quinta-feira, 18 de março de 2010

Depósito compulsório eleva as taxas de CDBs

Valor Econômico

18/03/2010

Em poucas semanas, tudo mudou no mercado de certificados de depósitos bancários (CDB). As taxas voltaram a subir em torno de dois pontos percentuais, seguindo a decisão do Banco Central de aumentar os depósitos compulsórios, que atingiu diretamente os grandes bancos. Ao retirar dinheiro de circulação, a medida já aumentou o custo do crédito antes mesmo de uma elevação da taxa Selic e pode ter contribuído para a decisão de retardar o início do aperto monetário. Ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros em 8,75%.

No fim do ano, os bancos reduziram fortemente a captação, pois estavam extremamente líquidos. A liquidez em excesso levou o BC a remover parte da flexibilização do compulsório adotada na crise e mudou o cenário. As grandes instituições financeiras terão de recolher R$ 71 bilhões aos cofres do Banco Central nas próximas semanas. A primeira parte desses depósitos terá de ser feita na segunda-feira, quando a exigibilidade adicional volta a ter alíquota de recolhimento de 8% sobre depósitos à vista e a prazo. Isso deve retirar R$ 37 bilhões do caixa dos grandes bancos. Em 9 de abril, mais R$ 34 bilhões serão recolhidos, quando a alíquota cheia do compulsório sobre depósitos a prazo, reduzida a 13,5%, voltar aos 15%.

Compulsório já faz taxa do CDB subir 

Fernando Travaglini, de São Paulo

Em poucas semanas, tudo mudou no mercado de certificado de depósitos bancários. As taxas do CDB, que recuaram ao longo de todo ano passado, voltaram a subir, algo em torno de dois pontos percentuais, seguindo a decisão do Banco Central de aumentar o recolhimento de depósitos compulsórios. A medida atinge diretamente os grandes bancos e a primeira parcela de recolhimento será feita já no dia 22. As grandes instituições financeiras terão de depositar um total de R$ 71 bilhões nos cofres do BC ao longo das próximas semanas. Isso forçou uma corrida aos investidores para manter a liquidez intacta e fazer frente à expectativa de crescimento das carteiras de crédito ao longo de 2010.

Esses mesmos bancos, no fim de 2009, haviam reduzido fortemente a captação, pois estavam extremamente líquidos. A expectativa anunciada pelas instituições ainda em fevereiro era de que as taxas ficariam praticamente estáveis em 2009, dado o caixa elevado. A liquidez em excesso levou o BC a remover, no fim de fevereiro, parte da flexibilização do compulsório feita na crise e mudou o cenário.

 
 

A primeira parte desses depósitos será feita na segunda-feira, dia 22, quando a exigibilidade adicional volta a ter alíquota de recolhimento de 8% sobre depósitos à vista e a prazo (durante a crise, o BC diminuiu o percentual para 5% nos depósitos à vista e para 4% nos a prazo). Isso deve enxugar R$ 37 bilhões exclusivamente do caixa dos bancos grandes. No dia 9 de abril, mais R$ 34 bilhões serão recolhidos, quando a alíquota cheia do compulsório sobre depósitos a prazo, que havia sido reduzida para 13,5%, volta para 15%.

"Estávamos conseguindo taxas mais baixas na emissão de CDB, mas nos últimos dias os bancos grandes voltaram ao mercado para recompor a liquidez depois do compulsório e as taxas voltaram a subir", disse o diretor de um banco médio.

Ainda muito líquidos, os grandes conseguem manter uma captação bastante saudável e a elevação se restringe ao mercado de investidores institucionais. As taxas pagas pelos títulos subiram, em média, dois pontos percentuais, passando de 99% do CDI, no início do ano, para 101% do CDI nos últimos dias. Papéis mais longos, de dois anos, pagam até 105% do CDI.

"Agora o mercado é outro. O custo de CDB lá trás e agora aumentou entre 1 e 2 pontos percentuais", diz Eduardo Jurcevic, superintendente do Santander. Segundo ele, essa mudança, que começou no último mês, se refere a um "pequeno ajuste por conta da regulamentação do compulsório".

Jurcevic faz questão de ressaltar que o banco está bastante confortável com a demanda de crédito e com a perspectiva de funding para fazer frente à expansão esperada. "As taxas devem buscar um novo patamar e ficar estabilizadas. Não vejo cenário que agrave e intensifique esse movimento, pois há a entrada de recursos e o crescimento da carteira já está calculado", completa.

Em recente reunião com investidores na Apimec do Rio, logo após a mudança do compulsório, Alfredo Setubal, diretor de relações com investidores do Itaú Unibanco já alertava para esse novo cenário. Segundo ele, esse processo de ajuste pode durar até seis meses. "Os investidores terão de sair dos fundos para fazer aplicações direto em depósitos bancários. Vai ter competição entre os bancos de varejo para fazer frente a esse recolhimento. Não é que os bancos não têm caixa, mas é que vai sair muito caixa e precisa haver uma recomposição", explicou Setubal.

Para Jorge Simão, superintendente de tesouraria e distribuição do BES Investimento, a nova política de compulsório mexeu com a liquidez dos bancos, mas as instituições estavam trabalhando com o caixa alto e não precisarão mudar o patamar das taxas do papéis.

Segundo ele, além da recomposição de caixa, têm ocorrido, também renovações de CDB emitidos no auge da crise, em 2008. Naquele momento de maior aperto, os grandes bancos chegaram a pagar taxas na casa de 106% do CDI para papéis de 1 ano, com liquidez diária, para muitos investidores institucionais. Agora na renovação, as taxas ao longo de todo o primeiro trimestre giraram na casa dos 99% a 101% do CDI, mas muitos investidores têm pedido um pouco de prêmio para trocar a liquidez diária por prazos mais longos e isso também pressiona as taxas - que chegam a até 105% para CDB de dois anos, dependendo do rating e do tamanho da instituição financeira. Os bancos médios pagam entre 105% e 110% do CDI.

(Colaborou Carolina Mandl)

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