terça-feira, 25 de março de 2008

No clube, decisões são em grupo

Jornal da Tarde
25/03/2008


Cotistas aprendem juntos a investir em ações. Na crise, inexperientes encontram apoio


Os clubes de investimento são uma das portas de entrada para a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Ao reunir amigos, parentes ou colegas de trabalho em um mesmo grupo, eles dão mais segurança aos participantes, principalmente em momentos de crise.

Desde 2002, quando a Bovespa passou a promover a formação de clubes para atrair novos investidores, o número de grupos vem aumentando. Em 1998, havia 149 clubes no Brasil - hoje, já são 2.236, com um patrimônio que ultrapassa os R$ 13 bilhões.

'Para formar um clube, os membros precisam ter alguma proximidade. São pessoas que moram em um mesmo condomínio, por exemplo, ou que trabalham juntas', explica José Roberto Mubarack, assessor de relações institucionais da Bovespa.

Juntos, os participantes passam a comprar e a vender ações por meio de uma corretora. Ao discutir o destino do dinheiro com outras pessoas, o iniciante sente-se mais seguro e aprende mais. 'Explicamos sempre a eles que a Bolsa é um investimento de longo prazo, que tem riscos', diz Mubarack. 'Se nossas orientações atingiram o objetivo, os clubes perceberam que o momento atual é o de comprar - e não o de vender.'

O economista Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios, lembra que o participante do clube faz parte de um grupo. Por isso, as decisões são discutidas entre todos.

É o que ocorre no clube Só Meninas, formado por 15 amigas de São José dos Campos, no interior de São Paulo. 'A iniciativa surgiu em setembro de 2007', conta a engenheira Sílvia Gasparetto, de 37 anos. 'Nós queríamos aprender mais sobre a Bolsa, e a forma que encontramos foi o clube.'

Com patrimônio de R$ 130 mil, o Só meninas recebe aportes mínimos de R$ 100 por mês, de cada sócia. Para entrar, é preciso investir R$ 5 mil. 'Toda quarta-feira, às 19h, nós fazemos um encontro semanal. O aprendizado é constante', diz Sílvia.

Com os altos e baixos do mercado, o medo de algumas sócias aumentou. Nessas horas, as mais experientes tranqüilizam as mais novas. 'Estamos passando por uma fase de queda, mas o clube vai bem', garante.

O diretor da corretora Planner, Paulo Roberto da Silva, ressalta que o destino dos investimentos são de responsabilidade dos membros. 'Você é levado a discutir os rumos do clube, mesmo sendo um mero cotista', explica. 'Normalmente, o perfil é conservador, porque os investidores estão guardando dinheiro pensando no longo prazo.'

Manuel Lois, diretor de novos negócios da Spinelli Corretora, defende que os investidores bem-sucedidos são os que poupam regularmente, por mais de cinco anos. 'O clube tem riscos? Todo investimento tem', diz Lois. 'Mas no longo prazo, quando você espera as empresas prosperarem, acaba ganhando dinheiro com isso.'

Como os clubes reúnem o dinheiro de todos os membros, o capital para investir é maior. Quando o preço das ações caem - como tem ocorrido nas últimas semanas - eles podem aproveitar o momento para comprar mais ações.

COMO FUNCIONA

Os clubes de investimento são formados por, no mínimo, três pessoas e, no máximo, por 150. Os membros são amigos, parentes, colegas de trabalho ou pessoas que façam atividades comuns

No caso de grandes empresas, a Bovespa pode abrir exceções e permitir a entrada de mais participantes. Mas nenhum deles pode deter mais de 40% das cotas

O primeiro passo para montar um clube é juntar um grupo de pessoas. Depois, é preciso entrar em contato com uma corretora, que vai fazer as operações de compra e venda de ações

Os cotistas também devem definir um estatuto, formalizando as regras de
participação. Cada sócio preenche um cadastro, que é registrado na Bovespa e na Receita Federal

O clube de investimentos está voltado para a Bolsa. Pelo menos 51% do capital disponível devem ser investidos em ações

A decisão do que fazer com o dinheiro é tomada em conjunto. A participação de todos é incentivada, e ocorrem assembléias regulares.
Todo clube possui um 'gestor', que vai operar os investimentos. Esse gestor pode ser um dos membros do clube (geralmente o mais experiente) ou um analista indicado pela corretora

O custo do clube é baixo. Paga-se apenas a corretagem e a taxa de administração. No caso dos fundos, além desses dois encargos há despesas com taxas de performance (em alguns casos), auditorias
externas, taxas de custódia e custos de envio de documentos

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