quarta-feira, 30 de junho de 2010

Indústria precisa baratear custo para o pequeno cotista

Valor Econômico

30/06/2010

Tendências: Taxas de administração para tíquetes de entrada de R$ 1 mil subiram de 43,9% para 47,3%

Adriana Aguilar, para o Valor, de São Paulo

Os fundos da categoria renda fixa e referenciado DI, com baixo tíquete de entrada, praticamente mantiveram o mesmo percentual de taxa de administração cobrada nos últimos dois anos. No entanto, chama a atenção o aumento do patrimônio de fundos com taxas de administração mais elevadas. O patrimônio líquido dos Fundos Referenciados DI, com taxa de administração de 4%, para tíquetes de entrada até R$ 1 mil, passou de 43,9% para 47,3% do total da categoria entre 2009 até abril de 2010. Foi a maior alta de patrimônio, se comparada todas as faixas dos fundos referenciados DI.

O vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Demosthenes Madureira de Pinho Neto, explica que os fundos com tíquete mais baixo têm mais transações e custo maior do que aqueles com tíquete de entrada mais alto.

Pelas informações obtidas, há gastos com impressão, expedição e publicação de relatórios, correspondência, auditorias em todas as transações e outras exigências do órgão regulador. Tudo isso precisa ser feito para cada um dos cotistas. Como exemplo, um fundo com patrimônio de R$ 1 milhão e tíquete de entrada de R$ 100 mil, teria apenas 10 cotistas. No entanto, o mesmo fundo com patrimônio de R$ 1 milhão e tíquete de entrada de R$ 1 mil, passa a ser composto por 1 mil cotistas.

" A indústria de fundos tem de democratizar o acesso aos fundos para os tíquetes mais baixos, onde o custo unitário de cada transação em relação ao patrimônio fica mais alto", diz o vice-presidente da Anbima.

O superintendente de relações com investidores institucionais da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Francisco Santos, reforça dizendo que o motivo das taxas mais altas cobradas aos investidores de varejo deve-se aos custos operacionais relativos de administração de uma base de investidores pulverizada.

Francisco Santos destaca que as taxas de administração dos fundos são um preço de mercado, não havendo qualquer tipo de interferência da CVM nesse aspecto. "Também não há qualquer intenção de regular esse tema de modo diverso", afirma.

Os pequenos investidores estariam preferindo fundos com taxas de administração mais altas para produtos com menos custos no mercado? Por isso, o patrimônio do fundo Referenciado DI, com taxa de administração de 4%, aumentou? Segundo a CVM, a melhor maneira para o investidor se proteger de altas taxas de administração é se informando adequadamente por meio dos prospectos, regulamentos e sites de distribuidores e do investidor, por exemplo.

Outra recomendação é a comparação das características dos diversos produtos ofertados para a decisão daquele que seria o produto mais adequado ao investidor, tendo em vista seu próprio perfil de risco, características e objetivos de investimento.

Para dar mais clareza a essa escolha dos pequenos investidores, a CVM pretende melhorar a transparência na divulgação das informações das taxas de administração e outras despesas para o investidor, por meio de um informe anual mais detalhado do que a informação disponível hoje em dia.

A superintendente de desenvolvimento de mercados da CVM, Luciana Dias, afirma que o assunto será colocado em audiência pública nos próximos meses pela CVM. A proposta de revisão da Instrução 409, que trata da regulação dos fundos de investimento, será aplicada em três pontos principais: informe anual de taxas e despesas, prospecto simplificado e normas para adequar as regras de resgate de um fundo a liquidez de sua carteira.

A previsão é também discutir em audiência pública, a partir do terceiro trimestre de 2010, a padronização do material utilizado para a venda de fundos de investimento. "O que pretendemos com a reforma da instrução é facilitar a vida do investidor na hora de escolher o produto financeiro que ele vai comprar. O prospecto simplificado deve esclarecer as principais informações sobre um fundo e facilitar a comparação entre os diferentes produtos. Assim, o investidor vai poder fazer uma melhor decisão", afirma Luciana Dias.

Por enquanto, para melhorar a informação do investidor, a CVM vem desenvolvendo iniciativas como o site do investidor. O portal permite diversos tipos de consultas sobre fundos de investimento, inclusive a visualização das taxas de administração e a análise de informações de prospectos e regulamentos. "Trata-se de um problema de informação do investidor e não de qualquer tipo de interferência ou limite à fixação de taxas de administração, que permanecem como preço livre de mercado", completa Luciana Dias.

Nenhum comentário:

Locations of visitors to this page