quinta-feira, 10 de abril de 2008

Aplicação garantida

Valor Econômico
Por Luciana Monteiro, de São Paulo
10/04/2008


Para muitos investidores, o melhor dos mundos seria poder investir na bolsa, mas sem o risco de perder pelo menos o que se aplicou. Sonho? Não, realidade. É cada vez maior o número de bancos que oferecem os chamados fundos de capital protegido. Antes restrita a grandes investidores, esse tipo de aplicação vem chegando aos poucos ao varejo. Bancos como Bradesco, por exemplo, já têm carteiras com aplicação mínima a partir de R$ 1 mil. Segundo dados do site financeiro Fortuna, os fundos de capital protegido somam patrimônio de R$ 2,250 bilhões até o dia 7. Há um ano, essas carteiras tinham apenas R$ 500 milhões.


A proteção cai bem num momento de mercado em que há a percepção de que a volatilidade aumentou. Quando lançados, esses fundos ficam abertos para aplicações durante um período. Depois, não é mais possível investir e o dinheiro tem de ficar aplicado de seis meses a um ano, em geral.


Simplificando, esses fundos funcionam como uma aposta: se o Ibovespa ou a ação subir, mas sem bater em determinado nível definido na hora da aplicação, o investidor leva o ganho todo. Se alcançar ou passar desse limite, porém, a aplicação vira uma renda fixa. E se o índice ou a ação cair, o aplicador leva o principal. Alguns fundos dão um prêmio de consolação, pagando ao investidor alguma coisa mesmo no caso de queda.


Nesses fundos, os gestores usam opções - contratos que dão o direito de comprar ou vender um ativo numa data específica, a um preço preestabelecido. São estratégias de vários tipos, com opções de bolsa, renda fixa, etc. Há também casos em que os gestores contratam um seguro para garantir o principal. O mais comum, no entanto, é o uso de opções.


E o número de fundos não pára de crescer. O HSBC lança hoje um multimercado que trabalha com sete cenários de retorno para o cotistas. É o sexto fundo de capital protegido criado pelo banco, com a família "Smart" somando R$ 377 milhões. A carteira HSBC Multimercado Smart Timing será voltada para investidores qualificados - com mais de R$ 300 mil para aplicar. Ele trabalhará com cenários em que o Ibovespa varia entre uma queda de 10% e um alta de 45%. O ganho do investidor vai depender do comportamento do índice nos 18 meses de duração do fundo.


A volatilidade está aqui para ficar e muitos investidores ainda não estão com visão de longo prazo, dados os altos resgates neste ano em multimercados, diz Pedro Bastos, diretor-geral da HSBC Investments. Segundo ele, assim como os primeiros fundos "Smart", que inicialmente foram lançados para os investidores mais abonados e depois para o varejo, esta carteira também poderá chegar ao investidor de menor porte.


Embora, à primeira vista, o investidor só tenha vantagens nesse tipo de aplicação, é preciso levar em conta que esses fundos têm gatilhos, tanto de alta quanto de baixa, que disparam a qualquer momento da aplicação - até mesmo durante o pregão. Com o mercado oscilando muito, a chance de o investidor sair só com os juros, sem os ganhos da ação no período, é grande. Isso representa um custo de oportunidade no caso de a bolsa se recuperar, pois os recursos estarão presos na aplicação.


A taxa de retorno se a aplicação bater as barreiras de alta ou baixa também pode ser menor daquela que o investidor teria com outros instrumentos de renda fixa no período. "O investidor precisa também ter a consciência que ele tem o custo da taxa de administração", lembra Osvaldo Salles, gerente-executivo de produtos de alta renda do Banco do Brasil. "Se o pior cenário se confirmar e o investidor ficar só com o principal aplicado, no fim, ele receberá menos, já que há os custos com a administração do fundo." O banco encerrou a captação de uma carteira desse tipo na semana passada. Mas, dentro de duas ou quatro semanas, lançará outra. Segundo o Fortuna, o BB é o maior gestor de fundos de capital protegido, com R$ 785,5 milhões.


No fim de março, o Safra criou uma carteira batizada de "Blue Chip", que divide os recursos em outros dois fundos, um só de Petrobras e outro só de Vale, ambos com proteção de principal. Se no vencimento, em 31 de julho do ano que vem, um deles tiver caído e o outro subido, o investidor recebe 90% do ganho da ação em um e o principal aplicado no outro que perdeu. Já se uma das duas ações subir e bater 45% em algum momento, o fundo torna-se um renda fixa, com ganho de 18% ao ano, além dos 90% do retorno do outro fundo que não estourou o limite. Já se os dois estourarem o limite de 45% de alta, o investidor fica com a taxa prefixada nos dois. Mas, se tanto Petrobras quanto o Vale caírem, o investidor leva o principal nos dois.


Esta é a segunda carteira com capital protegido lançada pelo Safra neste ano. Ela, no entanto, já está fechada para captação. Mas, de acordo com Carlos Alberto Torres Melo, diretor da asset do Safra, a intenção do banco é oferecer fundos desse tipo a cada dois meses ou até a cada 45 dias. "Em função da alta volatilidade, é grande a demanda por carteiras em que o investidor tem certeza que receberá pelo menos o que investiu de volta, mesmo aplicando na bolsa", diz. Pelos dados do Fortuna, o Safra tem R$ 217,9 milhões em fundos de capital protegido.


O ABN Amro encerrou no início do mês a captação do fundo Real Capital Protegido 2. Nele, se a bolsa subir até 35% num período de 15 meses, o investidor ganha 100% da variação do Ibovespa. Se superar, fica com o equivalente a 123% do CDI. Já se o índice cair até 20%, o aplicador recebe o percentual como ganho, ou seja, se cair 10%, tem um retorno de 10%. Mas se cair mais de 20%, o investidor recebe o principal aplicado. "Esse é um tipo de fundo que joga com a aversão a perdas do investidor, pois estudos mostram que ele não teme o risco, mas os prejuízos", diz Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais da ABN Amro Asset Management, que tem R$ 37,8 milhões em carteiras de capital protegido. Para o varejo, o banco já fez três tranches de captação para o Estratégia Segura, que conta com seguro acoplado.


Já o Bradesco tem quatro fundos multimercados com capital garantido, todos com prazo renovável automaticamente a cada 63 ou 84 dias, conforme a carteira. Após esse período, o investidor que não pede resgate tem a sua aplicação renovada. Já aqueles que querem entrar têm algumas "janelas", alguns dias para aplicar. "Em momentos de alta volatilidade, essas carteiras aparecem como opção para quem quer correr riscos, mas proteger o capital", diz Herculano Anibal Alves, superintendente executivo da Bradesco Asset Management (Bram) que, segundo o Fortuna, tem R$ 228,7 milhões em capital protegido.

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