papéis, que ocupam parte expressiva das carteiras dos DIs e renda fixa, tiveram nas últimas semanas a maior alta desde o auge da crise das hipotecas de alto risco americanas ("subprime"), em agosto do ano passado. Em média, as taxas dos CDBs passaram de 101% do CDI para até 107% do CDI, dependendo do prazo. Com os juros subindo, os papéis antigos nas carteiras dos fundos, com juros mais baixos, perdem valor. Hoje, quase um terço dos R$ 381 bilhões de CDBs do mercado estão nas mãos dos fundos, com R$ 110 bilhões.


Os analistas lembram, no entanto, que essa queda é apenas um ajuste, para que os papéis antigos passem a render como os novos. Portanto, o ganho dos DI e renda fixa tende a subir. A recomendação é para que o investidor não saque.


As perdas variam de acordo com a quantidade de CDBs de cada fundo e com o critério de marcação a mercado de cada gestor. Como os CDBs não têm mercado secundário ativo, ou seja, não são negociados diariamente depois de emitidos, não há um critério único para atualizar os valores. Cada banco adota a melhor forma de avaliação. Alguns ainda jogam o prejuízo de uma vez na cota, outros diluem durante vários dias e outros ainda nada fizeram. Essa situação fez a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) emitir um comunicado na quarta-feira da semana passada, determinando maior atenção na marcação a mercado dos títulos privados.


Uma conjunção de fatores fez com que as taxas pagas em CDBs dos bancos, inclusive de grandes instituições, subissem. Primeiro, a crise internacional com os papéis "subprime" dificultou a captação dos no exterior. A saída foi captar mais dinheiro aqui, pressionado as taxas. Depois, no início de fevereiro, o Banco Central fixou um compulsório sobre os recursos repassados pelas empresas de leasing para os bancos, que usavam esse dinheiro para financiar empréstimos. O recolhimento começa em maio, equivalente a 5% de uma carteira avaliada em R$ 160 bilhões, o que resultaria em R$ 8 bilhões, chegando a R$ 40 bilhões em janeiro de 2009, ou 25%.


Além disso, em julho, os bancos terão de atender às exigências do acordo da Basiléia II, que eleva o capital necessário para operar. Em meio a todo esse aperto de liquidez, as carteiras de crédito continuam crescendo, a um ritmo de 30% ao ano, acompanhando o aquecimento da economia.


Essa alta foi generalizada entre os bancos e as maiores taxas são para CDBs com carência e para grandes valores, diz Arthur Riedel, superintendente da área de Produtos de Tesouraria do Itaú. Para aplicações com carência de dois anos e volume de R$ 500 milhões, a taxa de um CDB do Itaú pode chegar a 105% do CDI. Para a pessoa física, o retorno também ficou mais interessante. Uma aplicação de R$ 10 mil, com liquidez diária, conseguirá algo até 90% do CDI, diz o executivo.


Para avaliar as perdas com os ajustes dos CDBs, o investidor não deve olhar um dia apenas, mas o mês, diz Márcio Appel, vice-presidente de asset management do Santander. "Mesmo quem fez o ajuste e teve perdas pode não ter zerado tudo e voltar a dar prejuízos". No caso do Santander, a opção foi por fazer o ajuste total na cota do dia 14, por isso a queda maior. "Fizemos a atualização de valores de forma conservadora, inclusive para CDBs de difícil avaliação". O grosso das perdas, diz Appel, veio dos chamados CDBs subordinados, que são considerados capital do banco, quase como uma ação. Esses papéis, de longuíssimo prazo, cinco anos pelo menos, pagavam 103% do CDI e passaram a pagar até 107% do CDI.


Na carta enviada na quarta-feira, a Anbid reforça a necessidade da marcação a mercado dos CDBs por conta dos graus diferentes de conservadorismo na avaliação desses títulos entre os gestores. A iniciativa da Anbid tem como objetivo agir o mais rápido possível de modo a minimizar a diferença entre o preço do papel em carteira daquele hoje no mercado, diz Marcelo Giufrida, vice-presidente da entidade. A Anbid irá também, nos próximos 15 dias, avaliar as metodologias usadas pelos gestores para ajustar o preço dos CDBs.


O momento é de oportunidade para se investir, já que esses papéis passaram a oferecer taxas atrativas, diz Robert van Dijk, diretor superintendente da Bradesco Asset Management (Bram). Segundo ele, a gestora aperfeiçoou seu modelo de marcação a mercado de CDBs e os ajustes já foram feitos nos fundos. "As perdas, no entanto, nem se comparam aos prejuízos com a marcação feita em 2002", diz. Naquela época, as perdas foram com papéis públicos, e muito maiores que o ajuste atual.

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