segunda-feira, 6 de agosto de 2007

SERVIÇOS QUE PESAM NO BOLSO

O Globo 6/8/2007

Martha Beck


Despesas pessoais sobem mais que o dobro da inflação nos últimos 12 meses
Diretamente ligado ao crescimento da economia, o setor de serviços passa hoje por uma recomposição de preços. Os brasileiros estão aproveitando o fato de terem mais dinheiro no bolso para atividades como comer fora ou ir ao salão de beleza, abrindo espaço para reajustes. A inflação relativa às despesas pessoais cresce hoje num ritmo em torno de 8%, nos últimos 12 meses encerrados em junho, enquanto o IPCA no mesmo período está em 3,69%.
Na avaliação interna de parte do governo, no entanto, esse fenômeno não é suficiente para alterar a tendência de redução da taxa básica de juros pelo Banco Central. Segundo técnicos, a recomposição dos preços de serviços está diretamente ligada ao aumento da renda e do consumo, mas não representa riscos para a política de combate à inflação. A perspectiva é que essa alta de preços vai se acomodar em novo patamar e não é uma explosão inflacionária.
Essa também é a avaliação de João Sicsú, professor do Instituto de Economia da UFRJ:
- A inflação do setor de serviços é um movimento natural do crescimento da economia. A alternativa do Banco Central não deve ser aumentar juros para conter esse movimento. Aliás, é uma característica histórica ter crescimento com inflação no setor de serviços. Fazenda não vê risco, BC é cauteloso
Nos bastidores da equipe econômica, no entanto, a avaliação sobre o controle inflacionário parece não ser ponto pacífico. O Banco Central, que tem uma postura mais conservadora, já sinalizou, na última ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que poderá reduzir o ritmo de queda dos juros, apesar de admitir que a expansão da economia não gera pressões significativas sobre a inflação no curto prazo.
Já no Ministério da Fazenda, a visão é que, exceto por alguns segmentos que têm aumento sazonal dos índices, como os alimentos, não há motivos para alterar a trajetória de redução dos juros.
Desde 2005, quando a economia ficou mais aquecida, passando a ter reflexos sobre a massa salarial (soma dos rendimentos de todos os trabalhadores), a inflação do segmento de despesas pessoais vem crescendo acima da média da inflação. Em 2005, por exemplo, o IPCA ficou em 5,7%, enquanto o índice de despesas pessoais cresceu 7% e a massa salarial, 4,6%. Em 2006, o IPCA fechou o ano em 3,1%, a alta das despesas pessoais em 7,3% e a massa salarial em 6,4%.
Esse fenômeno pode ser observado, por exemplo, na demanda por serviços como o de manicure e pedicure. A manicure Jaci Bento tem hoje mais de 50 clientes que atende em casa. Ela conta que a demanda é tão elevada que tem recusado serviços:
- Dispensei mais ou menos 20 freguesas novas recentemente.
Ela afirma ainda que tem sido muito procurada mesmo tendo elevado seus preços em função dos reajustes nos transportes:
- Eu repasso para o serviço o preço da passagem de ônibus.
Segundo a economista Marcela Prada, da consultoria Tendências, a inflação de serviços deve continuar crescendo acima da média. Mas ela também acha que esse fenômeno não deve ser visto com preocupação do ponto de vista da política monetária.
- O setor de serviços é fortemente influenciado pelo aumento da demanda e, por isso, deve continuar crescendo. Mas ele representa cerca de 14% do IPCA, que vem se comportando abaixo da meta - diz Prada. Termômetro da atividade econômica
Diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Sabóia também afirma que não há motivo para preocupação:
- A inflação está baixa, a economia está crescendo sem gerar pressões sobre os preços.
Já o economista Luís Otávio Leal, do banco ABC Brasil, alerta que o setor de serviços tem como característica refletir as expectativas da sociedade em relação ao comportamento dos preços. Por isso, ele deve sempre ser monitorado.
- O setor de serviços é reativo. Ele é um termômetro do nível da atividade - afirma Leal.

Nenhum comentário:

Locations of visitors to this page