Valor Econômico
Luciana Monteiro
24/04/2008
A alta nas taxas pagas pelos bancos nos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) fez crescer o interesse dos investidores por esses papéis. Grandes instituições pagam até 107% do CDI, o equivalente a 12,57% ao ano, um retorno superior aos juros básicos da economia, de 11,75%. Com isso, apenas nos quatro primeiros meses do ano, até o dia 16, a captação atingiu R$ 60,185 bilhões, valor que representa mais que o dobro dos R$ 28 bilhões de todo o ano passado. O volume supera inclusive o total de 2005, de R$ 56,199 bilhões, melhor ano para essas aplicações. Neste mês, R$ 21,350 bilhões foram destinados para CDBs, o melhor resultado mensal desde o início do Plano Real.
O aumento dos retornos chegou também aos pequenos investidores. Quem tem R$ 10 mil, por exemplo, e pode deixar o dinheiro aplicado por dois anos, consegue obter um CDB com retorno de 90% do CDI, ou 10,57% ao ano. Isso equivale a investir em fundo DI com taxa de administração anual de 1%. O problema é que um investidor com esse volume de recursos dificilmente conseguirá aplicar num fundo com um custo tão baixo - ele pagará no mínimo 2,5% ao ano.
CDBs com taxas acima do CDI para bancos de primeira linha não são comuns. A elevação nos retornos é conseqüência de uma série de fatores. O primeiro, a crise internacional com as hipotecas de alto risco ("subprime"), que dificultou a captação de recursos dos bancos e empresas no exterior. Além disso, em maio, os grandes bancos começam a recolher o compulsório sobre debêntures emitidas por suas leasings, o que pode retirar até R$ 40 bilhões de seus caixas.
Em meio a esse aperto de liquidez, as carteiras de crédito dos bancos continuam crescendo. "O crédito representava 20% do PIB e caminha para 35%, e isso pressiona a captação de CDB", diz Reinaldo Le Grazie, da Banif Nitor Asset Management. Mas ele destaca que não há uma crise de liquidez ou falta de recursos para os bancos pequenos. "Houve um ajuste na curva de juros; se o banco grande paga agora 103% do CDI, o pequeno, que antes pagava isso, passa para 106%".
Para segurar o investidor, os bancos condicionam as melhores taxas ao cumprimento de carência. Quanto mais tempo o investidor se compromete a ficar com o CDB, maior o ganho.
Valor Econômico
Por Luciana Monteiro e Angelo Pavini, de São Paulo
16/04/2008Acostumados à constância do retorno dos fundos DI, consideradas as carteiras mais conservadoras do mercado, muitos investidores levaram um susto ao ver as cotas de sexta-feira, dia 11, e segunda-feira, dia 14. A maioria dos fundos de varejo de grandes bancos registra perdas de até 0,17% num único dia, o que representa quase uma semana da variação do CDI, de 0,04% ao dia. E vários bancos ainda vão mostrar esse prejuízo hoje, na cota de ontem, dia 15. O motivo é um ajuste - chamado de marcação a mercado - à alta dos juros dos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) emitidos pelos grandes bancos.
Por lei, os fundos DI têm de aplicar no mínimo 80% de seu patrimônio em títulos públicos e os outros 20% podem estar em papéis de renda fixa de baixo risco de crédito, como CDBs de grande bancos. O problema é que as taxas desses papéis, que ocupam parte expressiva das carteiras dos DIs e renda fixa, tiveram nas últimas semanas a maior alta desde o auge da crise das hipotecas de alto risco americanas ("subprime"), em agosto do ano passado. Em média, as taxas dos CDBs passaram de 101% do CDI para até 107% do CDI, dependendo do prazo. Com os juros subindo, os papéis antigos nas carteiras dos fundos, com juros mais baixos, perdem valor. Hoje, quase um terço dos R$ 381 bilhões de CDBs do mercado estão nas mãos dos fundos, com R$ 110 bilhões.
Os analistas lembram, no entanto, que essa queda é apenas um ajuste, para que os papéis antigos passem a render como os novos. Portanto, o ganho dos DI e renda fixa tende a subir. A recomendação é para que o investidor não saque.
