quarta-feira, 15 de julho de 2009

Juro baixo força redução de taxas de fundos no varejo

Autor(es): Alessandra Bellotto

Valor Econômico - 15/07/2009

  

As taxas de administração dos fundos DI, renda fixa e de ações cobradas no varejo estão em queda gradual desde 2004. Já nos multimercados, o custo vem crescendo ano após ano. É o que mostra levantamento da Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (Anbid) com 401 fundos que reúnem patrimônio de R$ 205 bilhões, cerca de 16% do setor, e 6,7 milhões de cotistas. A amostra levou em conta os fundos administrados pelas seis maiores instituições do varejo do país, que concentram 85% dos recursos sob gestão no setor.

Nos DI, a taxa média de administração ponderada pelo patrimônio líquido passou de 1,82% ao ano em 2004 para 1,49% em maio, uma queda de 18% no período. Na renda fixa, a redução foi de 30%, passando de 1,38% para 1,13%. Já nos fundos de ações, o corte foi de 12%, de 2,58% para 2,27% ao ano. O custo mais baixo reflete a redução gradual da taxa básica de juros, disse o vice-presidente da Anbid, Alexandre Zákia. "O juro menor é um fator de pressão para o corte das taxas."

Cinco anos atrás, quando a Selic estava em 16%, 17% ao ano, os gestores de fundos podiam cobrar mais, disse Zákia. Com o juro alto, havia gordura para abrigar taxas maiores sem que isso prejudicasse de forma relevante e aparente a rentabilidade das carteiras. Hoje, segundo o executivo, com a Selic a 9,25%, a taxa de administração passou a pesar mais.

O ganho de escala também contribuiu para a redução das taxas de administração. "Quanto maior a indústria, mais diluídos ficam os custos fixos", explicou. Segundo ele, na taxa de administração estão embutidas despesas com gestão, distribuição e controladoria. No varejo, disse, cujos tíquetes de aplicação são pequenos, pesa muito o custo de distribuição, que envolve serviços de agência, certificação de gerentes, extratos e call center.

Ainda na avaliação de Zákia, tiveram papel importante no processo de queda de taxa o aumento da competição - hoje o setor conta com cerca de 250 gestores - e a evolução da arquitetura aberta (distribuição de fundos de terceiros). O investidor ganhou mais alternativas para barganhar. Contudo, a categoria de multimercados, na qual a cultura da arquitetura aberta é mais forte, teve aumento de custos. A taxa média dos fundos subiu 25%, de 1,38% ao ano em 2004 para 1,72% em maio último.

Para o representante da Anbid, duas hipóteses poderiam explicar esse movimento: a ampliação da oferta de multimercados para o varejo, segmento em que os custos são mais altos, e a busca por fundos com melhor rentabilidade, os mais caros. Zákia afirmou, no entanto, que para esse tipo de fundo a taxa de administração é menos relevante por conta da capacidade de o gestor gerar valor.

O estudo da Anbid levantou ainda a distribuição do patrimônio líquido por nível de taxa. Na renda fixa, mais de 92% dos recursos estão em carteiras com taxas de administração de até 2%. Nos DI, 77,4% do patrimônio está em fundos com taxas de até 2%. Vale destacar que os fundos vendidos no varejo têm aplicações mínimas variadas, podendo oscilar de R$ 100 até R$ 300 mil. As carteiras mais baratas são justamente aquelas que têm os tíquetes mais altos e, portanto, reúnem os maiores volumes. Em ações e multimercados, os recursos estão concentrados em fundos com taxas entre 1% e 2%.

As taxas de administração no Brasil, segundo Zákia, estão em linha com os padrões internacionais. Levantamento da empresa internacional de pesquisa Morningstar com 14 países aponta que a taxa dos fundos de renda fixa oscila de 0,76% a 1%. No Brasil, informou o porta-voz da Anbid, a taxa é de 0,80% se considerados todos os fundos de renda fixa, inclusive aqueles voltados para investidores institucionais e pessoas físicas de alta renda. Na categoria ações, a taxa internacional varia de 1,50% a 1,99%, enquanto no Brasil a média é de 1,33%, segundo Zákia.

A partir de agosto, os investidores poderão acompanhar mensalmente as taxas de fundos no país pelo site da Anbid. Segundo Zákia, a iniciativa é uma reação à demanda por informações sobre os custos associados aos fundos. "Não tem a ver com aumento da competitividade com outras aplicações", ressaltou. Os fundos, disse Zákia, continuam crescendo. No primeiro semestre, a captação líquida foi de R$ 25 bilhões, o que mostra recuperação em relação ao fim de 2008, quando o saldo ficou negativo em R$ 65,3 bilhões.

O destaque no ano, porém, ficou por conta dos fundos curto prazo, com entrada líquida de R$ 9,9 bilhões, e de direitos creditórios (com R$ 13 bilhões). As carteiras de renda fixa atraíram R$ 4,6 bilhões. Já os DI tiveram resgates de R$ 7,8 bilhões e os multimercados, saques de R$ 4,8 bilhões. Apenas em junho, mês marcado por R$ 7,8 bilhões de resgates, os DI perderam R$ 2,7 bilhões, a renda fixa, R$ 1,5 bilhão e os multimercados, R$ 3,3 bilhões. "São volumes pequenos em relação ao patrimônio", disse. "Não dá para dizer que está havendo migração para a poupança", acrescentou Zákia.

No semestre, os fundos DI e de renda fixa apresentaram retorno médio de 5,64% e 5,47%, respectivamente, acima do CDI, de 5,33%. Zákia manteve a projeção de crescimento do patrimônio, hoje em R$ 1,2 trilhão, de 20% neste ano.

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