sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Come-cotas faz fundos fecharem no vermelho


 

Valor Econômico

04/12/2009

Por Luciana Monteiro, de São Paulo

O setor de fundos de investimento encerrou novembro com saídas líquidas de R$ 599,48 milhões. O resultado foi diretamente impactado pelo chamado come-cotas - antecipação de imposto de renda cobrado dos fundos de renda fixa semestralmente, em maio e novembro. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o come-cotas somou aproximadamente R$ 2,5 bilhões. Isso quer dizer que, se não fosse o imposto, cobrado no último dia útil do mês, o setor teria fechado com captação.

Para se ter ideia do peso que o come-cotas teve, até o dia 20 o setor de fundos caminhava para o terceiro melhor mês em termos de ingresso de recursos. No fim das contas, novembro fechou como o terceiro pior desempenho do ano até o momento, perdendo apenas para os resgates registrados em junho, que somaram R$ 5,423 bilhões, e em outubro, de R$ 2,918 bilhões.

 

 

É importante ressaltar, entretanto, que o setor de fundos de investimento normalmente encerra novembro com mais saídas do que aplicações. Isso porque, além do come-cotas, muitas empresas sacam recursos de fundos para pagar a primeira parcela do 13º salário aos seus funcionários. Tanto que, quando se olha a movimentação registrada na última semana de novembro, vê-se que as categorias curto prazo, DI, renda fixa e multimercados tiveram fortes resgates.

Os números do setor de fundos contrastam com a captação da caderneta de poupança. Até o dia 27, o investimento mais tradicional do país apresentava ingressos de R$ 2,755,0 bilhões, segundo dados do Banco Central. Mas é natural que a caderneta tenha um desempenho tão positivo, já que, ao pagar seus funcionários, muitas empresas utilizam contas poupança.

Os maiores resgates no setor de fundos em novembro foram registrados entre os multimercados, com saques de R$ 3,787 bilhões, dos quais R$ 3,705 bilhões ocorreram na última semana do mês. No acumulado do ano, entretanto, essas carteiras têm captação de R$ 31,271 bilhões. Os dados referentes ao ingresso de recursos em 2009, no entanto, estão distorcidos por conta da reclassificação da categoria em junho.

As saídas foram puxadas pelos multimercados da classe juros e moedas - que buscam retorno no longo prazo com juros, risco de índice de preço e de moeda estrangeira -, com saques de R$ 2,575 bilhões. Já os multimercados classificados como multiestratégia - carteiras que podem adotar mais de uma tática de investimento, sem o compromisso declarado de se dedicar a uma em particular - tiveram resgates de R$ 2,189 bilhões.

Novembro também foi marcado pela retirada de recursos em fundos curto prazo - carteiras de baixo risco compostas por papéis com vencimento em até 365 dias. No mês passado, esses fundos apresentaram saques de R$ 1,344 bilhão, sendo que R$ 2,393 bilhões saíram na última semana do mês passado. No acumulado do ano, essas carteiras têm captação de R$ 7,570 bilhões.

Os fundos de renda fixa que podem aplicar em papéis prefixados foram dos que mais sofreram com o come-cotas e com o pagamento de parte do 13º. Fazem parte desta categoria os fundos chamados de "poder público", que recebem aplicações somente de estados e municípios. Saíram dos renda fixa R$ 7,530 bilhões na última semana de novembro, o que fez com que a captação encerrasse positiva em apenas R$ 892 milhões. No ano, o ingresso de recursos soma R$ 6,381 bilhões.

Os fundos DI fecharam o mês no azul, com captação de R$ 729,95 milhões, mas perdem R$ 5,460 bilhões no ano. Já os fundos de ações, apesar da alta de 8,93% do Ibovespa, tiveram resgates de R$ 344,81 milhões no mês, mas captam R$ 2,092 bilhões no ano.

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