domingo, 1 de maio de 2011

Um clube para investir


01/05/2011

TETÊ MONTEIRO

Os clubes de investimentos são considerados a porta de entrada no mercado de ações para quem não tem tanta folga no orçamento ou mesmo para os aplicadores que não dispõem de tempo e conhecimentos suficientes para fugir das armadilhas das aplicações em renda variável. O certo é que a modalidade vem ganhando robustez na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa). Atrai, a cada dia, a atenção de mais e mais pessoas. Só em março, foram abertos 38 clubes no centro financeiro paulista. Hoje, são mais de 131 mil cotistas distribuídos em 3.008 grupos, que movimentaram patrimônio líquido de R$ 10,97 bilhões até fevereiro.
Para efeito de comparação, os números consolidados de 2010 somaram 3.054 registrados de clubes na BM&FBovespa, com ativos que atingiram R$ 11,39 bilhões.
Se a modalidade é a ideal para animar o investidor que quer aplicar pouco em ações — e, ainda assim, ter uma carteira diversificada —, o mais importante é saber quem vai cuidar do dinheiro. O primeiro passo ao aderir a um clube de investimentos é verificar se a corretora ou a instituição financeira que vai administrá-lo está cadastrada na bolsa. Seja uma pessoa ou uma empresa, o gestor do clube também tem que estar inscrito na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) — outra exigência legal. Caso contrário, não é recomendável correr riscos. Aplicar com quem não tem autorização é certeza de problemas.
“Na prática, o gestor é o ‘dono’ do clube. É ele que define a hora de comprar ou vender as ações”, explica Juliano Lima Pinheiro, superintendente da Petra Corretora. A seu ver, a procura pelos clubes de investimentos voltou a se acentuar depois da crise mundial de 2008. Na semana passada, a CVM editou novas regras para essa modalidade de aplicação, que foram muito bem recebidas pelo mercado, como a limitação do número de participantes — uma redução de 150 para 50 pessoas. “O clube com 150 pessoas, na verdade, era um fundo disfarçado”, diz Pinheiro.
Rentabilidade
Luiz Gustavo Lage, operador de bolsa da Sita Corretora, destaca que o investidor tem que acreditar no clube que está participando. “Se há rentabilidade acima do mercado, é preciso desconfiar”, aconselha. Uma das principais vantagens da modalidade, na sua opinião, é a diversificação do risco: “O pequeno poupador não consegue isso, pois com pouco dinheiro vai conseguir comprar apenas um papel”. Para ele, um dos motivos que justifica a volta da procura por essa modalidade é o bom desempenho dos clubes — eles vêm batendo o Ibovespa, o principal índice de variação de ações da bolsa paulista.
Na Sita, o investidor Marcelo Coelho, 27 anos, não titubeou ao aderir a um clube criado por colegas de trabalho. “Estou investindo há quatro anos. É a minha aposentadoria. Tem meses que aplico R$ 400, em outros R$ 1 mil. Isso me dá liberdade”, diz. Para ele, outro motivo positivo é a aproximação com quem dirige a aplicação. “Não tenho conhecimento suficiente para operar no mercado acionário. Se tenho dúvidas, consigo falar (com o gestor). O melhor é que já deu para ter um bom ganho”, relata. Em clubes de investimentos, o pouco de cada um ganha força com o volume investido por todos os cotistas.
PASSO A PASSO
Como criar um clube de investimento
1º - É fundamental procurar uma corretora para ficar por dentro das regras ao abrir um clube. A instituição também vai ser responsável pela orientação na escolha dos papéis a serem comprados e por qualquer operação realizada pelos aplicadores.
2º - Definir a quantidade e do valor de cada cota do clube é o passo seguinte. A atribuição é dos próprios participantes, que decidem quantas cotas e o volume em dinheiro que cada um vai investir. Pelas regras atuais, nenhum investidor pode ter mais de 40% do valor aplicado.
3º - Prepare um estatuto do clube junto à corretora escolhida . É necessário que cada participante tenha um cadastro, incluindo cópias de seus documentos.
4º - Com toda a documentação e os dados corretos, o clube precisa ser registrado na BM&FBovespa e na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
5º - Depois do registro, o clube pode começar a operar. Os membros do decidem aonde o dinheiro vai ser investido. A corretora escolhida vai realizar a transação. O ideal é que, periodicamente, o clube realize assembleias para decidir estratégias de aplicação. Pelas novas regras da CVM, é obrigatório esse tipo de reunião pelo menos uma vez ao ano.
Fonte: BM&FBovespa