As perdas variam de acordo com a quantidade de CDBs de cada fundo e com o critério de marcação a mercado de cada gestor. Como os CDBs não têm mercado secundário ativo, ou seja, não são negociados diariamente depois de emitidos, não há um critério único para atualizar os valores. Cada banco adota a melhor forma de avaliação. Alguns ainda jogam o prejuízo de uma vez na cota, outros diluem durante vários dias e outros ainda nada fizeram. Essa situação fez a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) emitir um comunicado na quarta-feira da semana passada, determinando maior atenção na marcação a mercado dos títulos privados.
Uma conjunção de fatores fez com que as taxas pagas em CDBs dos bancos, inclusive de grandes instituições, subissem. Primeiro, a crise internacional com os papéis "subprime" dificultou a captação dos no exterior. A saída foi captar mais dinheiro aqui, pressionado as taxas. Depois, no início de fevereiro, o Banco Central fixou um compulsório sobre os recursos repassados pelas empresas de leasing para os bancos, que usavam esse dinheiro para financiar empréstimos. O recolhimento começa em maio, equivalente a 5% de uma carteira avaliada em R$ 160 bilhões, o que resultaria em R$ 8 bilhões, chegando a R$ 40 bilhões em janeiro de 2009, ou 25%.
Além disso, em julho, os bancos terão de atender às exigências do acordo da Basiléia II, que eleva o capital necessário para operar. Em meio a todo esse aperto de liquidez, as carteiras de crédito continuam crescendo, a um ritmo de 30% ao ano, acompanhando o aquecimento da economia.
Essa alta foi generalizada entre os bancos e as maiores taxas são para CDBs com carência e para grandes valores, diz Arthur Riedel, superintendente da área de Produtos de Tesouraria do Itaú. Para aplicações com carência de dois anos e volume de R$ 500 milhões, a taxa de um CDB do Itaú pode chegar a 105% do CDI. Para a pessoa física, o retorno também ficou mais interessante. Uma aplicação de R$ 10 mil, com liquidez diária, conseguirá algo até 90% do CDI, diz o executivo.
Para avaliar as perdas com os ajustes dos CDBs, o investidor não deve olhar um dia apenas, mas o mês, diz Márcio Appel, vice-presidente de asset management do Santander. "Mesmo quem fez o ajuste e teve perdas pode não ter zerado tudo e voltar a dar prejuízos". No caso do Santander, a opção foi por fazer o ajuste total na cota do dia 14, por isso a queda maior. "Fizemos a atualização de valores de forma conservadora, inclusive para CDBs de difícil avaliação". O grosso das perdas, diz Appel, veio dos chamados CDBs subordinados, que são considerados capital do banco, quase como uma ação. Esses papéis, de longuíssimo prazo, cinco anos pelo menos, pagavam 103% do CDI e passaram a pagar até 107% do CDI.
Na carta enviada na quarta-feira, a Anbid reforça a necessidade da marcação a mercado dos CDBs por conta dos graus diferentes de conservadorismo na avaliação desses títulos entre os gestores. A iniciativa da Anbid tem como objetivo agir o mais rápido possível de modo a minimizar a diferença entre o preço do papel em carteira daquele hoje no mercado, diz Marcelo Giufrida, vice-presidente da entidade. A Anbid irá também, nos próximos 15 dias, avaliar as metodologias usadas pelos gestores para ajustar o preço dos CDBs.
O momento é de oportunidade para se investir, já que esses papéis passaram a oferecer taxas atrativas, diz Robert van Dijk, diretor superintendente da Bradesco Asset Management (Bram). Segundo ele, a gestora aperfeiçoou seu modelo de marcação a mercado de CDBs e os ajustes já foram feitos nos fundos. "As perdas, no entanto, nem se comparam aos prejuízos com a marcação feita em 2002", diz. Naquela época, as perdas foram com papéis públicos, e muito maiores que o ajuste atual.
Valor Econômico
Por Alex Ribeiro, de Brasília
16/04/2008Os pequenos investidores que compram títulos públicos de renda fixa pela internet resolveram assumir um pouco mais de risco em março, período em que o Banco Central passou a sinalizar com mais ênfase uma possível alta na taxa básica de juros. É o que mostra o balanço mensal do programa Tesouro Direto, divulgado ontem pela instituição.
