segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Investidor busca lucro com ação em baixa

Folha de São Paulo

01/11/2010


Volume de aluguel de papéis por pessoas físicas bateu recorde em setembro, movimentando R$ 2,1 bilhões

Operação permite obter ganhos com queda de ativos; aumento dos negócios indica maior especulação na Bolsa

MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO

O investidor pessoa física está mais ousado. Em setembro, pelo segundo mês seguido, o volume de ações que esses aplicadores alugaram de outros investidores (bancos, fundos etc.) bateu recorde. Foram R$ 2,1 bilhões, de acordo com a BM&FBovespa.
Isso significa que mais investidores estão especulando em cima da oscilação dos papéis, buscando lucro em momentos de queda.
"A Bolsa vinha de anos seguidos de alta. Era só comprar a ação e esperar subir. Com esse solavanco [a crise de 2008], o mercado ficou mais difícil", diz Paulo Levy, diretor da corretora Icap.
A operação mais simples consiste em alugar ativos de outro investidor e vendê-los para comprá-los depois e devolvê-los. Quem faz isso acredita que a ação vai cair e por isso vai conseguir recomprá-la por um preço menor depois, embolsando a diferença (veja exemplo no quadro).
"É um jeito de ganhar sem ter o papel na carteira. Mas, se a ação disparar, vai ter de comprar para devolver", resume Marcelo Coutinho, sócio-presidente da Youtrade.
O aluguel de uma ação dura, no mínimo, um dia. Os contratos, geralmente de 30 dias, podem ser renovados.
Quem aluga paga ao dono do papel uma taxa, que varia de acordo com o ativo e a demanda, e é proporcional ao tempo de demora para a devolução. Quando mais gente acredita na queda do papel, a procura pelo aluguel aumenta e o custo, também.
Nas duas últimas semanas, quem alugou a ação ordinária da Petrobras pagou em média 0,54% ao ano.
Entre os dias 15 de setembro 5 de outubro, a taxa média era de 8,46% ao ano.
O aluguel da ação de uma pequena empresa como a Refinaria de Manguinhos saía, em média, por 19,68% ao ano nos últimos 15 dias.

RENDA EXTRA
Alugar ações para outros investidores é uma fonte de renda extra para quem costuma comprar papéis e mantê-los parados.
A maior parte dos investidores pessoas físicas, no entanto, atua na ponta mais conservadora, alugando suas ações para outros operadores. Em setembro, pessoas físicas alugaram R$ 10,9 bilhões para outros investidores. O volume foi recorde em agosto: R$ 13,7 bilhões.
Apesar de o retorno, em geral, ser baixo, o economista Francisco Rocha liga toda semana para sua corretora para alugar seus ativos.
"É um rentabilidade muito reduzida, mas já é alguma coisa. Alugo todas as ações: da Vale, da Petrobras, da Random e da Fosfertil."
"O único risco que o investidor tem é o de perder uma boa oportunidade de venda", observa o educador financeiro Mauro Calil.
Quem aluga o papel de alguém automaticamente deposita garantias (ações, títulos ou dinheiro) na BMF&Bovespa que cobrem mais de 100% do valor alugado.
Isso dá segurança ao "doador" do papel de que o "tomador" terá recursos para recomprar os ativos e devolvê-los. Essa garantia é ajustada diariamente, de acordo com a oscilação do papel.

"INTRA DAY"
Se o investidor quiser ganhar com a queda do papel no "intra day" (num só pregão), ele não precisa alugar as ações.
Pode fazer uma venda a descoberto, ou seja, vender ações que não tem para comprar no mesmo dia. Isso é possível porque, quando um papel é vendido, ele só é efetivamente entregue depois do fechamento do pregão.
O ex-empresário Silvio Vaiano se desfez dos negócios há um ano e meio e desde então faz vendas a descoberto diariamente. "Já tive alguns prejuízos. Meus ganhos por operação ficam entre 0,4% e 0,8%. Ao atingir esse patamar, fecho a operação."

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