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Previdência além da aposentadoria


28/04/2011

 

Alessandra Bellotto e Antonio Perez | De São Paulo

Nem seguro de vida nem previdência, mas uma espécie de seguro com previdência. Esse foi o plano que uma investidora adquiriu do Bradesco, na fila de uma agência bancária, por impulso, após ter sido abordada por uma atendente do banco.

Na hora do investimento, ela, influenciada pela fala da atendente, pensou ter adquirido um plano de previdência de perfil tradicional para seus filhos, com débito em conta corrente de cerca de R$ 80 por mês. Seis anos depois - quando atentou para a possibilidade de deduzir contribuições previdenciárias da base de rendimentos tributáveis -, descobriu que o plano misturava seguro com previdência, e não permita abatimento do Imposto de Renda. E decidiu sacar tudo.

Mas, depois de contribuir com cerca de R$ 6,2 mil, ela conseguiu retirar R$ 5,2 mil. A diferença refere-se ao custo relativo à cobertura do risco de morte do participante pelo período em que manteve o plano. Na verdade, o que a investidora comprou foi um pecúlio resgatável, ou seja, um plano de previdência para cobrir risco, e não de acumulação para aposentadoria.

Revoltada, a investidora, que prefere não ter seu nome citado, diz que o banco não lhe explicou corretamente as características do plano. "Eles me venderam como previdência, mas só se for previdência divina, porque eu teria que morrer para meus filhos receberem o valor total", desabafa. A investidora, contudo, confessa que, no momento da aquisição do plano, não prestou a devida atenção. "Achei que um plano de previdência para os meus filhos era uma coisa interessante e, como R$ 80 por mês não iam "pesar" no meu orçamento, acabei aceitando", diz.

O plano era um pecúlio no qual, em caso de morte do participante, um determinado valor é pago a um ou mais beneficiários indicados. Não se trata do valor contribuído, mas segurado - no caso da investidora, girava em torno de R$ 60 mil. Em geral, o pecúlio é pago ao beneficiário de uma vez. Na Bradesco, esse tipo de plano, batizado de Multiplano Geração 2, é vendido desde 1988 e cobre morte acidental a partir da contratação e morte por qualquer causa após carência inicial de 24 meses. O pecúlio pode ser pago também como renda programada por até 120 meses.

Após 24 meses de contribuições, se o participante, por algum motivo, não tiver mais interesse no benefício do pecúlio, poderá optar por sair do plano e, aí sim, receber um percentual de todas as suas contribuições. "Isso acontece quando a cobertura do risco de morte deixa de fazer sentido", explica o diretor-presidente da Bradesco Vida e Previdência, Lúcio Flávio de Oliveira. Não se resgata tudo porque parte do dinheiro vai para o carregamento do risco. "No seguro de vida tradicional, não há a possibilidade de resgate das contribuições", acrescenta.

Simulação feita pela seguradora mostra que, se uma mulher de 30 anos fizesse um pecúlio resgatável com capital segurado de R$ 200 mil, contribuiria com uma mensalidade de R$ 176,00. Após 60 meses, sem considerar correção pelo índice de preços (para facilitar a simulação), teria contribuído com R$ 10.560. Se resolvesse resgatar, teria de volta com R$ 7.280. A diferença, de R$ 3.280, refere-se ao valor efetivamente destinado à cobertura do risco. Se distribuído nos 60 meses, esse valor corresponderia a uma mensalidade de R$ 54,66.

Num seguro tradicional com o mesmo capital segurado (R$ 200 mil), compara Oliveira, o prêmio mensal sairia em torno de R$ 85,00. E sem a possibilidade de resgate em vida. Segundo o executivo, o pecúlio resgatável é uma espécie de poupança que cobre risco de morte.

