segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Caderneta mantém atratividade

Folha de São Paulo

02/08/2010

Apesar das elevações da taxa de juros, poucos fundos de renda fixa e DI dão melhores resultados ao pequeno investidor

Roberta Scrivano - O Estado de S.Paulo

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central iniciou em abril um ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), que hoje está em 10,25% ao ano. Com a elevação, fundos de renda fixa lastreados na Selic passaram a ter rendimento maior e, segundo alguns analistas, ficaram mais competitivos em relação à caderneta de poupança. Especialistas em finanças pessoais, no entanto, alertam que pequenos investidores não devem mexer em suas aplicações.


Isso porque, apesar de a rentabilidade bruta da maioria dos fundos estar superior à da poupança, há uma série de variáveis - a principal delas é a taxa de administração dos fundos - que impacta os resultados da aplicação e devem ser analisadas pelo investidor antes de tomar a decisão de deixar a caderneta.

A tabela que acompanha esta reportagem mostra que a linha entre as melhores rentabilidades é tênue. Um fundo DI ou de renda fixa, por exemplo, com taxa de administração de 1,5% só rende mais que a poupança se o investimento for mantido por mais de dois anos. "Com o passar dos anos, a alíquota de Imposto de Renda no fundo é reduzida e a rentabilidade cresce", explica William Eid, professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV).

Taxas de administração acima de 1,5% tornam a poupança mais rentável. Além dessa taxa e a alíquota de Imposto de Renda - ambos descontados nos fundos, independentemente do valor investido -, o volume investido e o tempo de aplicação são os fatores que determinam os resultados.

Pouco dinheiro. "Com pouco dinheiro, dificilmente se encontram fundos de varejo competitivos na comparação com a poupança", diz o economista Marcos Silvestre. A rentabilidade da poupança é determinada pelo governo federal e é equivalente à taxa referencial (TR - índice que considera diversos dados, mas que no fim das contas tem sido quase zero) mais 0,5% ao mês. "Mesmo com a Selic em 10,25% ao ano, é muito difícil encontrar um fundo de varejo que não apanhe da poupança", completa Silvestre.

Nos critérios do professor, um investidor passa a ser de médio porte se tiver R$ 500 mil para aplicação inicial ou R$ 5 mil líquidos por mês. "Com esses valores, é possível que se encontre taxas de administração menores e, portanto, fundos mais rentáveis", considera.

Márcio Cardoso, diretor da Easynvest, lembra que a periodicidade que o investidor pretende sacar recursos é outro fator relevante na hora de escolher entre continuar na caderneta ou partir para o fundo em busca de melhores rentabilidades.

"A poupança tem como grande negócio a liquidez mensal. Basta ficar de olho no dia do aniversário da sua caderneta para sacar no dia seguinte e não perder a rentabilidade do mês", explica. O aniversário da poupança é o dia em que o investidor começou a aplicação.

O fundo também permite o saque dos recursos a qualquer momento, mas desconta o Imposto de Renda. "E mais, é preciso ter em mente que a tributação dos fundos cai conforme o tempo de aplicação. Se o investidor sacar os recursos e decidir, algum tempo depois, voltar para o fundo, a alíquota de Imposto de Renda voltará a ser alta."

Novas altas. O economista Marcos Silvestre diz que o investidor que está na poupança deve começar a pensar em trocar para um fundo apenas se a taxa Selic chegar a 11,75% ao ano. "Aí a briga entre a rentabilidade do fundo e da caderneta começa a ficar melhor", diz.

Mesmo com taxa de 11,75% ao ano, Silvestre diz que é preciso garimpar os fundos para encontra uma taxa de administração baixa. "Ainda assim, só deve ir para o fundo quem mantiver a aplicação por um ano."


PARA LEMBRAR

O mercado projetava altas na taxa básica de juros (Selic) até, pelo menos, dezembro deste ano. A expectativa era de que o juro alcançasse 11,75% ao ano no último mês de 2010. No entanto, diante dos argumentos da ata da última reunião do Copom (o principal deles é que o risco de aceleração da inflação era maior em março do que em junho), publicada na quinta-feira da semana passada, incertezas sobre esse ritmo de alta surgiram.

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