sábado, 15 de dezembro de 2007

Dicas para comprar um carro, sem roubadas

Jornal da Tarde 15/12/2007

Com o mercado repleto de novidades e facilidades, é preciso ter cautela ao fechar
negócio. Especialistas e consumidores dão dicas infalíveis que vão ajudar o futuro
proprietário a não se arrepender de sua aquisição


1 - Na medida das suas necessidades
A primeira e mais importante dica é: compre um carro que atenda às suas necessidades. Já pensou encostar o possante novinho na garagem e ver que na hora de guardá-lo o assoalho raspa na calçada? Ou que toda a bagagem extra por conta do bebê recém-nascido não cabe no porta-malas do bonito fora-de-estrada? Tem gente que sonha em ter uma picape pequena, mas se esquece de que esse veículo só leva duas pessoas: adaptar banquinho extra na cabine estendida é ilegal. Para fazer sua escolha, considere ainda dados como o consumo de combustível, pois carro beberrão pesa no bolso e polui mais o meio ambiente.

2 - Novo ou usado?
Há quem só opte por carro novo e fim de papo, ainda que traga menos equipamentos. “Até uns 50 mil km praticamente não tem nada para fazer no carro. Para mim já são quase dois anos apenas fazendo as manutenções de rotina, como troca de óleo, filtros, alinhamento e balanceamento, sem nenhum gasto grande”, afirma Hugo Ferreira Leitão, empresário.

Mas tem gente que abre mão do cheirinho de novo para ter mais conforto, motor potente ou ambos, como o engenheiro de Materiais Fernando Pan. “A relação preço-benefício é melhor e a desvalorização do usado, bem menor.” Pan revela o segredo: cuidado com a manutenção de seu carro. “Gastei este ano uns R$ 1.300 no meu Honda Civic LX 98, com peças da suspensão, correia dentada e um vazamento de óleo. Fiz questão de levar a uma concessionária. Ano que vem devo gastar algo perto desse valor, mas faz parte. São esses cuidados que fazem um carro usado ser tão confiável quanto um zero-quilômetro.”

A procedência do carro, seja ele novo ou usado, também é importante. “O local deve ser de confiança. O melhor é optar por lojas conhecidas, mesmo no caso de carros novos”, alerta o consultor Paulo Garbossa, da ADK. E jamais se deve adiantar pagamentos sem estar com o carro.

Em relação aos usados, Garbossa recomenda que se evitem carros que tenham suas características originais alteradas. “Quanto mais original, mais fácil de revender. Esses itens adicionais, como rodas esportivas e aerofólios, são de gosto muito pessoal, nem todo mundo quer”, afirma o consultor.

3 - Visite lojas e concessionárias
Tabela de preços é apenas uma referência das fábricas aos seus concessionários. “Está escrito nela: preço sugerido. Os valores reais podem estar acima ou abaixo do indicado, vai depender da demanda”, alerta Paulo Garbossa, da ADK. É preciso pesquisar. “Visito várias lojas para situar o valor do carro. Comprei meu Polo Sedan numa cor que não queria (preta), mas ele estava em estoque havia algum tempo e por isso consegui um bom desconto, em torno de 15% sobre a tabela”, diz Paulo Cássio de Paula Souza, gerente de Recursos Humanos. E nada de ter vergonha: o melhor negócio é pechinchar. O engenheiro Mecânico Pelagio Ciesca Neto tem experiência no assunto. “Já aconteceu de estar com um vendedor na minha frente, outro ao telefone celular e começar a barganhar para ver qual deles me faria o melhor preço. Falam que faço leilão, mas não me importo, quero é economizar. Só fecho negócio depois de muita conversa. Tem que evitar o entusiasmo”, conta Ciesca.

4- Faça test drive
Antes de escolher seu carro, peça para dirigi-lo. “Hoje quase todas as marcas têm carros disponíveis para o consumidor avaliar. É só ir à concessionária e pedir. Se o vendedor não tiver o carro na hora, vai dar um jeito de consegui-lo, mesmo que seja um usado idêntico”, afirma Garbossa. Pouca gente faz isso, mas o risco de se arrepender depois existe. Há até quem alugue um modelo semelhante, como o engenheiro Ciesca Neto. “Carro infelizmente não é uma camisa, que se você não gosta deixa no armário. Já comprei carro que fiz test drive e gostei, mas depois experimentei uma versão diferente e me arrependi por não tê-la escolhido.”