Em março, o Tesouro vendeu um total de R$ 89 milhões em títulos púbicos. O principal papel vendido, com 31,45% do volume negociado, foi a Letra do Tesouro Nacional (LTN), um título prefixado que devolve capital e juros no vencimento. Em fevereiro, quando o Tesouro Direto movimentou R$ 71 milhões, as LTNs responderam por 28,4% das operações realizadas.
Também houve aumento das vendas das Notas do Tesouro Nacional - série F (NTNs-F), um outro papel prefixado, que paga juros semestrais e devolve o capital no vencimento. Sua participação relativa nas vendas do Tesouro Direto subiu de 16,5% para 19% entre fevereiro e março.
Em comum, LTNs e NTNs-F têm o fato de serem papéis prefixados e significarem riscos um pouco maiores. O investidor sairá ganhando, se o BC subir os juros básicos menos do que o esperado pelo mercado financeiro. Mas perderá, se o BC elevar os juros além do previsto. A perda ocorre porque os títulos são cotados pelo valor de mercado; se o juro definido pelo BC sobe além do esperado, o valor do papel cai.
Justamente porque o BC vem ameaçando subir os juros, as LTNs e as NTNs-F estão pagando juros mais altos aos investidores. Ontem, no fim da tarde, uma LTN com vencimento em abril de 2009 oferecia uma taxa anual de juros de 12,86%.
Já os papéis do Tesouro com juros pós-fixados, as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), perderam terreno em março. Representaram 13,9% das vendas, abaixo dos 16,5% ocorridos em fevereiro. A remuneração das LFTs acompanha a taxa básica de juros definida pelo BC, por isso têm risco menor. A taxa básica está em 11,25% ao ano, e a maior parte do mercado acha que vai subir hoje para 11,5%. Uma minoria acredita em 11,75%.
Também perderam importância relativa os títulos indexados pelo IPCA. No caso da NTN-B, sua participação passou de 23,45% para 22% entre fevereiro e março. Esse papel paga juros prefixados mais a inflação, com juros semestrais e a devolução do capital no vencimento. A participação da NTN-B Principal caiu de 15,19% para 13,5% do total de papeis vendidos, entre fevereiro e março. Esse papel também é corrigido pelo IPCA, mas não paga os juros semestrais ao aplicador, mas apenas no vencimento, junto com o principal.
Valor Econômico
Luciana Monteiro e Angelo Pavini
16/04/2008O aperto na liquidez e a necessidade de captação dos grandes bancos diante do aumento da procura por crédito fizeram subir os juros dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs). As taxas no Brasil atingiram os maiores níveis desde o auge da crise das hipotecas de alto risco nos EUA ("subprime"), em agosto do ano passado. O ajuste atingiu em cheio os fundos de renda fixa e até mesmo os DIs, carteiras mais conservadoras, que apresentaram perdas de até 0,17% nos dias 11 e 14, o equivalente a quase uma semana de rentabilidade. Na média do mercado, os DIs perderam 0,01% no dia 11 e novos prejuízos devem ser divulgados nos próximos dias, uma vez que muitos bancos ainda não fizeram a marcação a mercado de seus CDBs.
As perdas variam de acordo com a quantidade de CDBs em cada fundo e com o critério de marcação a mercado do gestor. Essa situação fez a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) emitir um comunicado na quarta-feira da semana passada determinando maior atenção na avaliação dos papéis privados nos fundos.
Uma conjunção de fatores fez com que as taxas pagas nos CDBs, inclusive de grandes instituições como Itaú, Bradesco e Unibanco, subissem de níveis próximos a 101% do CDI - juro básico do mercado -, ou 11,12% ao ano no início de março, para até 107% do CDI, ou 11,90% ao ano neste mês. Primeiro, a crise internacional com os papéis "subprime" dificultou a captação dos bancos no exterior. A saída foi buscar mais dinheiro aqui, elevando as taxas. Depois, no início de fevereiro, o Banco Central fixou um compulsório sobre os recursos repassados pelas empresas de leasing para os bancos, que usavam esse dinheiro para financiar empréstimos. O recolhimento começa em maio, equivalente a 5% de uma carteira avaliada em R$ 160 bilhões, o que resultaria em R$ 8 bilhões, chegando a 25%, ou R$ 40 bilhões, em janeiro de 2009.
