domingo, 6 de abril de 2008

Crédito agrava o vício de comprar

Jornal da Tarde
06/04/2008


Facilidade de pagamento e melhora do poder aquisitivo fazem crescer a compulsão por gastar

FABIO LEITE,
f.leite@grupoestado.com.br

Considerados dois dos principais estímulos da economia brasileira nos últimos anos, o aumento da oferta de crédito e a elevação do poder aquisitivo dos brasileiros também têm feito crescer o grupo de consumidores que perdem o controle sobre os gastos - os chamados compulsivos por compras. Especialistas alertam que a gastança excessiva e sem necessidade é uma doença que tem se tornado mais comum devido, principalmente, às facilidades de pagamento existentes.

Só o ambulatório voltado a compradores compulsivos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC), criado há um ano para atender a essa nova demanda de pacientes - hoje são dez em tratamento - , tem 40 pessoas na fila de espera. 'Esse aumento está associado, sem dúvida, às facilidades do acesso ao crédito. Essas pessoas normalmente têm baixa auto-estima e são facilmente influenciadas pela propaganda', diz a coordenadora Vanessa Filomenski.

Para a coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste) , Maria Inês Dolci, o quadro ficou ainda mais preocupante nos últimos cinco anos por conta da melhora no poder de compra das classes C, D e E - que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem subido anualmente 2% há quatro anos. 'A fartura de crédito faz com que muitos consumidores fiquem iludidos, principalmente aqueles que não tinham condições de comprar e hoje têm', diz.

Uma pesquisa de março da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) mostra que o porcentual de consumidores que se endividaram em razão do descontrole nos gastos subiu de 10% para 13% em um ano. Essa já é a segunda causa de inadimplência. Na esteira, números do IBGE revelam que a soma anual do consumo das famílias brasileiras saltou de R$ 1,1 trilhão em 2004 para R$ 1,5 trilhão no ano passado. O aumento de R$ 400 bilhões, aliás, corresponde à alta do volume de vendas do varejo brasileiro em 2007, que, segundo a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), cresceu 8% em relação no ano anterior.

Diagnóstico

A coordenadora do ambulatório de dependências não-químicas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Juliana Bizeto, afirma que é possível diagnosticar a compulsão com base em apenas três características do consumidor: se ele compra mais do que gostaria; se quer parar de comprar e não consegue; e se não usufrui do que comprou. A especialista ressalta que a compulsão atinge consumidores de todas as classes. 'O que muda é o objeto de compra', diz.

As mulheres são a maioria (60%) entre os que procuram tratamento. Já a média de idade é de 40 anos, embora a compulsão possa começar por volta dos 18 anos, quando os jovens passam a ganhar o próprio dinheiro. Juliana diz que quanto antes a pessoa fizer o tratamento, menores serão as chances de comprometer o patrimônio. 'A maioria das pessoas que nos procura está no nível avançado. Algumas já perderam o emprego, se divorciaram ou se endividaram muito, deteriorando grande parte do patrimônio por causa da compulsão.'

Por conta da dimensão do problema, a Pro Teste decidiu elaborar um questionário (veja ao lado) para que os consumidores descubram se são compulsivos. Se o número de respostas 'sim' superar dez, considere-se mais um refém do consumo e procure tratamento.

EVITE O EXAGERO

Defina prioridades e analise seu orçamento antes de consumir

Programe os gastos para pagar integralmente, sem se endividar

Pague as suas contas em dia para evitar multas

Se possível, negocie a data para o vencimento de suas dívidas

Se você tiver dívidas, tente quitá-las o quanto antes

Faça uma poupança para eventuais problemas financeiros

Não encare o limite do cheque especial como parte da renda

Observe as ofertas, mas não se deixe seduzir por elas

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