quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Previdência privada atrai gestores independentes

Valor Econômico

Por Luciana Monteiro, de São Paulo
13/01/2010

A previdência privada aberta vem atraindo cada vez mais gestores independentes interessados em ampliar a oferta de investimentos diante do juro mais baixo. A mais nova asset a ingressar nesse segmento é a Orbe Investimentos, que lança um fundo nas versões PGBL e VGBL com a seguradora Icatu Hartford. Este é o primeiro fundo criado pela gestora depois de dois anos e meio.

A seguradora vai estruturar um PGBL e um VGBL. Ao aplicar no fundo, os recursos serão direcionados para um fundo multimercado gerido pela Orbe. Esse fundo seguirá as regras de ter 49% em renda variável e 51% em renda fixa. Segundo Fernando Camargo, sócio da Orbe, a parte de renda variável será composta por 25 papéis. Na renda fixa, inicialmente, os recursos serão aplicados em títulos públicos pós-fixados (LFTs), mas, com o tempo, o fundo poderá ter outros papéis como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) ou debêntures.

A taxa de carregamento será zero e o investimento mínimo, de R$ 10 mil. Não haverá taxa de carregamento, mas o investidor que aplicar e decidir sacar no curto prazo terá um "pênalti". Se resgatar antes de um ano, terá de pagar 3%, percentual que cai até 1% para quem ficar até três anos. Depois, não haverá mais a cobrança. Além disso, para evitar que o investidor utilize uma aplicação de longo prazo, como é o caso da previdência, para ganhar num curto espaço de tempo, os pedidos de resgates só poderão ser feitos a cada 60 dias.

Além da Orbe, Gávea, BRZ, Fram Capital e Credit Suisse Hedging-Griffo são algumas das gestoras independentes que já fecharam parceira com seguradoras para oferecer previdência.

A carteira de previdência da Orbe vem depois de um período complicado para a gestora, que viu o patrimônio total de seus fundos cair sensivelmente por conta da crise. O último fundo criado pela gestora foi o Balance, um multimercado equity hedge (tipo de carteira que busca ganhar utilizando arbitragem com ações e seus derivativos), em abril de 2006. Mas a crise que assolou os mercados em 2008 fez com que a gestora incorporasse a carteira ao carro-chefe da empresa, o fundo de ações Orbe Value.

Em setembro daquele ano, quando o banco Lehman Brothers quebrou, um dos distribuidores que mantinham um fundo-espelho resolveu liquidar a carteira. Isso fez com que o gestor precisasse vender papéis de baixa liquidez no pior momento da crise, o que trouxe fortes perdas. Além disso, como boa parte do portfólio era formado por papéis de menor liquidez, ao vendê-los, a desvalorização das ações aumentava ainda mais.

O mercado de "value investing" (que aplica em empresas cujas ações estão subvalorizadas em relação ao valor patrimonial) praticamente acabou por conta da crise em 2008, diz Camargo. "Naquela época, virei praticamente gestor de passivos." Só para se ter uma ideia do impacto da crise, a Orbe iniciou 2008 com R$ 480 milhões sob gestão e, ao longo daquele ano, chegou a R$ 520 milhões, mas encerrou em R$ 200 milhões. Boa parte, no entanto, foi recuperada e agora o total de ativos de terceiros soma R$ 350 milhões.

"O dano que um analista de ações ruim pode causar ao investidor ao fazer um relatório malfeito é menor do que os prejuízos à pessoa física causados por um consultor financeiro mal preparado", diz Camargo. "E esses profissionais (os consultores) nunca são responsabilizados; em 2008, muita gente perdeu dinheiro por ser mal-assessorado."

No ano passado, o Value apresentou retorno de 35,62%, bem abaixo dos 82,66% do Ibovespa ou mesmo dos 87,65% do FGV-100, que serve de referencial para o fundo. "Chegamos a ter 20% da carteira em caixa, pois o mercado corrigiu os preços muito rápido e as oportunidades ficaram escassas."

Na avaliação de Camargo, este será um ano propício para "stock picking" (escolha seletiva de papéis). "As ações de primeira linha estão com preços muito próximos dos considerados justos e há boas oportunidades em ações que não atraem tanto os holofotes e que ainda têm preços atrativos."

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