Além disso, em julho os bancos terão de atender às exigências do acordo da Basiléia II, que eleva o capital necessário para operar. Em meio ao aperto de liquidez, as carteiras de crédito continuam crescendo, cerca de 30% ao ano, acompanhando o aquecimento da economia.
Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
15/04/2008A previdência privada aberta arregimenta um exército de novos aplicadores a cada ano. Apenas em 2007, 1 milhão de pessoas resolveu guardar para o futuro, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Já são 12,6 milhões as contas de planos tradicional, PGBL ou VGBL. No entanto, o mercado vê, a cada ano, uma parte expressiva dos recursos escoar por meio de resgates. Em 2007, para R$ 28,2 bilhões que entraram em previdência, R$ 12,1 bilhões foram sacados. Esse volume de saques representa 43% da quantia de depósitos, ou 10% das reservas, uma parcela elevada dada a história bastante recente dos planos de previdência no Brasil.
Se esses saques ocorrerem pouco depois da aplicação - o que não se pode calcular com precisão -, a eficiência dos planos fica restrita. A previdência privada apresenta vantagens tributárias em relação a fundos de investimento, por exemplo, apenas em períodos acima de cinco, dez anos, dependendo do produto. "Muitos investidores ainda têm dificuldades em ver a previdência privada como uma reserva de longo prazo", diz André Silva Oliveira, chefe da Divisão de Estudos Econômicos da Susep.
A impressão é de que os participantes de renda mais baixa têm mais dificuldade em permanecer por mais tempo nos planos. No caso do VGBL, por exemplo, produto mais popular e criado em 2001, os resgates no ano passado representaram 14% das reservas no fim de 2007. Esse mesmo valor, comparativamente às reservas existentes em 2004, representou 40%. O número mostra a falta de planejamento de longo prazo, já que é impossível que, em tão pouco tempo, haja tantos investidores maduros para receberem os benefícios. Para os demais modelos de previdência privada aberta, a média de saques foi de 7% das reservas em 2007.
A maior empresa do setor, a Bradesco Vida e Previdência, por exemplo, acredita desempenhar um bom trabalho ao conseguir que 72% dos recursos permaneçam por, no mínimo, três anos. Isso é acima da média da América Latina, diz seu presidente, Marco Antonio Rossi. Quando o brasileiro precisa de recursos no curto prazo, ele não resiste a sacar, comenta. Por isso a saída maior. "Isso tende a mudar conforme o participante passar a dar mais prioridade à previdência privada", diz Rossi.
O ritmo de saques já foi maior, quando ainda era maciço o uso do PGBL pelas empresas para pagamentos de bônus aos funcionários e a Receita era mais flexível quanto a técnicas de planejamento tributário. Em 2005, o resgate chegou à metade do que havia sido aplicado no ano. No caso do PGBL, a proporção dos saques perante os depósitos chegou a 68%. De lá para cá, porém, esses percentuais vêm caindo.
No ano passado, o equivalente a 43% do volume investido em planos de previdência foi resgatado (não necessariamente o dinheiro que entrou em um ano saiu no mesmo exercício). Embora essa proporção tenha caído, a parcela ainda é considerada elevada por diretores da Federação Nacional da Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). Oliveira, da Susep, destaca, porém que se deve ter mais preocupação com o volume de resgates como proporção das reservas dos planos, que vem caindo com mais rapidez. Desde 2005, o volume de resgates de todo setor caiu de 14% do total de reservas para 10% de quase R$ 120 bilhões no fim do ano passado. Os dados da Susep não consideram a migração entre planos de previdência, observa Oliveira.
Esse é um mercado ainda em consolidação, porque a noção de investimento de longo prazo no país é relativamente recente, diz Tarcísio Godoy, presidente da Brasilprev. "O país ainda está criando essa cultura, aprendendo qual o melhor tipo de benefício", diz. A Brasilprev afirma que menos recursos são resgatados em média por lá. Ao ano, são sacados apenas 6,5% do volume total de reservas, diz Godoy. Para ele, a diferença para a média do mercado se dá no atendimento ao participante e na explicação da natureza de longo prazo dos planos. Mas ele não descarta a possibilidade que haja no mercado aquele investidor que "erra a mão" e acaba investindo mais em previdência do que deveria.
