segunda-feira, 13 de julho de 2009

Por que trocar de banco


Correio Braziliense - 13/7/2009


É possível economizar até 50% com pagamento de tarifas e juros ao comparar custos das instituições
 

Vicente Nunes

Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press

Maria Helena Pereira é empresária e já trocou de banco quatro vezes nos últimos dois anos

  


A empresária Maria Helena Pereira da Silva, 44 anos, é daquelas que controlam os centavos, especialmente quando envolvem juros e tarifas bancárias. Não foi à toa que, nos últimos dois anos, ela trocou de banco quatro vezes tentando reduzir suas despesas. Apesar do desgaste, não tem do que reclamar. Na ponta do lápis, Helena mostra que está economizando mais de 20% por ano com juros do cheque especial e com o pagamento dos serviços. "Comigo, não tem moleza. Controlo tudo mesmo, centavo por centavo, pois, se não houver um rigor no acompanhamento das despesas bancárias, meu trabalho fica inviável", diz.

Helena faz parte, porém, de um seleto grupo de brasileiros que se dão ao trabalho de mudar de banco quando se sentem prejudicados pelo excesso de tarifas e de juros. "Infelizmente, as pessoas são acomodadas. Preferem continuar pagando caro para manter a conta corrente, mesmo sendo mal atendidas, do que buscar melhores condições", afirma o presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), Geraldo Tardin. "Além disso, há a tradição. As pessoas gostam de dizer que são clientes há mais de 20 anos de uma instituição", emenda. Resultado: esse tipo de comportamento só beneficia os bancos, que ampliam os seus ganhos.

Tardin sabe do que fala. Levantamento feito pelo Correio, com a ajuda do Banco Central, explicita o quanto vale a pena mudar de banco se o consumidor perceber que está pagando caro demais pelos serviços que recebe. Considerando apenas duas linhas de crédito - cheque especial e crédito pessoal - e cinco tarifas prioritárias - folha de cheque, saque em terminal, extrato eletrônico, transferência por DOC ou TED e renovação anual de cadastro - , é possível economizar até 50% ao ano quando se comparam os custos das seis maiores instituições: Itaú, Banco do Brasil (BB), Bradesco, Caixa Econômica Federal, Santander e HSBC (veja quadro).

Essa diferença de custos é vista com simpatia pelo chefe do Departamento de Normas do BC (Denor), Sérgio Odilon, porque confirma a competição do mercado, a despeito de mais de 80% da clientela bancária estar nas mãos dos seis maiores bancos do país. "A maior concorrência foi possível graças aos instrumentos dados pelo BC para que qualquer pessoa possa trocar de banco sem ônus", afirma. "É o caso da portabilidade, palavra da moda, graças ao sistema de telefonia", ressalta.

Há, também, a portabilidade do crédito. Ou seja, uma pessoa que tem uma dívida com seu banco a um custo elevado pode transferir esse débito para outra instituição, caso lhe seja oferecida uma taxa de juros menor. Na hora da transferência, o banco que está sendo deixado para trás deve dar os descontos nas prestações que não foram pagas.

Outra facilidade é a conta-salário. Quem é obrigado a receber por um banco, mas não quer manter relação com essa instituição, tem direito a abrir uma conta apenas para trânsito do salário. A transferência do dinheiro tem de ser feita no mesmo dia, sem ônus. "Estamos falando de transparência, de aumento da competição, processo que se completou com a uniformização das tarifas bancárias, uma forma de os correntistas saberem o que estão pagando", acrescenta o chefe do Denor.

Odilon ressalta, contudo, que, ao fazer as comparações, os clientes devem comparar tarifas, taxas de juros e de administração cobradas, além das anualidades dos cartões de crédito. "É o gasto geral com serviços e juros que nos dá a visão mais clara do que realmente estamos pagando", avisa.

Sem leilão

Foi essa visão mais detalhista que levou a consultora Maria Inês Ramos, 30, a trocar de banco. "Apenas com a taxa de manutenção de conta e com o uso de DOC, estou economizando mais de R$ 300 por ano", afirma. Ela ressalta que até tentou negociar a redução dos custos, mas não teve sucesso. "Não me fizeram nenhuma contraproposta", assinala. Posições como essa, para Sérgio Odilon, tendem a estimular a troca.

Os bancos estão preparados para atrair clientes de outras instituições. O vice-presidente de Novos Negócios e Varejo do BB, Paulo Rogério Cafarelli, garante que o banco está pronto para a briga. A seu ver, os clientes têm de avaliar o conjunto de serviços. "E, nesse caso, estamos em uma posição muito confortável, pois baixamos as nossas taxas de juros e nossas tarifas estão entre as mais baratas", diz. O vice-presidente de Finanças da Caixa Econômica Federal, Márcio Percival, acrescenta: "São os bancos públicos que estão forçando a queda dos juros e a competição nas tarifas. Os bancos privados terão de nos acompanhar se não quiserem perder mercado".

Para o superintendente de Produtos do Santander, Hugo Sérgio Assis Júnior, a alternativa mais econômica é concentrar as operações em um único banco. "Há pacotes de serviços para cada perfil de movimentação", assinala. Mas vale um alerta. "É preciso avaliar muito bem esses pacotes, pois, em alguns casos, o que está dentro não é exatamente o que o cliente precisa", diz Geraldo Tardin, do Ibedec.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Bradesco assegura que está empenhado em oferecer as melhores condições de taxas e tarifas a seus clientes. Já o HSBC destaca que a concorrência imposta pela portabilidade foi bem-vinda. A instituição acredita que, para esse instrumento se tornar mais consistente, é preciso que entre em vigor o cadastro positivo, que inclui os bons pagadores do sistema. O Itaú não se manifestou.


1- Portabilidade

O usuário do sistema financeiro pode levar seu cadastro, com todo o histórico bancário, para outra instituição a custo zero. O banco é obrigado a liberar o cadastro em, no máximo, 15 dias, evitando que o correntista tenha o seu novo cheque rejeitado na praça por ter uma conta com menos de seis meses.

É o gasto geral com serviços e juros que nos dá a visão mais clara do que realmente estamos pagando
Sérgio Odilon, chefe do Departamento de Normas do BC

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