quarta-feira, 30 de abril de 2008

Renda fixa perde R$ 4,2 bilhões no mês

Valor Econômico
Luciana Monteiro, de São Paulo
30/04/2008



A maior pressão inflacionária, a alta dos juros e as perdas decorrentes do aumento das taxas pagas pelos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) estão afastando os investidores das aplicações prefixadas. Com retornos abaixo do CDI, a categoria dos renda fixa que pode aplicar em papéis com juros pré apresenta no mês resgates de R$ 4,226 bilhões, até o dia 25. No acumulado do ano, os saques somam R$ 451 milhões, segundo relatório semanal do site Fortuna.


A elevação de de 0,5 ponto percentual da Selic neste mês, subindo o juro de 11,25% ao ano para 11,75%, pegou muitos gestores de surpresa, já que a maioria esperava uma alta de 0,25 ponto percentual. Com isso, as carteiras que estavam mais carregadas com papéis prefixados, sobretudo de longo prazo, registraram perdas maiores. Em termos de rentabilidade, os fundos de renda fixa ganham, em média, 0,68% no mês para 0,77% do CDI até o dia 25. No ano, o retorno é de 3,26% para 3,36% do referencial.


Os resgates refletem a movimentação dos investidores que acreditam que a taxa de juros vai continuar subindo, diz André Schibuola, sócio da Precision Asset Management. Ele lembra que o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) divulgado ontem, de 0,69% em abril, veio acima do esperado pelo mercado. "Inicialmente, a leitura da ata do Copom era de que a alta do juro seria grande, mas duraria pouco, mas agora isso já dá sinais que será longo", diz.


Para ajudar, os bancos começaram a oferecer retorno maior para os CDBs. Com o crédito crescendo e dificuldades de captar recursos lá fora por conta da crise, instituições financeiras miraram o mercado interno. Mas, para captar, os bancos precisam oferecer um retorno mais atraente. Há, por exemplo, instituições de primeira linha pagando 107% do CDI para CDBs de altos valores com prazos de dois.


Muitos investidores, no entanto, podem estar se perguntando: mas se a taxa subiu, porque muitos fundos com CDBs pós-fixados tiveram perdas? Acontece que, mesmo os CDBs pós, atrelados à variação do CDI, têm um componente prefixado, que é o percentual do CDI determinado no momento da aplicação, explica Marcia Dessen, da consultoria e empresa de treinamento educacional corporativo Bankrisk. As taxas oferecidas pelos CDBs hoje não são usuais. Normalmente são menores. Mas para captar mais, os bancos precisaram elevar as taxas. Com isso, os papéis com taxas menores que estavam nos fundos de investimento valem hoje menos e, portanto, precisaram ter seu preço contabilizados a valor de mercado, conta Marcia.


Isso trouxe perdas até mesmo para os fundos DI e muitas carteiras registraram prejuízo. Segundo os dados do Fortuna, no mês, até o dia 25, os DIs apresentam rentabilidade média de 0,65% e captam R$ 1,735 bilhão. No ano, o rendimento médio é de 3,13% e o ingresso de recursos soma R$ 12,805 bilhões. A decisão entre manter ou não a aplicação depende da perspectiva do investidor. O mercado já embute no contrato de juro de janeiro de 2010 uma taxa de 14,25% ao ano. "Para quem acredita a situação vai piorar e o juro subir ainda mais, a renda fixa não é a melhor alternativa", lembra Marcia, da Bankrisk. "Mas quem acredita na recuperação deve permanecer onde está."

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