sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Onde aplicar seu dinheiro

Correio Brasiliense

08/01/2010

Sem medo de perder o emprego e com a renda mais alta, o brasileiro dá mais atenção aos investimentos. Melhor opção é diversificar

Vicente Nunes


O aumento do emprego e da renda está provocando uma revolução entre os brasileiros. Se até bem pouco tempo a grande maioria não conseguia guardar um centavo que fosse para garantir um futuro melhor, agora é cada vez maior a preocupação em poupar, seja para bancar a tão sonhada viagem ao exterior, seja para pagar a faculdade dos filhos ou mesmo para a aposentadoria. "Está havendo uma revolução na cultura de poupança da população, apesar do endividamento maior oriundo do crédito farto. E isso está sendo possível porque a renda está aumentando e o Brasil consolidou a estabilidade econômica. Ou seja, ficou mais previsível", disse o presidente da Associação Brasileira de Educação Financeira, Edmilson Lyra.

Essa visão, segundo ele, está sustentada nos resultados dos investimentos em 2009. Pelas contas do Banco Central, a tradicional caderneta de poupança registrou captação líquida (depósitos menos saques) de R$ 30,4 bilhões, com o saldo em conta atingindo R$ 319 bilhões. Foi o segundo melhor resultado anual desde 1995, quando começou a série histórica do BC — ficou atrás apenas de 2007, com saldo positivo de R$ 33,4 bilhões. Nos fundos de investimentos, as aplicações superaram as retiradas em R$ 87,6 bilhões, elevando para R$ 1,366 trilhão o patrimônio dessa indústria no país. Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), 552.364 pessoas físicas — um recorde — responderam por mais de 30% dos negócios diários.

"Felizmente, as pessoas estão podendo consumir mais e ainda poupar. E não vejo mudança nesse quadro nos próximos anos. Com a perspectiva de crescimento da economia, veremos a poupança total dos brasileiros, tanto em renda fixa quanto em ações, crescer de forma acentuada", afirmou o professor Ricardo Rocha, do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. "Isso é bom, pois, com a poupança interna em alta, o Brasil ficará menos dependente do capital estrangeiro para crescer. As empresas poderão se financiar no país para ampliar os parques produtivos", acrescentou Carlos Antonio Magalhães, diretor da Sabe Consultoria.

Na avaliação do presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), Marcelo Giufrida, as famílias, as empresas e os investidores estrangeiros que trazem recursos para o país estão respondendo positivamente ao respeito às regras. "Os marcos regulatórios dos mercados foram aprimorados. A segurança jurídica para os investidores se fortaleceu", assinalou. Há que se ressaltar ainda a solidez do sistema financeiro brasileiro, que passou bem pela mais grave crise mundial desde 1929, e a especialização dos profissionais de mercado. "Também está havendo um desejo crescente dos investidores em se informar. E isso é visível, principalmente, entre os mais jovens", emendou Carlos Magalhães.

Riscos maiores

Para o presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Distrito Federal (Apimec-DF), Alexandre Guimarães, os excelentes números do mercado também serviram para enterrar o temor de que houvesse uma fuga maciça de recursos dos fundos de investimento para a tradicional caderneta, devido à queda da taxa básica de juros (Selic) para 8,75% ao ano. "Mesmo que as rentabilidades dos fundos e da poupança tenham ficado muito parecidas, os perfis de investidores são diferentes. Os que aplicam em fundos aceitam correr um pouco mais de risco. Por isso, o crescimento dos fundos de ações e dos multimercados", destacou.

No entender de Edmilson Lyra, com a Selic no menor patamar da história, é natural que os brasileiros queiram correr mais riscos para ampliar a rentabilidade. E a melhor opção, segundo ele, é o mercado de ações. "O crescimento da economia exigirá mais investimentos em infraestrutura. As empresas fornecedoras para esse segmento vão lucrar mais, o que valorizará seus papéis nas bolsas. O mesmo acontecerá com as companhias que fabricam bens de consumo, inclusive alimentos", afirmou. Mas a receita é não ir com tanta sede ao pote. "Nunca coloque todo o dinheiro no mercado acionário. Diversifique investimentos e procure conhecer detalhes das aplicações escolhidas", aconselhou.

Outra ressalva importante: que ninguém espere mais valorizações anuais de 80% ou 100% da bolsa de valores, como se viu em 2009, que foi um ano de correção dos estragos provocados pela crise mundial detonada pelo estouro da bolha imobiliária americana em setembro de 2008. "É possível que a Bovespa feche 2010 nos 85 mil pontos. Se isso acontecer, será uma alta de 20%, um resultado muito bom", disse o presidente da Apimec-DF. Ele lembrou que os preços das ações no Brasil já subiram muito nos últimos anos e para que a rentabilidade venha será necessário esperar mais tempo — cinco ou seis anos, por exemplo.

Aposentadoria

Segundo Carlos Antonio Magalhães, a aposentadoria será a grande preocupação diante da incapacidade do Estado de garantir um sustento decente aos mais velhos por meio do Instituto Nacional do Seguro Social. "Essa é a grande razão de vermos jovens entre 24 e 35 anos entrando em peso no mercado de ações. Eles sabem que, como vão viver mais, precisam garantir uma poupança que lhes garanta uma situação decente", afirmou. Em 2009, pelos cálculos da Anbima, os fundos de previdência complementar administrados pelos bancos registraram captação líquida de R$ 23,4 bilhões.

Mas vale o alerta: não aceite taxas de administração dos fundos superiores a 1,5% ao ano. Qualquer índice acima desse patamar comerá uma parte importante dos rendimentos, deixando-os, em muitos casos, inferiores aos ganhos da poupança.

Está havendo um desejo crescente dos investidores em se informar. E isso é visível, principalmente, entre os mais jovens"

Carlos Magalhães, diretor da Sabe Consultoria

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