Godoy explica, ainda, outro fator que pode estar levando os participantes a sacar o dinheiro do PGBL ou do VGBL. "Com o mercado de consumo mais aquecido, a propensão marginal a poupar diminui." Segundo Rossi, a compra de imóveis é a segunda maior causa de resgates prematuros dos planos da seguradora - depois da necessidade de quitar dívidas e outros gastos no curto prazo.
Nesse sentido, há um entrave legal para reduzir os resgates. Apesar de a Lei da Blindagem dos planos - que segrega os ativos dos participantes daqueles das seguradoras e, portanto, permite o uso desses recursos como lastro de empréstimos imobiliários - ter sido aprovada em 2005, sua regulamentação não saiu, o que impede as seguradoras de lançarem os planos blindados. Ainda assim, o mercado estuda alternativas para os saques para compra de imóveis. "Estudamos na Bradesco uma maneira de conceder empréstimos imobiliários mais em conta com base nos recursos de previdência aberta, como ocorre nos planos fechados, mesmo sem a blindagem", diz Rossi. "O sonho da casa própria ainda é mais forte do que o sonho da previdência privada."
Além da necessidade com gastos imediatos ou a quitação de dívidas e a aquisição de imóvel, também pode estimular os resgates dos planos de previdência a rentabilidade menor dos ativos, com os seguidos cortes na taxa de juros que ocorreram nos últimos anos. No entanto, Godoy acredita que esse fato estimule mais a migração da renda fixa para planos com renda variável do que o resgate dos recursos.
A tendência de os participantes permanecerem mais tempo nos planos é esperada pelo setor tanto pela maior conscientização das pessoas como pela popularização da tabela regressiva de imposto de renda, cuja alíquota cai de 35% a 10% se o participante permanecer mais de dez anos com os recursos aportados no plano. Assim, o plano necessariamente só fica interessante depois de alguns anos.
Jornal da Tarde
12/08/2008Redes aproveitam época de menor procura para liquidar estoques, com desconto e parcelamento
Charlise Morais, charlise.morais@grupoestado.com.br
Este é um bom momento para quem quer reformar ou construir a casa. As grandes redes de lojas de material de construção estão oferecendo descontos que podem chegar a até 70%.
Além disso, as empresas oferecem condições facilitadas para parcelar a compra e, algumas, até garantem o menor preço - no melhor estilo das grandes redes de hipermercados -, cobrindo a oferta das concorrentes.
De acordo com o economista Marcos Crivelaro, essa abundante oferta do setor, nesta época do ano, tem uma explicação. “O material de construção tem grande demanda a partir de outubro até o fim do ano, quando as pessoas costumam reformar a casa para as festas e a virada do ano-novo. Passado esse período, há a sazonalidade do setor. Portanto, agora estamos em período de baixa na procura e, como arma, as redes de material de construção usam os descontos nos preços como apelo para atrair os consumidores”, afirma.
Portanto, para quem precisa, é hora de aproveitar. “Além de sair do aperto com as despesas de começo de ano (impostos, matrícula e material escolar), os consumidores também já terminaram de quitar as dívidas que contraíram com o setor (material de construção) daquela reforma de fim de ano e já estão prontos para consumir novamente”, diz Crivelaro.
Mas é preciso ficar atento, as promoções são válidas somente para o mês de abril. Na loja C&C, por exemplo, há a campanha ‘Maior Liquidação do Brasil’, com descontos de até 70% que vai até o dia 20 deste mês, ou enquanto durarem os estoques. Os itens em promoção estão identificados por uma etiqueta vermelha. O pagamento pode ser efetuado em até dez vezes por cartão de crédito ou cheques, em condições exclusivas por meio do cartão C&C Visa, boleto bancário para pessoa jurídica ou financiamento pelos bancos Alfa, Panamericano e Losango.
“O objetivo é facilitar ao máximo o pagamento das compras e ajudar a tornar possível o sonho da casa própria ou da reforma”, afirma o diretor-geral da rede, Jorge Gonçalves Filho.
