segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Redução da Selic não chega aos bancos

Jornal da Tarde 17/09/2007

MARCOS BURGHI, marcos.burghi@grupoestado.com.br


A redução de 0,25 ponto porcentual na Selic - a taxa básica de juros da economia - determinada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) no último encontro do grupo, no dia 5, ainda não refletiu nos índices que os bancos cobram dos consumidores pessoas físicas.

Até agora, apenas Bradesco e Banco Real anunciaram baixas. Historicamente, uma avalanche de instituições segue a queda da taxa básica no dia seguinte ao anúncio do Banco Central. O Bradesco reduziu as taxas mensais do cheque especial: a mínima, de 4,39% para 4,38%, imperceptível 0,01 ponto porcentual (redução de 0,23%), e a máxima de 7,91% para 7,89%, 0,03 ponto porcentual (diminuição de 0,25%).

O Real reduziu a taxa mensal do crédito pessoal de 3,45% a 3,39%, 0,06 ponto porcentual (1,74%). A instituição também baixou os juros do CDC Ambiental, linha de crédito para compra de equipamentos que reduzam o impacto ambiental, como kit gás para veículos e aquecedor solar. A redução foi de 2,35% ao mês para 2,05% ao mês, 0,3 ponto porcentual ou 12,77%.

Estudo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostra que a taxa média anual de juros cobrados pelos bancos em produtos oferecidos a pessoas físicas chega a 132,9%, 1.000% a mais que os 11,25% ao ano da Selic.

Para Carlos Alberto Ercolin, diretor-executivo de Finanças da Anefac, a diferença tem duas explicações: a falta de disposição para redução e a ausência de concorrência entre os bancos. 'Com isso quem perde são os consumidores', diz.

Segundo Ercolin, o impacto das reduções anunciadas até o momento será pequeno e não aliviará muito os bolsos dos consumidores, seja a curto ou a médio prazo. Ele acredita tratar-se de um bom momento para que os clientes dos bancos que reduziram as taxas tentem renegociar suas dívidas, mas alerta que, quanto mais novas estas forem, mais difícil será a negociação. 'Os bancos podem alegar que perdem se reduzir', afirma.

Ercolin indica que trocar dívidas mais caras, como cheque especial ou cartão de crédito, por outra de juros mais baixos, como empréstimo pessoal talvez ajude.

Foi a alternativa do analista de sistemas Paulo Paranhos, 48 anos. Com dívida no cheque especial que chegou a R$ 12 mil em fevereiro, ele não conseguiu negociar redução com o banco do qual é cliente. Como resultado, aceitou contrair empréstimo para quitá-la. Pagou entrada de R$ 420 e desde então arca com 24 prestações de R$ 497. 'A dívida começou em R$ 4 mil'.

Para Nicola Tingas, economista chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), crédito e risco andam juntos. Segundo ele, o valor oferecido no cheque especial é dinheiro que só deve ser usado em último caso. Ele atribui a redução tímida das taxas de juros a fatores como inadimplência e carga tributária.

EM NÚMEROS

*0,25 ponto porcentual foi a redução da Selic, taxa básica de juros da economia, determinada pelo Copom na reunião do último dia 5 de setembro

*132,9% é a taxa média cobrada anualmente em juros pelos bancos do País, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade

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