Na Bradesco, o valor mínimo de contribuição é de R$ 30,00 mensais ou de R$ 3 mil para aporte único. Tanto a cobertura como o valor da contribuição são corrigidos pelo IGP-M. O participante ganha ainda o direito de participar de um programa de relacionamento da seguradora, concorrendo mensalmente a cinco prêmios em dinheiro, num total de R$ 50 mil.

No ano passado, a Bradesco Vida e Previdência vendeu 223 mil propostas do pecúlio resgatável, que representaram uma arrecadação de R$ 80,62 milhões. A arrecadação média mensal foi R$ 6,72 milhões, e o valor médio por proposta, de R$ 361,26. Também em 2010, a Bradesco pagou R$ 54,33 milhões de pecúlio a 1.194 beneficiários, um valor médio de R$ 45,51 mil por beneficiário.

Oliveira destaca que a previdência vai além dos planos de acumulação para aposentadoria, os tradicionais PGBL e VGBL. Há os planos para cobertura de riscos, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), entre eles o pecúlio por morte, com ou sem resgate em vida, ou pecúlio por invalidez. Nesse último caso, o dinheiro é pago ao próprio participante em decorrência de invalidez total ou permanente.

Outras modalidades de plano para risco são a pensão por morte, em que um beneficiário passa a receber uma renda no caso de morte do participante, e a pensão por invalidez, em que a renda é paga ao próprio participante.

Nos planos de aposentadoria, como o PGBL e o VGBL, as contribuições dos participantes são aplicadas em um fundo de investimento para ser "engordadas" até que se atinja a fase do benefício da aposentadoria. Nesse momento, o participante pode optar por resgatar o patrimônio acumulado ou receber uma renda temporária ou vitalícia.

O dinheiro a ser recebido vai depender de fatores como rentabilidade do fundo de investimento e custos envolvidos como taxas de carregamento (uma espécie de corretagem cobrada sobre as contribuições) e de administração da carteira. No caso de conversão do patrimônio em renda, é preciso observar ainda a tábua biométrica, usada pela seguradora para calcular a expectativa de vida do participante, e a taxa de juros, base para calcular a previsão dos rendimentos futuros.

No PGBL, as contribuições podem ser deduzidas até o limite de 12% da renda bruta anual para quem faz a declaração completa de Imposto de Renda. A tributação ocorre no momento do resgate ou recebimento de benefício e incide sobre o valor total recebido. O VGBL, apesar de ter a mesma função de acumulação de recursos para a aposentadoria, é na verdade um plano de seguro de pessoas com cobertura por sobrevivência. Como ele não permite a dedução das contribuições do imposto de renda, a tributação, também no momento do resgate ou recebimento de benefício, incide somente sobre os rendimentos obtidos.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Reserva de títulos da Caixa vai até sexta


25/04/2011

 

Os investidores que quiserem participar da operação de securitização da Caixa Econômica Federal têm até sexta-feira para fazer a reserva. O banco transformou parte de sua carteira de crédito imobiliário em um título para venda no mercado de capitais.

Esta é a primeira vez que os certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) estão disponíveis para o varejo. Os títulos, que têm como benefício principal a isenção de Imposto de Renda, serão remunerados por uma taxa fixa de 10% mais TR (Taxa Referencial) ao ano.

Os papéis têm valor unitário de R$ 1 mil, mas os investidores precisam de aplicação mínima de R$ 10 mil. Se a procura for maior que a oferta, cada um receberá menos títulos do que o reservado.

sábado, 23 de abril de 2011

O mundo vendeu, eles compraram

Revista Exame
16/04/2011

Os investidores que fizeram pequenas fortunas durante a crise de 2008 ao aplicar quase tudo o que tinham em ações
Thiago Bronzatto

