terça-feira, 21 de agosto de 2007

Rumo a um porto seguro

Valor Econômico 21/08/2007

Por Angelo Pavini

Diante da forte turbulência dos mercados brasileiros por conta da crise de confiança no exterior, o investidor brasileiro optou por procurar o porto seguro dos fundos DI, curto prazo e até cambiais. Já ações e multimercados passaram a registrar resgates. O movimento de captação é mais forte no caso dos DI, onde há uma reversão da tendência notada desde o início do ano. Segundo dados do site financeiro Fortuna, os DIs acumularam no mês, até dia 16, R$ 3 bilhões de captação líquida (descontados os resgates e a rentabilidade), sendo que a maior parte, R$ 1,725 bilhão, entrou nos sete dias encerrados dia 16, em meio ao momento de maior nervosismo com o cenário externo. Basta lembrar que na quinta-feira, dia 16, o Ibovespa chegou a cair mais de 8% durante o dia.


Com esse resultado, os DIs acumulam a maior captação na semana e no mês (descontados os fundos voltados ao setor público), o que mostra a preferência dos investidores por proteção, uma vez que os DIs acompanham a alta do juro diário, o que reduz as chances de perdas, como as que ocorreram com os fundos renda fixa. Os volumes aplicados, porém, ainda são pequenos em relação ao resgate do ano, de R$ 9 bilhões, e em 12 meses, de R$ 20 bilhões, um sinal de que a busca por refúgio ainda é localizada.


Outro sinal da procura por proteção são os fundos curto prazo que, como o nome diz, não correm tanto risco comprando papéis mais longos e, portanto, tendem a ser menos voláteis nestes momentos de incerteza. Os curto prazo captaram R$ 421 milhões nos sete dias encerrados dia 16, tornando o saldo positivo no mês em R$ 39 milhões. Já os fundos cambiais, que vinham apanhando desde o ano passado, voltaram a captar, R$ 20 milhões na semana. Os cambiais registram ganho de 10,3% no mês, sendo 7,9% só entre os dias 9 e 16, o que provavelmente atraiu investidores.


Ao mesmo tempo, os fundos de ações, que vinham mantendo captação, começaram, pela primeira vez desde o início da crise, a registrar resgates. Na semana encerrada dia 16, saíram R$ 501 milhões, reduzindo pela metade o saldo no mês, para R$ 521 milhões. "De 89 fundos de ações de varejo, só cinco captaram na semana, o resto perdeu recursos", afirma Marcelo D'Agosto, sócio do site Fortuna. Os multimercados também passaram a perder patrimônio, com resgates de R$ 383 milhões na semana, tornando o saldo negativo no mês em R$ 290 milhões. "Olhando só os multimercados de varejo, 48 no total, todos tiveram resgates", diz.


Os renda fixa também tiveram saídas fortes, nota D'Agosto. Na semana do dia 16, a perda foi de R$ 1,155 bilhão, elevando para R$ 2,983 bilhões as perdas no mês. "Houve saques no varejo depois das perdas da semana passada, especialmente em carteiras renda fixa mais agressivas, enquanto as mais conservadoras até captaram", lembra ele. Carteiras como Uniclass Renda Fixa Longo Prazo, do Unibanco, tiveram perdas de mais de 1,5% no dia 16.


Para D'Agosto, os resgates atingiram muitos fundos de varejo, o que mostraria um desconforto maior do pequeno e médio investidor. "Teve gente que entrou agora e está perdendo, fica desesperado e sai e há também aqueles que ganharam muito ao longo do ano", lembra ele, que alerta para o risco de o pequeno investidor fazer bobagem.


Na Caixa Econômica Federal (CEF), a orientação para a rede é para que o investidor não se precipite para não sofrer prejuízos desnecessários, diz Marcelo Bonini, superintendente de Produtos de Varejo. "É natural que haja alguma oscilação, a bolsa hoje (ontem) já está subindo e quem sacou na quinta-feira perdeu o ganho de hoje e de sexta-feira", afirma. Já quem aplicou em fundos cambiais, perdeu com a queda do dólar. "As pessoas olham só a rentabilidade e ficam assustadas quando há volatilidade", diz.


Segundo Bonini, apesar das perdas, os investidores estão se comportando bem. "No caso da renda fixa, por exemplo, tivemos dois fundos que sofreram: um prefixado FIC Pré, que perde 0,5% no mês, e um em índice de preços, o FIC Capital, que perde 0,8%", diz Bonini, lembrando, porém, que eram fundos bem específicos. "O pré teve um ganho grande ao longo do ano com arbitragem enquanto o de índice era voltado para a proteção do capital contra a inflação."


Para quem está pensando no que fazer com as aplicações, vale ouvir o conselho do professor William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV. Para ele, a crise é passageira e, portanto, não há motivo para se desfazer de ações ou de fundos de renda fixa, que podem ganhar agora com a alta das taxas de juros. Ele lembra que os bancos centrais de todo o mundo estão atuando coordenados para evitar uma crise maior. Ao mesmo tempo, os emergentes estão com fundamentos econômicos muito sólidos. "A Rússia tem reservas internacionais de US$ 400 milhões, a China, mais de US$ 500 bilhões e o Brasil, US$ 160 bilhões", diz. Além disso, Japão, Europa e Ásia continuam crescendo, compensando uma queda da atividade nos Estados Unidos.


Por isso, diz Eid, se a crise é passageira, "cabe ao investidor classe média ficar paradinho". "Se sair agora do fundo de ações, vai amargar prejuízos, ele não tem de sair no meio da volatilidade", diz.

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