terça-feira, 20 de abril de 2010

Wall Street é aqui

Valor Econômico

20/04/2010

Em breve, os investidores brasileiros poderão negociar aqui ações de grandes companhias americanas. Até o fim deste semestre, a Bovespa pretende acertar os últimos ponteiros para a negociação de Brazilian Depositary Receipt (BDRs - recibos de ações de empresas estrangeiras negociados no Brasil) não patrocinados, ou seja, trazidos por instituições financeiras, e não pela própria companhia emissora.

A medida é parte de um projeto maior da Bovespa, de aumentar o leque de produtos de renda variável. Além dos BDRs, serão criados formadores de mercado ( " market makers " ) para opções tanto do Índice Bovespa quanto das principais ações do referencial. No mercado de opções, o investidor negocia o direito de compra ou venda de um ativo por um determinado preço em uma data futura. O terceiro projeto são novos fundos de índice com cotas negociadas em bolsa (ETF, na sigla em inglês).

Nos três casos, a bolsa vai abrir concorrência para escolher a instituição financeira que vai tocar o produto. Tanto nos ETFs quanto nos BDRs, ganha quem garantir o maior volume de negócios. Já no caso dos formadores de mercado, ganha a instituição que se comprometer com o maior volume e a menor diferença de preço ( " spread " ) entre as ofertas de compra e de venda.

As negociações dos BDRs são as mais adiantadas. Cada instituição trará um pacote com dez empresas diferentes para serem negociadas. O primeiro acordo já está fechado e será divulgado em breve, disse ao Valor o diretor de renda variável da BM&FBovespa, Júlio Ziegelmann, que não quis revelar o nome do parceiro. Nesse primeiro acordo não houve concorrência, uma vez que a instituição ajudou a bolsa a estruturar a negociação, assim como ocorreu com a banco Barclays na montagem dos primeiros ETFs.

O plano é trazer apenas BDRs de companhias americanas. Sem adiantar nomes, Ziegelmann afirma que a primeira instituição financeira trará BDRs de empresas conhecidas na bolsa dos EUA. Isso pode significar a entrada no Brasil de ações como General Electric (GE), Coca-Cola, Pepsi, Microsoft, Dell, McDonald " s, Exxon, Wal-Mart, Johnson & Johnson e Hewlett-Packard (HP), todas listadas no Índice Dow Jones.

Pelas regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), como os papéis virão por intermédio de instituições financeiras representantes e não pelas próprias companhias emissoras, eles poderão ser negociados apenas por instituições financeiras, fundos de investimento, administradores de carteira e consultores de valores mobiliários autorizados pela CVM em relação aos seus próprios recursos. As pessoas físicas poderão aplicar indiretamente, a partir do momento que tiverem recursos aplicados em fundos que comprarem os BDRs.

Para Ziegelmann, esses BDRs são uma forma das gestoras de recursos de terceiros aumentarem as aplicações no exterior, algo que a CVM já permite para alguns tipos de fundos de investimentos, mas que ainda está começando. " Muitos desses ges-tores ainda não usaram esse benefício porque é custoso e complicado aplicar fora do país, mas isso muda de figura a partir do momento que eles poderão aplicar sem sair da Bovespa " , diz o diretor. Os fundos multimercados, por exemplo, podem alocar até 20% do patrimônio líquido no exterior e os de renda fixa, até 10%. Já os fundos para cotistas com aplicação mínima de R$ 1 milhão podem investir até 100% do patrimônio fora do Brasil.

Até hoje, com exceção da espanhola Telefónica, do argentino Banco Patagônia e da suíça Dufry o que existe na Bovespa são BDRs de companhias com atividades no Brasil, mas com sede em paraísos fiscais. Entre eles estão os BDRs da Cosan Limited, Laep, GP Investments e Wilson Sons. Ziegelmann afirma que já existem outras instituições financeiras interessadas em trazer os BDRs americanos.

Já com relação ao projeto sobre formadores de mercado de opções, o Índice Bovespa à vista será o primeiro a ter essa figura. Segundo Ziegelmann, a bolsa decidiu começar pelo índice já que, depois das opções de Petrobras e Vale, essas são as mais líquidas, mas ainda assim precisam ganhar um pouco mais de liquidez. O mercado de opções brasileiro é o quarto maior do mundo, mas concentrado em Petrobras e Vale. As opções dessas duas companhias são as duas mais negociadas do mundo. No entanto, depois delas só aparecem no ranking opções de ações e de ETFs de outros países.

O formador de mercado é um agente contratado para garantir um mínimo de negócios, assegurando que o investidor encontrará comprador e vendedor para os ativos quando quiser negociá-los. Depois do Ibovespa, a bolsa pretende conquistar formadores de mercado para as opções das dez ações com maior liquidez no índice depois de Vale e Petrobras.

Entre elas, estão os papéis da própria BM&FBovespa, Itaú Unibanco, Gerdau, Bradesco, Usiminas e CSN. Para diluir os riscos, a ideia é ter três formadores de mercado para cada uma das opções e com um contrato de um ano. O aumento de liquidez deve beneficiar especialmente as pessoas físicas, já que elas respondem por cerca de 60% de todo o volume de opções. Os formadores de mercado terão isenção de emolumentos (taxa cobrada pela Bovespa) sobre essas operações. Além do formador de mercado, a bolsa também vai oferecer operações " empacotadas " que trazem opções do mercado à vista e do Ibovespa futuro (conhecidas como operações de volatilidade), geralmente montadas pelas corretoras.

Sobre os fundos de índices (os ETFs), o próximo a ser criado será do Índice Financeiro (IFNC). Existem hoje seis ETFs criados pelo Barclays, além do fundo Papéis Índice Brasil Bovespa (PIBB), administrado pelo Itaú Unibanco. As instituições terão três anos de exclusividade na negociação e podem cobrar uma taxa máxima de administração de 0,75% ao ano. O objetivo, segundo Ziegelmann, é ter dez novos ETFs até o fim do ano. A bolsa, juntamente com a CVM, está trabalhando para mudar a regra, permitindo a negociação de fundos de índices estrangeiros. O diretor da bolsa lembra que, no México, por exemplo, existem 150 ETFs, sendo a maioria do mercado americano. Nos EUA, os ETFs representam 25% do volume total da bolsa, enquanto que no Brasil são menos de 0,5% do giro do pregão.

Nenhum comentário:

Locations of visitors to this page