quinta-feira, 29 de maio de 2008

Enfim, a concorrência

Valor Econômico
Por Danilo Fariello e Adriana Cotias, de São Paulo
29/05/2008

Demorou. Mas o movimento de redução de juros ao longo do tempo - apesar da recente retomada do aperto monetário - finalmente mobiliza investidores e gestores a encontrar soluções mais baratas em fundos conservadores. A opção dos investidores de varejo e alta renda insatisfeitos, do ano passado para cá, era a caderneta de poupança e os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). Mais recentemente, o que se nota é que os cotistas passaram a preferir fundos com taxas menores. Mas a grande novidade é que, ao bater à porta das agências em busca de alternativas mais em conta, eles agora encontram algumas respostas entre os grandes bancos.


Com os custos das carteiras de renda fixa mais visíveis por conta do juro menor, o aplicador deixou de ser indiferente ao tamanho das taxas de administração. Por essa razão, a Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (Anbid) lança hoje o site "Escolha o seu Fundo", para facilitar comparações de preço entre as diversas alternativas no mercado.


A iniciativa atende a uma demanda dos investidores. Estudo do site Fortuna com fundos de bancos de varejo mostra que foram as carteiras DI com taxas de administração mais altas (acima de 2% ao ano) que perderam recursos no ano, R$ 31 milhões até o dia 23, enquanto os fundos com taxas menores (até 1,5%) captaram R$ 303 milhões.


Até aqui, são os portfólios com aplicação mínima mais alta, a partir de R$ 150 mil, que têm atraído novos aportes. Mas já indica que a barreira do acesso começa a ser quebrada. "Finalmente", comemora Marcelo D'Agosto, do Fortuna. "Depois de ficar tanto tempo sem se mexer, agora começamos a ver alguma mobilidade." Do investidor e também dos bancos.


O Itaú, por exemplo, reduziu a aplicação mínima do Itaú Max Referenciado DI, com taxa de 1,8% ao ano, de R$ 150 mil para R$ 50 mil; o Santander criou um novo fundo DI aceitando aplicações a partir de R$ 50 mil, enquanto o Banco do Brasil deixou de exigir ingresso mínimo no BB Referenciado DI Estilo. No Bradesco, o acesso ao fundo DI Special, com taxa de 1% ao ano, é permitido a clientes do segmento Prime abaixo da aplicação mínima inicial de R$ 100 mil. A condição, pelo prospecto, é o aplicador ter a quantia em produtos do banco, uma tolerância antes oculta nos bancos de varejo. O Itaú também prevê a condição no Max DI.


Além de facilitar o acesso a fundos com administração menor, carteiras com taxa de saída têm sido um dos caminhos encontrados pelos administradores para premiar o aplicador de longo prazo com custos mais baixos, caso do Banco Real, BB e Santander.


"O investidor está mais sensível a preço, começa a olhar a rentabilidade e a indústria, por seu lado, está se adequando", diz o superintendente da Santander Asset Management, Alexandre Silvério. Ele conta que, para fixar a taxa de um novo fundo, a instituição leva em conta não só o assédio de outros gestores, como também a concorrência com produtos que estão na prateleira do banco, como a caderneta e o CDB. "Para reter o cliente, é preciso ser competitivo."


Na família de fundos do banco espanhol batizada de Recompensa, há taxas de saída regressivas, zeradas após dois anos. E o valor pago por quem sai antes do prazo fica com o fundo, o que amplia o retorno de quem fica. A primeira carteira, já fechada para captação, tinha aplicação de R$ 25 mil, administração de 2,5% e saída de 3,5%. Na nova versão, Max, ainda captando, o custo baixou para 1,90% de taxa de administração e 2% de saída e o acesso facilitado, com aplicações a partir de R$ 10 mil. Há ainda o Master - aplicação de R$ 50 mil, 0,8% de administração e 1,2% de saída - e a Premium - ingresso de R$ 100 mil e taxas de 0,3% e 1,2%, respectivamente.


Criados há quase um ano, esses portfólios, porém, ainda reúnem apenas R$ 250 milhões, em um total de R$ 63 bilhões administrados pelo Santander. Para Ricardo Leal, professor do Instituto Coppead de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apesar de ser um "bicho novo" que deve demorar a ganhar popularidade, a taxa de saída é uma alternativa para baratear os fundos. Vale lembrar que, ficando no fundo por mais tempo, o investidor também tem o benefício das menores alíquotas de imposto de renda.


No Banco do Brasil, que concentra o maior patrimônio do setor, de R$ 232,5 bilhões, ainda há fundos com administração de 5,5% ao ano, para aplicações a partir de R$ 100, mas já há opções bem mais atrativas. O banco reduziu a exigência de aplicação mínima no BB Referenciado DI Estilo, que cobra 1% ao ano, para clientes do segmento diferenciado Estilo (com renda mensal a partir de R$ 6 mil). Complementam as novidades três fundos com taxa de saída e investimento mínimo de R$ 30 mil, R$ 5 mil e R$ 400. Na menor aplicação, a taxa de administração fica em 2%, com saída de 1,5%. "Hoje, o investidor tem mais acesso à informação, o que permite que ele conheça melhor as diversas classes de investimento e escolha aquela mais adequada ao seu perfil de risco", diz o gerente da Diretoria de Varejo Carlos Antônio Decezaro.


A Caixa Econômica Federal também pretende lançar seu fundo com taxa de saída em junho, mas os critérios ainda estão sendo desenhados. Além de estimular a fidelidade do cotista, que tende a ficar no fundo por mais de dois anos, a intenção é aproveitar oportunidades em papéis de longo prazo, diz o vice-presidente de Ativos de Terceiros, Bolivar Tarragó.

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