A Dicico realiza a promoção ‘Liquida Já’, também com descontos de até 70%. As ofertas são válidas de hoje a quarta-feira para dois mil produtos com preços especiais. A rede oferece a opção de parcelar as compras em até 15 vezes, sem juros e sem entrada, pelo cartão de crédito Dicico.
“Queremos avisar o consumidor para fazer as suas compras enquanto a ‘Liquida Já’ estiver em andamento”, diz o diretor de marketing da empresa, Carlos Roberto Corazzin.
A Leroy Merlin lançou o ‘Festival da Variedade 2008’, que vai até o dia 22 deste mês. Os descontos chegam a até 50% em mais de 65 mil produtos de construção, acabamento, bricolagem, decoração e jardinagem. “‘No Festival da Variedade’ conseguimos aliar diversidade de produtos com preços arrasadores. Temos tudo, do cimento à almofada”, afirma o diretor de loja, João Barreiros. A rede oferece diversas opções de pagamento, entre elas o parcelamento em dez vezes sem juros no cartão Leroy Merlin, com parcela mínima de R$ 150.
Já a Telhanorte ampliou as condições de financiamento durante todo o mês de abril. Os descontos chegam a 20%, até o dia 31. Mas, o cliente ainda pode parcelar a compra em até 15 vezes por meio do cartão Telhanorte, com juros de 1,49% ao mês e parcelas mínimas de R$ 20. A rede também oferece 40 consultores técnicos em arquitetura para ajudar gratuitamente os clientes a montar seus projetos de reforma e construção durante o mês de abril
Valor Econômico
Por Luciana Monteiro, de São Paulo
10/04/2008Para muitos investidores, o melhor dos mundos seria poder investir na bolsa, mas sem o risco de perder pelo menos o que se aplicou. Sonho? Não, realidade. É cada vez maior o número de bancos que oferecem os chamados fundos de capital protegido. Antes restrita a grandes investidores, esse tipo de aplicação vem chegando aos poucos ao varejo. Bancos como Bradesco, por exemplo, já têm carteiras com aplicação mínima a partir de R$ 1 mil. Segundo dados do site financeiro Fortuna, os fundos de capital protegido somam patrimônio de R$ 2,250 bilhões até o dia 7. Há um ano, essas carteiras tinham apenas R$ 500 milhões.
A proteção cai bem num momento de mercado em que há a percepção de que a volatilidade aumentou. Quando lançados, esses fundos ficam abertos para aplicações durante um período. Depois, não é mais possível investir e o dinheiro tem de ficar aplicado de seis meses a um ano, em geral.
Simplificando, esses fundos funcionam como uma aposta: se o Ibovespa ou a ação subir, mas sem bater em determinado nível definido na hora da aplicação, o investidor leva o ganho todo. Se alcançar ou passar desse limite, porém, a aplicação vira uma renda fixa. E se o índice ou a ação cair, o aplicador leva o principal. Alguns fundos dão um prêmio de consolação, pagando ao investidor alguma coisa mesmo no caso de queda.
Nesses fundos, os gestores usam opções - contratos que dão o direito de comprar ou vender um ativo numa data específica, a um preço preestabelecido. São estratégias de vários tipos, com opções de bolsa, renda fixa, etc. Há também casos em que os gestores contratam um seguro para garantir o principal. O mais comum, no entanto, é o uso de opções.
E o número de fundos não pára de crescer. O HSBC lança hoje um multimercado que trabalha com sete cenários de retorno para o cotistas. É o sexto fundo de capital protegido criado pelo banco, com a família "Smart" somando R$ 377 milhões. A carteira HSBC Multimercado Smart Timing será voltada para investidores qualificados - com mais de R$ 300 mil para aplicar. Ele trabalhará com cenários em que o Ibovespa varia entre uma queda de 10% e um alta de 45%. O ganho do investidor vai depender do comportamento do índice nos 18 meses de duração do fundo.
A volatilidade está aqui para ficar e muitos investidores ainda não estão com visão de longo prazo, dados os altos resgates neste ano em multimercados, diz Pedro Bastos, diretor-geral da HSBC Investments. Segundo ele, assim como os primeiros fundos "Smart", que inicialmente foram lançados para os investidores mais abonados e depois para o varejo, esta carteira também poderá chegar ao investidor de menor porte.
