segunda-feira, 1 de junho de 2009

Tesouro Direto é melhor mesmo com corte dos juros

Jornal da Tarde
01/06/2009


Comparada à poupança, a opção de compra de títulos do governo federal ainda rende mais, mesmo com a previsão de queda da Selic, a taxa básica de juros da economia, nos próximos meses. Facilidade é a principal força da caderneta

FABRÍCIO DE CASTRO, fabricio.castro@grupoestado.com.br

Nem mesmo a queda da taxa básica de juros da economia (Selic), que desde dezembro passou de 13,75% para 10,25% ao ano, tornou o investimento em títulos públicos menos atraentes. Na comparação com a caderneta de poupança, os títulos são mais rentáveis e seguros.

Emitidos pelo governo, eles podem ser adquiridos por qualquer pessoa, por meio do site do Tesouro Direto (www.tesourodireto.com.br). Há opções pré-fixadas - que já estabelecem os ganhos anuais que o investidor terá - e papéis que acompanham a variação da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ou pela Selic (leia mais abaixo).

Com a baixa da Selic, os títulos perderam em rentabilidade, mas continuam superando a poupança. “Se você hoje comprar uma LTN (título pré-fixado) com rentabilidade de 9,30% ao ano, e pagar 20% de Imposto de Renda, terá um ganho próximo de 7,30%”, cita Liao Yu Chieh, professor de Finanças do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. “Na poupança, o ganho será de 6,17% ao ano, mais a TR (taxa referencial).”

Essa diferença aparece no desempenho das aplicações nos últimos 12 meses. Até o dia 26 de maio, a caderneta de poupança acumulava ganhos de 8,2% - enquanto a média dos títulos pré-fixados em circulação (LTN e NTN-F) era de 18,42%, segundo dados da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima).

Mas se os títulos públicos são tão bons, porque o brasileiro continua insistindo em aplicar na poupança? A resposta está na facilidade. “O Tesouro Direto exige mudanças de postura. O investidor tem que se cadastrar no banco e buscar informações sobre os diferentes títulos para fazer escolhas”, explica Mauro CAlil, educador financeiro do Centro de Estudos e Formação de Patrimônio Calil & Calil. “Na poupança, basta ligar para o banco.”

A facilidade em aplicar e a rentabilidade garantida, de 6,17% ao ano mais a TR, torna a poupança a campeã de preferências. Até 25 de maio, os brasileiros mantinham R$ 276 bilhões nas contas de poupança. O volume aplicado em títulos públicos, até o fim de abril, era de apenas R$ 2,77 bilhões.

Na visão dos investidores, a poupança oferece uma vantagem adicional: a segurança. Por lei, em caso de quebra do banco, os depósitos de até R$ 60 mil na caderneta são pagos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). A boa notícia é que os títulos públicos são tão seguros quanto a poupança. “Se fizéssemos um ranking da segurança, a poupança e o investimento em títulos estariam na frente”, confirma a economista Sandra Biagioli, coordenadora do curso de Finanças Pessoais da Universidade Cidade de São Paulo.

Na prática, quem compra um título torna-se credor do governo - e só não vai receber o dinheiro de volta se o Brasil quebrar. “Os títulos estão ligados a operações do governo. Ele chega a ser mais seguro que a poupança”, diz Alexandre Chaia, professor de Finanças da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

O projeto de cobrança de Imposto de Renda das contas de poupança com mais de R$ 50 mil de saldo, a partir do ano que vem, promete aumentar a distância entre a caderneta e os títulos públicos. Com a tributação, os investidores precisarão decidir se vale a pena ficar na poupança ou buscar opções. “Quem tem menos de R$ 50 mil e está na poupança não deve se preocupar. Nada vai mudar”, ressalta Sandra.

Mas a aplicação em títulos públicos, mesmo em um cenário de queda da Selic, deve continuar mais rentável. Na hora de escolher, porém, é importante considerar o prazo que o dinheiro vai ficar aplicado.

A caderneta permite saques diários - por isso, é ideal para quem precisa complementar a renda do mês. Já os títulos públicos são recomprados pelo governo apenas às quartas-feiras. Se o investidor precisar do dinheiro em outro dia da semana, terá que esperar.

O investidor que vai precisar de todo o dinheiro em menos de um ano, por exemplo, também deve dar preferência à poupança. No caso dos títulos públicos, os ganhos são maiores no médio e no longo prazos.

“Mas tudo vai depender do prazo do título”, explica o economista Milton Sanchez, professor da Profins Business School. Nada impede que você compre títulos indexados à Selic com vencimento em 2010, por exemplo, e títulos ligados à inflação de olho na aposentadoria.”

SAIBA MAIS

PRAZOS

Todos os títulos públicos possuem prazos de vencimento. Ao comprar um título para 2024, por exemplo, você somente receberá o total aplicado naquela data

LIQUIDEZ

Nada impede, porém, que o investidor em títulos decida sacar seu dinheiro antes do
prazo. Todas as quartas-feiras o Tesouro Nacional recompra os títulos dos investidores. Ao vendê-los antes, você não terá todos os ganhos previstos

SAQUES

Na poupança, os saques podem ser feitos todos os dias. Por isso a liquidez é maior

TIPOS

As Letras do Tesouro Nacional (LTNs) são prefixadas: o investidor sabe, desde o início, quanto vai receber no final. Também pré-fixadas, as Notas do Tesouro Nacional-Série F (NTN-F) pagam juros a cada seis meses. Já as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) são atreladas à Selic. Os juros e o principal são pagos apenas no vencimento

As Notas do Tesouro Nacional - Série B (NTN-Bs) variam conforme a inflação e pagam um adicional de juros. A cada seis meses, o investidor recebe os juros em sua conta corrente. A NTN-B Principal, porém, só paga os juros e o
principal no fim do prazo

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