terça-feira, 18 de setembro de 2007

Aplicação em independentes sobe na crise

Danilo Fariello
Valor Econômico
18/9/2007


As butiques de investimento e gestores sem ligação direta com bancos de varejo mostraram, assim como seus investidores, mais maturidade para enfrentar a crise que abala o mercado desde o fim de julho. Desde o dia 23 daquele mês, os fundos desses gestores selecionados pelo site Fortuna acumulam captação líquida de R$ 5,59 bilhões. Esses fundos apresentaram, em média, prejuízos no período, e tinham patrimônio de R$ 97 bilhões na quarta-feira, data em que se encerra o levantamento. Na outra mão, os fundos de bancos de varejo perderam, em resgates líquidos, quantia semelhante, de R$ 5,22 bilhões, segundo o site. Esses fundos, ao contrário dos fundos de butiques, apresentaram rentabilidade média positiva no período e patrimônio total de R$ 283 bilhões na quarta-feira.

O movimento é sinal de um amadurecimento do mercado doméstico, muito diferente de crises anteriores, diz Zeca Oliveira, diretor da Mellon Serviços Financeiros, que administra fundos de diversos gestores independentes. "O investidor das butiques não se assusta mais com turbulência e até entende isso como oportunidade para entrar nesse mercado", diz, ao avaliar o volume de depósitos nos fundos. Segundo ele, alguns fundos multimercados que estavam fechados para novos aportes aproveitaram o momento para reabrir e captar recursos. Entre eles, está o fundo IP-Equity Hedge II, da Investidor Profissional, que captou R$ 200 milhões em dois dias.

Quando a distribuição do fundo é cuidadosa, o cotista sabe que o investimento é de longo prazo e tolera esses momentos, diz Alexandre Maia, gestor da GAP, que não notou movimento anormal no fluxo de depósitos de seus fundos. "O investidor avalia o histórico de longo prazo da gestão e segue aplicado", completa.

Muitos viram o momento como uma oportunidade para investir em ativos com preços mais atraentes, diz Sergio Manoel Correia, analista da LLA Investimentos. "O movimento é sinal de que esse investidor está ciente do risco que corre e que tem um aconselhamento que lhe explica as variações", diz ele.

O cenário é diferente para os fundos dos grandes bancos de varejo. Apesar de apresentarem rendimento positivo nas últimas semanas, eles registraram mais saques do que depósitos. Na turbulência, se houver ausência de informações, o investidor tem dificuldade de compreender a oscilação e acaba saindo do investimento com um pouco mais de risco, diz Correia, da LLA. "Muito investidor aplicava em fundos com mais risco do que tolera e, com a volatilidade, percebeu que não estava preparado para isso", completa ele.

Contudo, houve uma diminuição geral do risco médio corrido pelos cotistas, diz Marcelo D"Agosto, do Fortuna. "Mesmo nas butiques, os fundos que captaram mais no período foram aqueles mais conservadores."

No caso de fundos das gestores independentes, ainda poderão ser vistos resgates, pois muitos deles têm carência. Isso significa que uma possível saída de investidores dos fundos, com medo da turbulência, poderá vir a ser percebida apenas no futuro. No entanto, Oliveira, da Mellon diz que, se isso tivesse ocorrido, os resgates já começariam a ser percebidos. "Além disso, o volume de depósitos é indício de que não houve fuga de dinheiro", completa ela.

Quando o mercado é de alta, como se apresentou no primeiro semestre deste ano, importa só a rentabilidade para a decisão de onde investir mais ou menos, diz o analista da LLA. "Mas, nessas horas de turbulência, é mais evidente a necessidade de entender o que ocorre e entender os riscos para seguir em frente."

Apesar do período de fortes emoções, um bom planejamento financeiro não muda de um mês para o outro, diz Correia. "O cenário ainda não está totalmente claro, portanto, não há como recomendar deixar ou investir mais nos fundos mais arriscados." Sabe-se que deverão vir mais notícias ruins, como os balanços dos bancos lá fora refletindo os problemas de crédito do mercado imobiliário americano, por exemplo. "O investidor deverá aguardar um pouco mais para se movimentar, se tiver um planejamento consistente".

No acompanhamento elaborado pelo site Fortuna, são considerados fundos de butiques aqueles que constam das "prateleiras" de produtos que são oferecidos ou estão sob a gestão de corretoras, bancos de investimento e gestores independentes mais renomados. Os fundos de varejo são aqueles oferecidos no segmento pelas instituições que contam com o apoio de uma ampla rede de agências bancárias. Enquanto a primeira categoria tem, em geral, no máximo mil cotistas, a segunda conta com dezenas de milhares na maior parte das carteiras.

Apesar de os fundos das butiques terem recebido mais aportes desde o dia 23 de julho, eles perderam mais de R$ 900 milhões em rentabilidade no período e os fundos de varejo, mais conservadores, ganharam cerca de R$ 1,2 bilhão em lucro bruto.

Segundo Oliveira, da Mellon, apesar dos prejuízos apresentados pelos fundos mais arriscados das butiques, esse último período de turbulências serve para provar aos investidores que os gestores têm controles de risco rígidos. Na grande crise anterior, de maio do ano passado, houve gestor que perdeu praticamente todo o patrimônio dos cotistas. "Os controles de risco dos fundos se mostraram eficientes nesse período", afirma ele.

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