quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Cuidado na compra de dólares

Correio Brasiliense

17/02/2010

Brasileiro que planeja viajar ao exterior precisa ficar atento à cotação da moeda. Dica é adquirir pouca quantidade na baixa

Deco Bancillon

Bruno Peres/CB/D.A Press

Ana Paula Valença, de Taguatinga: Achei que (o dólar) fosse cair, só que aconteceu o contrário

  


A onda de pessimismo que pôs em xeque a capacidade de países ricos honrarem suas dívidas motivou uma corrida maluca pelo dólar, o que se refletiu numa valorização da moeda norte-americana ante as demais moedas do mundo, entre elas o real. O movimento de alta se intensificou nas últimas semanas, com a profusão de notícias ruins no mercado externo. E, da noite para o dia, quem não havia se preocupado com a cotação do câmbio passou a acompanhar de perto o vaivém das bolsas. Analistas consultados pelo Correio acreditam que o movimento de alta no câmbio deve persistir durante todo o ano, com intervalos e repiques para baixo, o que pode ser aproveitado por quem pensa em viajar.

É o caso da jornalista Ana Paula Dourado Valença, que sentiu no bolso o peso do dólar valorizado. Com viagem marcada para a China e para o Japão, em março, a moradora de Taguatinga calcula que o movimento de alta do câmbio encarecerá o custo do pacote contratado por ela em pelo menos R$ 800. "Quando fechei o pacote, no início de dezembro, o dólar turismo estava em R$ 1,89 para a venda. Pouco tempo depois, chegou em R$ 1,85, mas achei que fosse cair ainda mais. Só que aconteceu o contrário", lamenta Ana Paula, que hoje se arrepende de não ter efetuado o pagamento da viagem naquela época.

Lotes

Felipe Pellegrini, gerente da mesa de operações da Confidence Câmbio, aconselha às pessoas que pensam em viajar fazerem pequenos lotes de compras de dólar, em vez de comprar tudo de uma só vez. "Além de ficar de olho no noticiário econômico, as pessoas devem dividir o risco. Se perceber que o dólar caiu ininterruptamente por dois dias, é hora de comprar um pouco. Um lote de US$ 1 mil por compra já é o bastante", avalia.

Além do risco de países como Grécia, Portugal e Espanha darem o calote em credores internacionais, investidores também passaram a questionar a recuperação dos Estados Unidos, que está mais tímida do que se previa. A aversão ao risco e o medo de um solavanco de crise resultou em fuga de capitais em economias como a brasileira, o que se reflete em perda de valor do real.

"O dólar vai começar a subir mais forte a partir de abril ou maio. Até março ou abril, haverá uma volta do câmbio até R$ 1,81. Mas depois subirá de novo, ultrapassando os R$ 2 já em setembro", prevê o economista André Sacconato, da Tendências Consultoria.

Além de ficar de olho no noticiário econômico, as pessoas devem dividir o risco. Se perceber que o dólar caiu ininterruptamente por dois dias, é hora de comprar um pouco

Felipe Pellegrini, gerente da mesa de operações da Confidence Câmbio


 



Fundo de câmbio é alternativa

Uma outra opção para quem deseja viajar ao exterior, segundo o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, é aplicar o dinheiro em um fundo de câmbio, que acompanha as oscilações da moeda e reduz o risco de perdas e solavancos. Mesmo assim, ressalta ele, é impossível prever o comportamento do dólar para os próximos meses. "A dúvida é de todos. Dificilmente alguém vai conseguir fazer um prognóstico para o câmbio que seja certeiro. O ambiente é de alta instabilidade."

Leonardo Niceli, economista-chefe da SLW Asset Management, pondera que o movimento de fuga pode ser ainda maior do que o visto nos últimos dias, aumentando ainda mais o buraco na cotação do real frente ao dólar. "Está havendo uma aversão ao risco muito grande. Os investidores estão saindo. E bastante capital pode sair junto com eles", avalia. "Nunca antes tivemos um passivo externo no Brasil tão elevado quanto agora. Se todo o capital que resolveu investir no país nos últimos três anos resolver sair agora, haverá problemas enormes."

André Sacconato, da Tendências Consultoria, avalia, no entanto, que esse movimento não será forte o bastante para que haja uma nova recessão mundial, levando os países a aumentar a ajuda fiscal para estimular o consumo. "A pior fase da crise já passou. De agora em diante, é mais turbulência do que crise profunda. Vamos ficar sujeitos a essas oscilações. Tanto na bolsa quanto no câmbio", assinala. (DB)



 

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