O assessor financeiro André Machado, de 43 anos, ficou milionário durante a crise de 2008. Enquanto a maioria dos investidores - de fundos de hedge e de pensão internacionais a pequenos poupadores - corria para aplicações ultraconservadoras, ele colocou 100000 reais, um terço do que tinha no banco na época, no arriscadíssimo mercado futuro de opções. Seu objetivo era apostar na queda das ações da Vale. Se errasse, poderia perder ainda mais do que havia aplicado. Como acertou - o valor de mercado da mineradora caiu pela metade em poucos meses -, ganhou 150000 reais. Quando achou que as ações da Vale haviam chegado ao fundo do poço, no" fim de 2008, investiu 150000 reais na empresa, e embolsou mais 350000 reais. "Comprei um carro de luxo e reformei toda a minha casa com o que ganhei", diz Machado, que passou quase um ano acordando às 4 horas da manhã para acompanhar as ações das principais concorrentes da Vale, a BHP Billiton e a Rio Tinto, listadas na bolsa de Londres, e decidir o que faria com seu investimento aqui. "Nunca sabia com que surpresa eu acordaria, porque o mercado estava muito volátil. Mas achava que tinha uma chance única de ganhar bastante dinheiro", diz.
Olhando pelo retrovisor, parece óbvio que os últimos meses de 2008 eram o momento ideal para aplicar mais em ações. O Índice Bovespa caiu para 29435 pontos, o menor patamar em três anos, e dezenas de empresas passaram a ter valor de mercado inferior à soma de seus ativos - o que, na matemática que rege o mercado acionário, significa que estavam extremamente baratas. Investir quando o pessimismo está no auge é um dos conselhos mais repetidos pelos consultores financeiros -no século 19, quando a Europa estava mergulhada em guerras, o barão Nathan Rothschild, um dos maiores banqueiros da história, disse que "a hora de comprar é quando o sangue corre pelas ruas". O problema é que, em meio ao caos que tomou conta do mercado no final de 2008, boa parte dos especialistas fechou os livros de finanças e não recomendou a seus clientes que aplicassem mais na bolsa. Primeiro, porque havia o risco real de ver as ações desvalorizar ainda mais. Segundo, por um aguçado instinto de autoproteção. "Estávamos sendo processados por investidores que diziam que os havíamos induzido a arriscar demais antes da crise. Tínhamos de ser conservadores", afirma Peter Weiss, dono da corretora SLW. A maioria dos investidores abandonou o mercado de ações naquela época: os estrangeiros sacaram 25 bilhões de reais da Bovespa, o volume de negócios da bolsa caiu 40% e quase 30000 pessoas físicas venderam todos os papéis que tinham.
O sangue, portanto, estava nas ruas.
"Meus amigos diziam que eu estava louco, mas, para mim, ninguém é mais habilidoso que banqueiro para ganhar dinheiro. Por isso, apostei na retomada desse setor", diz Júlio Sergio Cardozo, ex-presidente da consultoria Ernst & Young Terco no Brasil. No fim de 2008, ele aplicou 1 milhão de reais em ações de bancos estrangeiros, como Citi e Deutsche Bank, que haviam caído mais de 40%. Também investiu em papéis de instituições brasileiras, como Banco do Brasil e BicBanco, que estavam em baixa em razão do temor generalizado em relação aos bancos. Ganhou 1,1 milhão de reais, e mantém boa parte do lucro aplicada nos mesmos papéis. "Minha carteira ainda tem potencial, principalmente com a retomada da economia americana", diz. O dono de uma consultoria de investimentos de São Paulo conta que vendeu seu carro e o da mulher para investir em papéis de grandes companhias, como Gerdau, vale e Itaú, em outubro de 2008. "No escritório, organizávamos espécies de grupos de investimento toda semana: cada funcionário dava uma quantia para fazermos grandes,aplicações na bolsa. Depois dividíamos o lucro de acordo com o que cada um havia colocado. Até a faxineira ganhou dinheiro", diz ele.
INTUIÇÃO
A melhor explicação para o comportamento dos investidores durante a crise
de 2008 vem de estudos de uma área relativamente nova da economia, a psicologia financeira. No livro O Espírito Animal, o americano Robert Shiller, professor da Universidade Yale e um dos maiores estudiosos do tema, diz que
é a intuição, e não o pensamento racional, que influencia as decisões econômicas da maioria das pessoas. "Ainda que achassem que a queda das ações era exagerada, muitos investidores decidiram simplesmente seguir seus instintos e vender, como a maioria estava fazendo", diz Vera Rita de Mello Ferreira, principal especialista brasileira em psicologia econômica. "É uma reação comum durante as crises." Para tentar evitar esse tipo de armadilha, investidores experientes costumam criar uma rotina de aplicações para ser seguida qualquer que seja a situação do mercado. É o que faz o microempresário mineiro Antonio Marcos. Sua regra é colocar 80% do patrimônio em ações quando a bolsa está em queda, e reduzir o valor para apenas 20% se houver valorização. A grande tacada de Marcos na crise foi aplicar 500000 reais em ações ordinárias da fabricante de papel e celulose AraCnIZ em outubro de 2008, quando os papéis custavam 5 reais e a empresa tinha acabado de naufragar devido a operações desastradas com derivativos exóticos. Vendeu tudo três meses depois, com lucro de 130%.
Hoje, esses três investidores que fizeram pequenas fortunas após a quebra do banco americano Lehman Brothers têm aplicado de forma mais conservadora. André Machado, que já voltou a dormir a noite toda, passou a diversificar sua carteira de ações e a fazer investimentos de curto prazo: em meados de abril, comprou papéis da BM&F Bovespa e da Usiminas. Para ele, essas ações estão baratas em relação à média de seus setores. Antonio Marcos está com quase todo o patrimônio aplicado em CDBs de grandes bancos e títulos públicos para se proteger da inflação. Na opinião dele, quase todas as ações de empresas brasileiras estão caras. Além de manter os papéis de bancos comprados durante a crise, Júlio Cardozo divide seu patrimônio em fundos de ações e de renda fixa. "Está mais difícil ganhar dinheiro na bolsa agora", diz.
Entre os grandes investidores institucionais, os que mais ganharam dinheiro nos últimos três anos foram os que fizeram apostas dealtíssimo risco. O maior exemplo é o gestor americano John Paulson. Desconhecido antes da crise de 2008, ele embolsou 4 bilhões de dólares - o maior bônus já pago em Wall Street até então - ao apostar na falência das hipotecas subprime nos Estados Unidos quando esse segn1ento estava em ascensão. No ano passado, bateu seu próprio recorde e ganhou mais 5 bilhões de dólares, obtidos com investimentos pesados feitos no mercado de ouro. "São números que impressionam, mas é importante lembrar que foi esse tipo de investidor, que toma riscos muito acima da média, que ajudou a provocar a crise de 2008", diz David Laibson, professor de economia e psicologia na Universidade Harvard. "Existem pesquisas que mostram que 70% dos investidores extremamente agressivos, aqueles que compram ações de empresas em dificuldades esperando que elas se recuperem, perdem tudo ou quase tudo o que aplicaram alguns meses depois." Em 2005, André Machado teve um prejuízo de 200000 reais ao apostar na valorização das ações da empresa de telefonia Telemar no mercado futuro. Ele achou que ficaria milionário naquela época, mas acabou mergulhado em dívidas. Sua estratégia deu certo em 2008. O desempate fica para a próxima crise.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Saiba como investir seu dinheiro na compra de títulos públicos

