terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Vítimas do custo

Valor Econômico
Por Angelo Pavini, de São Paulo
12/02/2008


Que os fundos DI e renda fixa oferecidos para o varejo perdem para a caderneta de poupança depois do desconto do imposto de renda, já se sabia. A novidade é que mesmo fundos que exigem aplicações maiores, de R$ 10 mil, R$ 30 mil, também estão rendendo menos que a aplicação mais conservadora do mercado. Trata-se de um alerta importante para o investidor que, assustado com o comportamento oscilante da bolsa e dos multimercados, procura agora a proteção nessas carteiras -até dia 7 de fevereiro, os DIs captaram R$ 8,251 bilhões no ano.


Um levantamento feito pelo Valor com base nos dados do site Fortuna mostra que, entre 30 fundos oferecidos nas agências, apenas 10 ganharam dos 7,70% pagos pela poupança no ano passado. Isso considerando que a aplicação no fundo tenha mais de dois anos e a alíquota de imposto seja a mais baixa, de 15%. Se considerarmos a alíquota mais alta, de 22,5%, para aplicações até seis meses, nenhum dos 30 fundos ultrapassa a poupança.


O resultado mostra o efeito das taxas de administração cobradas pelos bancos nas carteiras mais populares, com valor de aplicação entre R$ 500 e R$ 1 mil. Há fundos que cobram 5% ao ano, o equivalente a 44,44% da taxa básica de juros, de 11,25%. Isso significa que, do ganho obtido com a aplicação do dinheiro do cliente no mercado, quase metade fica com o banco. E há diversos fundos com taxas de 3,5% a 4% ao ano, o que equivale a um terço da taxa de juros. O Valor procurou todos os bancos citados - Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, ABN Amro Real, Santander, Caixa Econômica Federal, Unibanco - e a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), mas apenas a Caixa, justamente a que tem as taxas mais baixas, se dispôs a comentar o desempenho.


No caso dos fundos de renda fixa, vale a ressalva que essas carteiras foram prejudicadas também pela alta dos juros no mercado futuro no segundo semestre de 2007 - algumas chegaram a registrar perdas nas cotas. Mas com certeza as taxas de administração também ajudaram a derrubar os ganhos.


O impacto das taxas de administração aumentou com a queda dos juros. E a caderneta de poupança tem a vantagem de não pagar imposto de renda e ter um ganho real de 0,5% ao mês, ou 6,17% ao ano acima da Taxa Referencial (TR). Com a decisão do governo de evitar que a TR fique negativa - o que teria ocorrido já em dois dias deste mês -, esse ganho seguirá intacto.


Os renda fixa são muito similares aos DIs e seu desempenho depende fundamentalmente da taxa de administração, que é elevada para o varejo, afirma o professor William Eid Junior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Segundo Eid, para empatar com a caderneta neste ano - imaginando-se um rendimento de 7,5% -, um fundo sujeito ao imposto de renda de 22,5% até seis meses teria de cobrar no máximo 1,5% de taxa de administração. Para a alíquota mais baixa, de 15%, a taxa de administração máxima seria de 2,25%. "E isso tendo de esperar dois anos para resgatar o dinheiro", afirma Eid.


O economista observa que, apesar de a taxa de administração ser crucial, o investidor de varejo não olha para esse custo. "Não é falta de opção, é falta de informação e atenção, e não é só problema de pequenos aplicadores", diz. "Tenho um amigo com R$ 3 milhões em um fundo de um grande banco e ele não sabe quanto paga pela administração." Para Eid, esses fundos mais caros sobrevivem "porque o gerente da agência vende bem" e porque o investidor não tem o hábito de comparar aplicações. Essa clientela cativa permite aos bancos manter as taxas.


Tanto as taxas de administração quanto o imposto de renda dos fundos são altos para as atuais condições do mercado, o que faz com que a caderneta, isenta, leve vantagem, explica Marcelo D'Agosto, diretor do site Fortuna. A diferença entre o ganho da poupança e o CDI também caiu muito no último ano, o que reduziu a competitividade dos fundos. "De 1998 a 2006, o CDI ficou em média 6 pontos percentuais acima do retorno da caderneta, mas essa diferença caiu para 4 pontos no ano passado", afirma D'Agosto. Os bancos, lembra ele, argumentam que não podem reduzir taxa porque o custo de atender muita gente é elevado, porque oferecem várias comodidades para o investidor, e o governo diz que precisa do imposto. Nesse impasse, uma alternativa seria reduzir o ganho da poupança - o que não parece estar nos planos do governo por enquanto pelo desgaste político.


D'Agosto lembra que a taxa de administração média do mercado está caindo nos últimos anos, mas que isso reflete mais a entrada de novos fundos destinados à alta renda do que reduções de taxas no varejo - alguns bancos chegaram a aumentar o custo nos últimos anos para carteiras de menor valor, caso do BB. "Os fundos estão se elitizando, essa pode ser a opção dos bancos", diz D'Agosto, que lembra que há também pouca transparência nos custos das carteiras. "Talvez com mais transparência, poderia-se discutir formas de reduzir esses custos, como diminuir a periodicidade de envio de extratos para fundos de menor risco".


O fundo Caixa Prefixado Renda Fixa sofreu no ano passado por conta da alta dos juros, como os demais fundos da categoria, explica o gerente nacional de fundos de renda fixa da Caixa, Marcelo de Jesus. "Mas os outros dois, DI e Prêmio, superam a poupança se considerada a alíquota mais baixa, para dois anos", diz ele, observando que esses fundos são de longo prazo e indicados para quem quer esperar esse prazo. Segundo Jesus, a situação para os fundos DI em relação à caderneta pode melhorar este ano, uma vez que os juros pararam de cair e alguns falam até em alta das taxas por conta da inflação mais alta.

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