terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Os ganhos da previdência

Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
15/01/2008

Os participantes da previdência privada que acham que ter um PGBL ou VGBL já lhes garante aquele futuro sorridente das campanhas devem pensar duas vezes. A rentabilidade entre os planos - que no ano passado captaram mais de R$ 13 bilhões -varia bastante. Mas os mais antigos, que em sua maioria investem só em renda fixa e têm custos maiores, tiveram forte queda nos ganhos. Na média geral, segundo o site Fortuna, os planos puros de renda fixa renderam 11,39% no ano passado, ou o equivalente a 96% do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, referência para a renda fixa). No entanto, os planos maiores e mais antigos apresentaram rentabilidade bastante abaixo dessa média, por conta de custos como elevadas taxas de administração, de 4%, 5% ao ano. Alguns chegam até a perder da caderneta de poupança, dependendo da alíquota de imposto considerada no cálculo.


Pela tabela regressiva do imposto de renda (que vai de 35% para saques no primeiro ano a 10% após 10 anos), para ter rendimento líquido acima dos 7,70% pagos pela caderneta em 2007, o VGBL deveria ter rendido acima de 8,5% para a alíquota menor ou de 11,8% para a maior. Vários grandes fundos não conseguiram sequer atingir o percentual menor.


Muitos participantes da previdência privada já abriram o olho para o encolhimento da rentabilidade dos planos antigos, mais conservadores e mais caros, e buscam migrar para planos mais arriscados, mais baratos ou investir dinheiro novo em produtos mais rentáveis. Segundo o relatório do site Fortuna, quanto mais arriscado o plano, mais ele recebeu depósitos em 2007. Assim como ocorreu nos fundos de investimento, os aplicadores da previdência foram atrás de onde estão os grandes lucros.


O Fortuna dividiu os 83 maiores planos de previdência em quatro quadrantes, segundo sua rentabilidade. Os planos com ganho de até 9,62% (puros de renda fixa, com taxas altas) saíram de patrimônio de R$ 34,7 bilhões no começo do ano para R$ 37,3 bilhões no apagar das luzes de 2007. No entanto, descontada a rentabilidade, os planos diminuíram, com resgates líquidos de R$ 388 milhões. Mas nos fundos de renda fixa com taxas baixas e multimercados conservadores, que renderam entre 9,62% e 11,82% no ano, houve captação líquida de R$ 1,9 bilhão. Na categoria com ações, que rendeu entre 11,82% e 14,05%, o volume de depósitos superou o de saques em R$ 1,7 bilhão.


Mas foi para a categoria mais agressiva, que rendeu acima de 14,05% no ano passado, que grande parte dos aplicadores tomou rumo, com R$ 8,3 bilhões captados, mais da metade dos R$ 13 bilhões aplicados pelo setor. "No ano passado, houve uma clara mudança cultural, o brasileiro está aprendendo a investir em previdência e olhar a rentabilidade", diz Alessandra Cardoso, consultora sênior da Towers Perrin. "Além de só investir, as pessoas começaram a cobrar produtos melhores e a migrar para eles."


Os planos de previdência no Brasil sempre cobraram taxas de administração elevadas (de até 5% ao ano), mas o alto rendimento oferecido pela renda fixa até há alguns anos mascarava esses custos, explica Alessandra. Com o encolhimento do CDI, de 19% em 2005 para 11,8% no ano passado, 1 ponto percentual de taxa de administração ganhou mais peso. "Mas também tivemos mudanças estruturais que facilitaram a evolução do setor, como a maior facilidade para migrar entre os planos", completa ela.


Em paralelo à maior preocupação com a rentabilidade dos planos, cresceu também o volume aplicado em PGBL e VGBL. Segundo dados do Fortuna, a captação de 2007 é recorde, R$ 2 bilhões acima dos R$ 11 bilhões de 2006. O volume de reservas técnicas (a soma de todo o valor em patrimônio dos planos) do setor supera R$ 120 bilhões.


Ao comparar o retorno da previdência privada aberta com outras alternativas de investimento, como fundos e a caderneta, o investidor não deve esquecer, ainda, que sobre as aplicações em PGBL e VGBL normalmente há cobrança de taxa de carregamento. Essa taxa é uma espécie de pedágio que banca a distribuição das aplicações. Se ela for de 2%, por exemplo, quem depositar R$ 100 vê a aplicação iniciar com R$ 98, o que pode impactar o retorno total do investimento, principalmente em prazos menores.


No ano passado, as seguradoras também não permaneceram paradas ao ver essa situação complicada para os planos antigos. Lançaram produtos mais sofisticados, sem taxa de carregamento e com custos de administração menores e, principalmente, mais agressivos. "O patrimônio dos nossos planos com renda variável, incluindo o rendimento, cresceu 160% em 2007, enquanto os de renda fixa subiu 40%", diz Marcio Barbosa Matos, superintendente de investimentos da Brasilprev, empresa de previdência privada aberta do Banco do Brasil.


Há um temor, porém, de que os investidores estejam expondo dinheiro conservador - para bancar a aposentadoria - em riscos demasiadamente agressivos, comenta Marcelo D'Agosto, diretor do Fortuna. "O aplicador foi atrás do que está rendendo mais, mas pode estar ignorando alguns riscos." Alessandra, da Towers Perrin, também não sabe como se portariam esses investidores em uma reversão brusca das ações. Já Márcio, da Brasilprev, acredita que os perigos da renda variável são manejáveis no longo prazo. "Mas, no curto prazo, o aplicador tem de ter consciência desse risco", reconhece.


Para 2008, a expectativa do mercado é de continuidade dessa sofisticação do setor de previdência aberta e, dependendo do desempenho das ações, continuidade também desse ganho de espaço dos planos mais agressivos. Normalmente, as novidades do setor aberto são precedidas de mudanças regulatórias nos fundos de pensão, diz Alessandra, da Towers. "Por isso, é possível esperar, por exemplo, uma maior flexibilidade para os planos abertos investirem em derivativos e em títulos de crédito privado, mas ainda não seria esperada a queda do limite de 49% para aplicações em bolsa."

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