Folha de São Paulo

11/04/2011


FINANÇAS PESSOAIS

MÁRCIA DESSEN


Você venceu a primeira etapa do planejamento financeiro pessoal e como mantém o orçamento sob controle, consegue poupar parte de sua receita criando uma saudável reserva financeira, além de acumular recursos para atingir objetivos futuros.
Provavelmente a caderneta de poupança foi, acertadamente, o seu primeiro investimento. Mas, à medida que tomou gosto pelo hábito de poupar e observa o crescimento do capital, fruto da disciplina e dos juros que recebe, é natural seu interesse por outras alternativas de investimento.
Além da diversificação, o investidor busca rentabilidade competitiva com baixo risco. O Tesouro Direto é uma opção que deve ser analisada com carinho.

RISCO
O governo gasta mais do que arrecada e precisa captar recursos para zerar seu fluxo de caixa. Faz isso com a venda de títulos que representam uma dívida do governo perante o investidor, que aceita emprestar dinheiro para o governo em troca do recebimento de juros pelo prazo definido da operação.
Portanto, o risco do investidor é o risco de crédito, ou seja, o risco de o governo federal não devolver seu capital na data do vencimento do empréstimo. Qual é a probabilidade de ocorrer o risco? Baixíssima. É que os títulos públicos são considerados os mais seguros do mercado.

