terça-feira, 18 de setembro de 2007

A economia como um estilo de ser

Jornal da Tarde 18/09/2007

Guardar dinheiro deixou de ser sinal de avareza. O pão-duro moderno viaja, almoça fora e faz compras

Fabrício de Castro, fabricio.castro@grupoestado.com.br

Esqueça a imagem do pão-duro tradicional, que controla até os gastos com palitos de fósforo para guardar dinheiro embaixo do colchão. O pão-duro moderno, fácil de encontrar em qualquer esquina, mantém as finanças sob controle, reserva parte do salário para a poupança e não deixa de viajar ou de almoçar fora (sem gastar muito, é claro).

Talvez por isso ele prefira ser chamado de 'controlado' - e não de pão-duro. 'As pessoas estão mais conscientes da importância da economia financeira', defende o consultor financeiro Álvaro Modernell. 'Há 20 anos, elas sofriam com a inflação e se preocupavam em gastar rápido o dinheiro para não perder seu poder de compra.'

O escritor Gustavo Nagib, autor do bem-humorado Guia do Pão-Duro, confirma que o perfil de quem economiza mudou nos últimos anos. 'O pão-duro de antigamente fechava as duas mãos. Ele era uma pessoa antipática, que ninguém queria por perto', descreve.

Hoje, o próprio Nagib, que controla as finanças de perto, assume um perfil mais light da 'pão-duragem'. 'Levo uma vida normal. Viajo e tenho meus prazeres, mas planejo todos os gastos com antecedência', diz.

Para o economista João Batista Sundfeld, professor da Mercatus Escola de Negócios, a estabilidade da economia favoreceu o planejamento. 'Quando tínhamos taxas elevadas de inflação, a pessoa ganhava R$ 100 e, no fim do mês, isso já valia R$ 70', exemplifica. Agora, é possível prever gastos, guardar dinheiro para o futuro e continuar aproveitando a vida.

Para chegar lá, no entanto, é fundamental manter as despesas dentro do orçamento. O designer Caio César Faria, 28 anos, faz parte dessa geração que colhe os frutos da estabilidade. 'Quando comecei a trabalhar, aos 14 anos, ganhava R$ 150. Meu pai retirava R$ 50 todo mês do meu salário e colocava numa poupança, para que eu pudesse comprar um carro aos 18 anos', conta.

Faria comprou o carro na data prevista e, aos 26 anos, casou-se com a jornalista Cláudia Roman Ramires. Atualmente, o casal mantém uma poupança para viagens, outra para trocar de carro e uma terceira para quitar o apartamento onde moram, que foi financiado. Juntos, possuem uma renda de R$ 7 mil, controlada numa planilha de computador. 'Não viajo todo mês, mas a gente se programa para aproveitar os feriados. E no fim de semana sempre saímos com os amigos', diz Faria.

Sundfeld resume a receita do pão-duro moderno: 'Se a pessoa quer gastar mais, ela tem de ganhar mais. Do contrário, é melhor manter o controle dos gastos'.

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