segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A bolsa na palma da mão

Valor Econômico
Por Adriana Cotias e Danilo Fariello, de São Paulo
11/02/2008



Nestes tempos de forte oscilação das bolsas, fica mais evidente que cada segundo ou minuto pode fazer diferença nas aplicações de curto prazo. É exatamente neste momento que as corretoras começam a oferecer a seus clientes serviços de negociação de ações por meio do telefone celular, quebrando qualquer barreira geográfica. Se a primeira onda de popularização do mercado acionário se deu pela criação do home broker (o sistema de compra e venda da Bovespa pela internet), é factível que uma segunda fase seja agora inaugurada com a mobilidade dada pela telefonia celular, até em aparelhos menos sofisticados.


Os números do home broker da Bovespa, preferencialmente usado por jovens entre 19 e 30 anos, com plena afinidade com as novas tecnologias, dão pistas do mercado potencial. Em janeiro, as pessoas físicas negociaram o recorde de R$ 24,7 bilhões, em 2,52 milhões de transações. Mais de 200 mil aplicadores colocaram ordens de compra ou venda pelo sistema. Se um terço deles aderir às operações via celular, serão 65 mil investidores.


De olho nesse quinhão, algumas corretoras já se movimentam. Na semana passada, o Itaú lançou o seu "mobile broker" para os chamados "smart phones", celulares inteligentes que também têm a função de computador de mão, tais como Blackberry, MotoQ, HTC e iPhone. E, a partir de hoje, a Ativa será a primeira corretora independente a oferecer o serviço, que estará disponível até em aparelhos mais populares como o V3 da Motorola, que custa cerca de R$ 250,00. O sistema foi testado em um aparelho desses pela reportagem do Valor, com uma ordem de compra de Petrobras, executada em tempo real. No momento seguinte, a operação apareceu na carteira do cliente.


A tecnologia foi desenvolvida pela Cellbroker, especialmente para a Ativa, que terá três meses de exclusividade. De cara, 40 tipos diferentes de aparelhos poderão ser habilitados. O objetivo, segundo a diretora comercial, Silvia Werther, é aprofundar as relações com o varejo. Fundada em 1983, só há dois anos a corretora passou a ter produtos e serviços específicos para o pequeno investidor, lançando seu home broker. "Temos atingido um público que desconhecia o mercado de capitais e agora queremos levar vantagem pelo pioneirismo." Além de cativar quem já está dentro de casa, Sílvia espera atrair 400 novos clientes para a corretora.


Hoje, a base de pessoas físicas da Ativa chega a 30 mil investidores e a expectativa é de que algo entre 20% a 30% deles incorporem as transações pelo celular no seu dia-a-dia, estima o gerente de operações Jansen da Costa. O sistema estará disponível por R$ 30,00 ao mês, com isenção para clientes que acumulem R$ 495,00 de gastos com corretagem no período. O custo por ordem de compra e venda será de R$ 16,50, R$ 1,50 acima do cobrado nas transações pelo home broker tradicional.


A Cellbroker já contava com um serviço de difusão de informações pelo celular, com cotações em tempo real, livros de ofertas e gráficos, mas era um sistema passivo, conta o diretor executivo Paulo Baratta. "Agora, a interatividade chega de fato às mãos do investidor." Tanto as cotações quanto a execução de ordens são em tempo real e entram automaticamente nas posições do investidor. Tais tecnologias começaram a ser desenvolvidas há dois anos e demandaram investimentos de R$ 2 milhões. A Cellbroker espera distribuir seu sistema de negociação pelos celulares em parceria com outras 20 corretoras ainda este ano. "Grande parte dos consumidores de celular no Brasil prefere os aparelhos simplificados e não está disposto a investir R$ 2 mil num celular."


A CMA, outra fornecedora de serviços de tecnologia para instituições financeiras, também já possui todos os sistemas engatilhados para lançar o serviço de operações pelo celular. A empresa gastou US$ 700 mil - em estrutura dentro e fora do Brasil - no sistema de informações remotas, já disponível a 365 clientes de algumas corretoras e outras empresas, mas ainda se prepara para lançar a plataforma de negociações eletrônicas. Segundo a CMA, as 57 corretoras clientes da empresa estão em negociações e têm interesse no modelo de negociação por telefone. Elas perfazem cerca de 90% do mercado do home broker.


Para César Spadaccia, diretor de sistemas informativos da CMA, o volume de procura por informações no celular pelos clientes já é intenso. Spadaccia diz que, pela plataforma da CMA, há investidores que já consultam informações sobre o mercado de diversos locais e até de outros países, como EUA, Chile e Uruguai. Mas as operações ainda tendem a demorar mais um pouco.


Para o investidor ter acesso a um sistema de informações sobre ações no celular, ele precisa baixar um programa, tanto no Cellbroker quanto pela CMA. Na CMA, o download é gratuito, mas o cliente paga pela senha que lhe dá direito a acessar os dados. Esse custo poderá variar ao redor de R$ 100, se o aplicador for cliente de uma das 57 corretoras que adotam os serviços da CMA, ou até de R$ 500 - variando conforme o conteúdo contratado -, se ele ainda não tiver conexão com outros produtos da empresa de serviços de tecnologia.


Pela CMA, apenas aparelhos celulares com tecnologias mais de ponta podem ter acesso, os chamados computadores de mão. No http://mobile.cma.com.br é possível descobrir quais são os aparelhos compatíveis. Além de um aparelho bom, é recomendável que o cliente tenha um pacote sem limites para transferências de dados com a operadora.


No Itaú, que começou a oferecer a negociação por celular na sexta-feira, o investidor precisa ter um aparelho com a tecnologia HTML, diz o diretor-geral da corretora, Roberto Nishikawa. "Hoje, 10% a 15% dos celulares no Brasil já são HTML", diz. Segundo Nishikawa, a corretora espera que até o fim do ano, 15% dos clientes ativos da instituição usem a negociação via celular. "Hoje temos 50 mil clientes ativos, mas pretendemos chegar a 100 mil no fim do ano, com 15 mil negociando pelo telefone", diz. No sistema do Itaú, o investidor acessa o site da corretora e a área de negociação de ações. Depois, faz a ordem e dá a senha do cartão do banco. "O sistema é seguro, porque o dinheiro só sai da conta para as ações e vice-versa, e tudo com a senha do banco." (Colaborou Angelo Pavini)

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