RENTABILIDADE
Você escolhe a rentabilidade de acordo com seu objetivo de investimento, seu horizonte de tempo e sua expectativa em relação aos rumos da economia.
Se seu horizonte de tempo for relativamente curto, procure uma das Letras do Tesouro. A LTN (Letra do Tesouro Nacional) paga taxa de juros prefixada e é adequada para quem quer saber exatamente quanto vai ganhar e tem a expectativa de queda das taxas de juros.
A LFT (Letra Financeira do Tesouro) é mais adequada para quem tem expectativa menos otimista e acha que pode ocorrer a alta da taxa de juros praticada no mercado. A rentabilidade da LFT é a variação da taxa Selic. Se a média da taxa Selic durante o prazo da operação for 11%, o investidor receberá 11%; se for 13%, receberá 13%.
Se seu horizonte de tempo for mais longo, procure pelas Notas do Tesouro, que se caracterizam por pagar cupom de juros semestralmente.
A NTN-B paga a variação do IPCA mais cupom de juros. É ideal para quem deseja proteger o capital investido contra a possível alta da inflação.
Se você não quer receber os juros semestrais e prefere capitalizar esses juros, compre a NTN-B Principal, que paga a variação do IPCA e a taxa de juros somente na data de vencimento. A NTN-F é um título de taxa prefixada que credita semestralmente a taxa de juros do cupom do título.
Ambas, NTN-B e NTN-F, são indicadas para quem precisa reforçar o fluxo de caixa semestralmente, com o recebimento de juros.

LIQUIDEZ
O Tesouro realiza compras semanais, às quartas-feiras, permitindo que o investidor venda todo ou parte de seu investimento, recuperando o capital desejado antes do vencimento. As taxas são divulgadas no mesmo portal.

COMO INVESTIR
Para operar nesse mercado, abra uma conta em uma corretora, que fará a intermediação entre você e o Tesouro Direto. Consulte no site do Tesouro quais são e quanto cobram as corretoras credenciadas.

CUSTOS E TRIBUTOS
Corretora: livre negociação, de zero a 1% ao ano. CBLC: taxa de custódia de 0,3% ao ano. q Imposto de Renda: alíquota entre 22,5% e 15%, definida em função do prazo da operação. No site da Receita Federal (www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto) há mais informações.

MARCIA DESSEN, Certified Financial Planner, é sócia e diretora-executiva do BMI Brazilian Management Institute, professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.