Embora, à primeira vista, o investidor só tenha vantagens nesse tipo de aplicação, é preciso levar em conta que esses fundos têm gatilhos, tanto de alta quanto de baixa, que disparam a qualquer momento da aplicação - até mesmo durante o pregão. Com o mercado oscilando muito, a chance de o investidor sair só com os juros, sem os ganhos da ação no período, é grande. Isso representa um custo de oportunidade no caso de a bolsa se recuperar, pois os recursos estarão presos na aplicação.
A taxa de retorno se a aplicação bater as barreiras de alta ou baixa também pode ser menor daquela que o investidor teria com outros instrumentos de renda fixa no período. "O investidor precisa também ter a consciência que ele tem o custo da taxa de administração", lembra Osvaldo Salles, gerente-executivo de produtos de alta renda do Banco do Brasil. "Se o pior cenário se confirmar e o investidor ficar só com o principal aplicado, no fim, ele receberá menos, já que há os custos com a administração do fundo." O banco encerrou a captação de uma carteira desse tipo na semana passada. Mas, dentro de duas ou quatro semanas, lançará outra. Segundo o Fortuna, o BB é o maior gestor de fundos de capital protegido, com R$ 785,5 milhões.
No fim de março, o Safra criou uma carteira batizada de "Blue Chip", que divide os recursos em outros dois fundos, um só de Petrobras e outro só de Vale, ambos com proteção de principal. Se no vencimento, em 31 de julho do ano que vem, um deles tiver caído e o outro subido, o investidor recebe 90% do ganho da ação em um e o principal aplicado no outro que perdeu. Já se uma das duas ações subir e bater 45% em algum momento, o fundo torna-se um renda fixa, com ganho de 18% ao ano, além dos 90% do retorno do outro fundo que não estourou o limite. Já se os dois estourarem o limite de 45% de alta, o investidor fica com a taxa prefixada nos dois. Mas, se tanto Petrobras quanto o Vale caírem, o investidor leva o principal nos dois.
Esta é a segunda carteira com capital protegido lançada pelo Safra neste ano. Ela, no entanto, já está fechada para captação. Mas, de acordo com Carlos Alberto Torres Melo, diretor da asset do Safra, a intenção do banco é oferecer fundos desse tipo a cada dois meses ou até a cada 45 dias. "Em função da alta volatilidade, é grande a demanda por carteiras em que o investidor tem certeza que receberá pelo menos o que investiu de volta, mesmo aplicando na bolsa", diz. Pelos dados do Fortuna, o Safra tem R$ 217,9 milhões em fundos de capital protegido.
O ABN Amro encerrou no início do mês a captação do fundo Real Capital Protegido 2. Nele, se a bolsa subir até 35% num período de 15 meses, o investidor ganha 100% da variação do Ibovespa. Se superar, fica com o equivalente a 123% do CDI. Já se o índice cair até 20%, o aplicador recebe o percentual como ganho, ou seja, se cair 10%, tem um retorno de 10%. Mas se cair mais de 20%, o investidor recebe o principal aplicado. "Esse é um tipo de fundo que joga com a aversão a perdas do investidor, pois estudos mostram que ele não teme o risco, mas os prejuízos", diz Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais da ABN Amro Asset Management, que tem R$ 37,8 milhões em carteiras de capital protegido. Para o varejo, o banco já fez três tranches de captação para o Estratégia Segura, que conta com seguro acoplado.
Já o Bradesco tem quatro fundos multimercados com capital garantido, todos com prazo renovável automaticamente a cada 63 ou 84 dias, conforme a carteira. Após esse período, o investidor que não pede resgate tem a sua aplicação renovada. Já aqueles que querem entrar têm algumas "janelas", alguns dias para aplicar. "Em momentos de alta volatilidade, essas carteiras aparecem como opção para quem quer correr riscos, mas proteger o capital", diz Herculano Anibal Alves, superintendente executivo da Bradesco Asset Management (Bram) que, segundo o Fortuna, tem R$ 228,7 milhões em capital protegido.