domingo, 10 de janeiro de 2010

Trabalhadores poderão investir R$ 5 bi do FGTS

O Globo

10/01/2010

A primeira oferta pública para os trabalhadores investirem parte do saldo do FGTS num fundo de obras de infraestrutura chegará a R$ 5 bilhões. A demanda pode ficar acima de R$ 10 bilhões. A nova aplicação não terá rentabilidade mínima, mas a ideia é que ofereça taxa acima dos atuais 3% ao ano do FGTS.

Oferta bilionária para trabalhadores



Primeira operação para investir parte do FGTS em obras de infraestrutura chegará a R$ 5 bilhões

Geralda Doca e Vivian Oswald BRASÍLIA

O governo vai permitir que os trabalhadores usem, conjuntamente, até R$ 5 bilhões dos recursos depositados nas contas do FGTS para aplicar no Fundo de Investimento em Cotas (FIC), criado para financiar empreendimentos de infraestrutura e que está prestes a sair do forno. A primeira oferta pública de cotas do FIC será de R$ 2 bilhões, mas já existe consenso no Conselho Curador do FGTS em chegar a R$ 5 bilhões, adiantaram fontes ao GLOBO. A vantagem para o trabalhador em investir no novo fundo é que ele poderá utilizar até 30% do seu saldo, conforme lei aprovada em 2009, para melhorar a rentabilidade do dinheiro, que rende apenas 3% ao ano e tem perdido para a inflação.

A rentabilidade média de um outro fundo, o FI-FGTS, que usa parte do patrimônio líquido do FGTS no setor de infraestrutura, é de 9% ao ano. O FIC é uma espécie de “fundo-filho” do FIFGTS: com os recursos aportados diretamente pelos trabalhadores, comprará cotas do FI-FGTS, o “fundo-mãe”.

A carteira final de empreendimentos que receberão recursos do FI-FGTS ainda está em elaboração, mas é certo que incluirá os mais rentáveis previstos hoje, como a usina hidrelétrica de Belo Monte e o trem-bala que ligará o Rio a São Paulo. O novo fundo será administrado pela Caixa Econômica Federal, e os projetos selecionados terão de passar pelo crivo do comitê de investimentos do FI-FGTS, formado por representantes dos trabalhadores, empregadores e governo.

O governo queria já começar a oferta pública de cotas em R$ 5 bilhões, mas os conselheiros decidiram fazer um primeiro teste do interesse do trabalhador. Para o presidente do Instituto FGTS-Fácil, Mario Avelino, a demanda será pelo menos dez vezes maior do que os R$ 2 bilhões que o governo pretende colocar à venda em um primeiro momento. Pelas contas do especialista, se todos os trabalhadores resolvessem aplicar até 30% dos valores de que dispõem depositados no Fundo, a demanda seria de cerca de R$ 46 bilhões. A ampliação do valor para R$ 5 bilhões poderá ser feita antes mesmo do encerramento do prazo de inscrições do edital. Para isso, basta uma resolução do Conselho Curador, explicou uma fonte.

Em bancos, fundos rendem acima de 70%

Será, no entanto, uma operação de mercado, sem garantia de retorno mínimo ao investidor do FIC. Ao contrário do fundo-mãe, que tem rentabilidade mínima de 6% ao ano.

— O FIC envolve risco, mas há a expectativa de que a rentabilidade supere a do CDI (Certificado de Depósito Interbancário, juros médios de captação de mercado que balizam a remuneração dos fundos de renda fixa), em torno de 9% — disse Flávio Porta, do escritório Libertuci Advogados Associados, acrescentando que não adianta esperar o retorno dos fundos de Vale e Petrobras, em que o trabalhador pôde aplicar no passado.

Segundo ele, o trabalhador que investiu no fundo da Petrobras em 2000 e deixou o dinheiro aplicado até 10 de dezembro de 2009 teve um ganho de 892,22%. No caso da Vale, o retorno foi 988,20%, a contar de 2002. A explicação é que esses trabalhadores compraram ações de empresas já consolidadas e de porte global. Agora, vão pôr dinheiro em projetos novos e que vão levar tempo para dar retorno.

Outro aspecto que deverá ser levado em consideração, segundo o advogado, é que, ao investir no FIC, o trabalhador não poderá retirar o dinheiro antes de 12 meses, sob qualquer hipótese, mesmo aquelas previstas nas regras do FGTS (aposentadoria, demissão sem justa causa, compra da casa própria ou doença).

Porém, embora ainda recentes, o desempenho dos fundos de investimento em infraestrutura existentes no mercado e que aplicam em ações de empresas listadas em Bolsa indicam o potencial do segmento. Criado em 2007, o fundo de infraestrutura do Itaú, por exemplo, obteve em 2009 rentabilidade de 76,1% e atingiu patrimônio líquido de R$ 108 milhões.

— A gente sente um interesse muito grande tanto do investidor local quanto do estrangeiro, de olho no ciclo de crescimento que varia entre cinco e dez anos — disse o analista do banco, Marcelo Mizrahi, citando os eventos da Copa e das Olimpíadas.

— Muitos projetos estão sendo elaborados em infraestrutura e todo mundo está de olho neles — reforçou o superintendenteexecutivo de Renda Variável do Bradesco Asset Management, Herculano Alves.

Com patrimônio líquido de R$ 117,7 milhões em dezembro de 2009, o fundo de investimento em infraestrutura do Bradesco completou três anos de existência, e suas aplicações renderam 72,47% em 2009. O fundo do Banrisul foi um dos pioneiros no ramo, tendo iniciado suas atividades em 1997.

Fechou o ano passado com rendimento de 72,10% e um patrimônio de R$ 67,5 milhões.

— Ao longo desse tempo, temos conseguido uma rentabilidade diferenciada, em função da carência do país no setor de infraestrutura — disse o gerente de gestão do fundo do Banrisul, Guilherme Ferle.

Ele considera que o FIC tem vantagens porque o custo de oportunidade é baixo (os 3% ano de rendimento do FGTS), na comparação com os de outros bancos que aplicam recursos próprios de seus clientes — em geral já depositados em outras aplicações, com rendimento superior.

Outro peso é o patrimônio do FI-FGTS, de cerca de R$ 20 bilhões, tendo sido efetivamente aplicados R$ 12 bilhões. Isso significa que o potencial de investimento — e retorno — dos fundos FGTS é muito superior ao dos demais, pois podem investir tanto diretamente em projetos como nas próprias aplicações concorrentes.

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