domingo, 27 de março de 2011

Rendimento do CDB pode ser inferior ao da caderneta de poupança


27/03/2011

Bancos diferenciam os valores aplicados e pagam menos aos pequenos investidores

Fábio Monteiro

Várias instituições financeiras definem o Certificado de Depósito Bancário (CDB) — título emitido pelos bancos que tem o objetivo de captar recursos para serem empregados na concessão de empréstimos e financiamentos — como uma das aplicações mais seguras entre as opções existentes no mercado. Mas a operação requer atenção do cliente a detalhes que, se não observados, podem acabar com a atratividade do investimento, resultando em rendimentos inferiores aos de outras modalidades, como a caderneta de poupança.
O cliente que optar pela contratação de CDB deve, antes de mais nada, analisar se a modalidade é a mais compatível com o atual momento econômico. O volume a ser investido é fundamental para determinar o sucesso da aplicação. Segundo especialistas, valores inferiores a R$ 100 mil têm rendimento menor do que as alternativas de renda fixa.
O educador financeiro Álvaro Modernell lembra que o CDB, como toda aplicação muito segura, possui baixa rentabilidade. Apesar disso, ele pode ser interessante para quem tiver capital e disposição para negociar. “É bom que o cliente nunca aceite a primeira oferta, principalmente se estiver investindo uma grande quantia”, avalia.
Na análise de Modernell, o resgate antes do tempo contratado junto ao banco também não é interessante e, por isso, é bom que o cliente não crie expectativas a curto prazo com relação ao dinheiro. “Quanto maior o prazo estabelecido para receber os dividendos, melhor. Algumas pessoas contratam um CDB de curto prazo para receber logo o dinheiro e, em seguida, firmam novo contrato. Mas fazer isso é perder dinheiro, pois cada renovação gera juros menos vantajosos”, afirma. Para o educador financeiro, o ideal é que, caso o dinheiro seja destinado exclusivamente a investimentos, o poupador feche um contrato com prazo mais longo, que terá rendimentos melhores que aqueles com renovação constante.
Custo
Para as instituições bancárias, o custo operacional de quem está investindo R$ 3 mil ou R$ 300 mil é o mesmo. Por isso, a disposição com as pessoas que aplicam mais recursos tende a ser maior. “É importante que o consumidor entenda que o banco precisa do dinheiro e vai ter gastos na operação. Com isso em mente, o cliente pode focar suas energias em barganhar opções interessantes durante a negociação”, explica Modernell.
O consultor em finanças Alexandre Lignos explica que estudar as diversas opções e as expectativas pessoais é um ótimo passo antes de decidir qual caminho deve ser seguido. “O investidor precisa fazer uma autoavaliação para saber o que espera da aplicação. Quem tem muito dinheiro e uma postura mais agressiva nos negócios com certeza vai ficar insatisfeito”, destaca. Lignos afirma que até o horário da negociação pode ser relevante. “Pela manhã, os bancos procuram captar recursos para repassarem ao longo do dia. Então, a chance de conseguir melhores taxas são maiores”, explica.
Lignos ainda destaca que estudar a saúde financeira da instituição na qual o CDB é contratado pode ser uma medida de segurança bastante válida. “É muito bom para o cliente quando ele consegue negociar boas taxas. Mas se o banco pagar um valor alto demais, muito fora do padrão de mercado, isso pode significar que a instituição está precisando de recursos, tornando a operação um pouco arriscada. Isso pode acontecer principalmente com bancos menores”, revela. Para o consultor, apesar de o risco ser baixo, a aplicação precisa ser acompanhada com seriedade. “Investimento não é para tentar a sorte, é para crescer financeiramente”, comenta.
Escolha
Basicamente, existem duas opções de contratação do título: com rendimentos pré-fixados ou pós-fixados. A escolha deve levar em conta a conjuntura econômica do momento. Se a taxa básica de juros (Selic) está estagnada ou com tendência de queda, a opção mais adequada é fechar o valor do rendimento no ato da contratação. Já em um cenário com alta de juros, fica mais interessante contratar a modalidade no pós-fixado, quando o pagamento é feito de acordo com a taxa Selic referente ao dia do vencimento do título. Atualmente, a tendência da taxa básica de juros é de alta.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Dívida "saudável" inspira cuidados

Correio Braziliense

21/03/2011

A estabilidade monetária e o desemprego em baixa estimulam os trabalhadores a fazer empréstimos ou a parcelar compras de bens duráveis, em especial carros e imóveis, para construir um patrimônio. Mas é preciso estar atento às armadilhas, como os juros altos
Luciano Pires


A estabilidade econômica fez o brasileiro perder o medo de se endividar. Há quase duas décadas convivendo com taxas de inflação relativamente civilizadas e, nos últimos anos, com níveis de desemprego controlados, famílias e jovens espremem o orçamento doméstico com carnês e financiamentos a perder de vista. As prestações fazem parte da rotina de quem sonha em morar no que é seu, daqueles que trocaram o ônibus pelo carro ou dos que apenas investem hoje para colher amanhã.

Essa última classe de pessoas tem se destacado. São assalariados que, apesar dos juros altos e de alguma incerteza futura, preferem sacrificar parte da renda em troca do conforto que a ideia de ser dono de algo caro traz. É o chamado “endividamento saudável”, fenômeno típico de economias que ficaram marcadas no passado por longos períodos de estagnação, que ainda não amadureceram, mas que caminham a passos ligeiros rumo ao seleto clube das nações ricas.

Preocupado com o futuro, o servidor público Marcos Vieira Baeta Neves, 29 anos, financiou seu primeiro imóvel em 360 vezes, o equivalente a 30 anos. “Há um tempo, isso era uma ideia distante de mim, mas venho juntando dinheiro e consegui dar entrada e dividir o restante”, comemora. O apartamento, em Águas Claras, deve ser ocupado depois que a dívida for quitada. “Moro em uma república e alugo o meu imóvel, por enquanto. Só que eu penso em me casar e ir para lá.” Ele paga uma prestação de R$ 2 mil e recebe R$ 1,3 mil do locatário. “É um prejuízo de R$ 700 por mês. Espero que valha a pena.”