5- Índice de satisfação
É importante colher o máximo de informações sobre o modelo escolhido. Fale com quem possui um igual, pergunte seu nível de satisfação, como é o dia-a-dia, a manutenção. Pesquise também seu valor de revenda. “Na hora da compra, principalmente de um usado, o referencial é o valor de revenda. A tabela do Jornal do Carro é uma referência. Na hora de vender, pode-se basear nela”, explica Paulo Garbossa.

Fique atento à situação do carro no mercado. Modelos prestes a sair de linha podem valer a pena. “Para quem vai ficar quatro, cinco anos com um carro, pegar um que vai sair de linha é bom negócio. Inclusive pelos descontos que são oferecidos para ele. Mas quem quer trocar logo de carro, no prazo de um a dois anos, deve esperar pela chegada do modelo novo”, aconselha Garbossa.

6- ‘Pelado’ ou Equipado?
Embora nem todo mundo consiga arcar com o preço de acessórios como direção hidráulica e ar-condicionado, deve-se ter em conta que carro equipado é mais fácil de revender. “Em São Paulo, ar e direção fazem vender mais rápido. Mas isso depende da região do País. E os equipamentos devem ser originais”, afirma Paulo Garbossa.

A vantagem do financiamento é que se pode comprar um carro mais equipado e diluir o valor extra nas prestações.

Hoje também há a prática do acessório de concessionária. “Foi uma forma de reduzir o custo de produção do veículo e levar o cliente às concessionárias. Na prática, não há diferença para o consumidor, desde que os itens sejam da linha oficial da marca e instalados de acordo com os padrões. A autorizada é co-responsável pelo produto”, diz Garbossa. “Mas o consumidor deve ficar atento, pois cada item instalado tem seu próprio prazo de garantia. E esta pode ser comprometida se as instalações originais de componentes como o chicote elétrico forem alteradas”, avisa o consultor.

7- Cuidado com financiamentos
Segundo Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), “nunca se deve comprometer mais de 25% do orçamento familiar”. O engenheiro Ciesca Neto inclui em seus cálculos os valores do seguro e IPVA e evita contrair novas dívidas a longo prazo. “Débitos a curto prazo ou manutenções intercalo entre os vencimentos de seguro e IPVA”, conta Ciesca.

8 - Pesquise taxas de juros
Miguel de Oliveira afirma que é imprescindível pesquisar entre bancos e financeiras as melhores taxas de juros e as menores parcelas. “Nunca se deixe seduzir logo pelo que é oferecido na concessionária. E lembre-se de incluir a taxa de abertura de crédito (TAC) e o imposto sobre operações financeiras (IOF).”

O valor do bem financiado pode até dobrar. “Um veículo de R$ 25 mil pago em 84 meses sairá, no final, por mais de R$ 51 mil”, alerta Oliveira. “Por causa dos juros, pagarei R$ 10 mil a mais. Quero quitar a dívida”, diz o empresário Hugo Leitão.

9 - Troca vantajosa
Para dar o carro usado como parte do pagamento por um novo é necessário ficar atento, pois há concessionárias que dão desconto no zero, mas “compensam” reduzindo bastante o valor do usado na troca. “É bom lembrar que lojas que trabalham corretamente têm custos com documentos, por isso oferecem valores abaixo da tabela na hora de receber o usado”, alerta Garbossa.
“Só troquei de carro porque tive uma boa avaliação da revenda Fiat, que ofereceu R$ 17.500 no meu Ka, enquanto outras davam de R$ 15 mil a R$ 16 mil. Fiquei com o Idea”, conta Hugo Leitão.

10 - Considere os custos adicionais
A maioria dos consumidores compra carro pela emoção, não pela razão. Por isso, deixa de fazer contas importantes. “No caso de carros financiados, não é só a prestação que conta. Deve-se ter estrutura para manter o automóvel”, alerta Miguel de Oliveira. “Se ele já comprometeu a renda com as parcelas, como vai encher o tanque ou pagar o seguro?”, questiona. Tomando o Celta como exemplo, a conta é: segundo a fábrica, o modelo 1.0 roda na cidade 10 km/l (álcool). Com o litro a R$ 1,30, o gasto semanal será de R$ 13, caso se rodem 100 km, ou R$ 52 mensais. Em seguida virá o seguro. Para o Celta a cotação gira em torno de R$ 1.600. E ainda há IPVA (4% do carro), licenciamento e até multas. Ou seja: ter carro é também sinônimo de despesas.

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