Neves diz que, por causa da valorização imobiliária, viu-se obrigado a fechar o negócio antes do previsto. “Os preços estão subindo muito rapidamente. Fiquei com medo de deixar para depois e pagar um absurdo”, explica, ressaltando que o mercado no Distrito Federal é um dos mais dinâmicos do país. Empolgado com o projeto pessoal, ele não esconde a satisfação.

O economista Luiz Carlos Ewald, autor do livro Sobrou dinheiro: lições de economia doméstica, alerta para os perigos do endividamento sem controle. “Muitos dizem que alugar é jogar dinheiro fora. Mas, na verdade, os juros também não têm retorno. A pessoa paga R$ 300 mil em um apartamento que vale R$ 200 mil, no máximo. Com carro, é a mesma coisa. Na ponta do lápis, andar de táxi é mais barato do que ter um automóvel. Não tem seguro nem despesas com manutenção. Essas pequenas despesas o comprador não leva em conta na hora de somar”, adverte.

Inadimplência
Ewald afirma que o comprador deve ter consciência de que o bem só passa a ser dele após a amortização do financiamento. “O número de imóveis que voltam para o banco por inadimplência é muito grande, principalmente na classe C. Se a pessoa comprou uma casa em 20 anos e só pagou cinco, ainda não é dona dela”, indica. Para ele, o endividamento é válido no ponto de vista comportamental. “Se o comprador contrai uma dívida, mas se programa para pagar em um prazo, ele é precavido, embora tenha que pagar juros exorbitantes. Pode ser a realização de um sonho”, contrapõe. “É preciso avaliar a compra.”

A corrida para formar patrimônio, no entanto, tem consequências. Seis em cada 10 brasileiros têm contas vencendo todo mês. Especialistas culpam a farta oferta de crédito como a principal alavanca para o endividamento, que não para de crescer. Dados do Banco Central apontam para um volume de R$ 208 bilhões em dívidas só com o cheque especial. Outros R$ 188 bilhões irrigam linhas de crédito para automóveis. O cartão de crédito responde por R$ 30 bilhões, enquanto o cheque especial deixa em apuros pessoas que devem R$ 18 bilhões.

É o caso do servidor Arcelino Alves da Costa, 56 anos, que se enrolou na hora de comprar a casa própria. “Peguei três empréstimos e financiei o restante na Caixa Econômica Federal. Vou morrer sem terminar de pagar as prestações”, lamenta. “Nunca pensei que seria possível. Tenho medo de que a economia volte a oscilar. Antes não havia prestação fixa.” Costa trata o investimento como herança. “Fiz malabarismo para conseguir comprar o apartamento, mas meus filhos não ficarão desamparados.”

O educador financeiro Mauro Calil explica que a maior parte da população extrapola os limites recomendáveis de endividamento contando que a compra de bens de alto valor agregado são investimentos que, mais cedo ou mais tarde, terão retorno. Na avaliação do analista, cada caso é um caso. “O mundo das finanças tem dois lados: aquele de quem paga e aquele de quem recebe juros. E os juros retardam a formação de patrimônio”, ensina.

Distorções
Autor do livro A receita do bolo, que ensina a enriquecer com disciplina, o educador financeiro Mauro Calil lembra que o desejo de consumo reprimido nas pessoas que conviveram com a hiperinflação distorceu conceitos econômicos básicos. “Patrimônio ativo é aquilo que gera renda. Um imóvel nem sempre é um ativo. Depende se está alugado, se valorizou”,diz. O especialista adverte que casas e apartamentos financiados só passam a ser da pessoa após paga a última prestação.


Para aliviar o orçamento

» Pagar à vista é sempre a melhor opção

» Se for financiar a compra de algum bem, o ideal é negociar juros menores

» Imóveis na planta são mais baratos, mas é importante negociar, já que eles carregam maior risco

» Uma regra básica é não comprometer mais que 30% da renda familiar com dívidas de cartão, cheque especial e prestações

» Na hora de refinanciar a dívida, livre-se dos juros antes de tudo

» Coloque todas as despesas na ponta do lápis e não perca o controle

» Faça uma análise e veja se estará preparado para cobrir as prestações no prazo prometido

» Quando possível, poupe

Fonte: especialistas ouvidos pelo Correio
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