quinta-feira, 18 de junho de 2009

Come-cotas fica com um mês da rentabilidade do DI

Fundos: Efeito da queda dos juros faz imposto cobrado em maio superar o retorno de algumas carteiras também de renda fixa e curto prazo.

Valor Econômico

Por Angelo Pavini, de São Paulo
18/06/2009

 


 
 

Os investidores de fundos DI, renda fixa, curto prazo e alguns multimercados estão levando um susto ao receber os extratos de suas aplicações relativas ao mês passado. Muitos verão que o saldo investido nesses fundos diminuiu, apesar da rentabilidade das carteiras de maio. O motivo é a cobrança antecipada de imposto de renda, o come-cotas, que incide sobre essas carteiras em maio e em novembro, e que superou o ganho mensal de alguns fundos. Ou seja, o governo levou um mês ou mais do retorno bruto do investidor. No total, R$ 2,7 bilhões foram recolhidos para os cofres do governo.

O efeito do come-cotas foi ampliado pelo efeito da queda dos juros. Os fundos vinham de uma rentabilidade elevada em dezembro, que foi caindo ao longo deste ano. Assim, a base de cálculo do imposto ficou maior, enquanto o rendimento de maio refletiu a queda dos juros e não foi capaz de compensar a tributação.

 

 

Com base nos números da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), pode-se estimar o impacto do come-cotas. Nos fundos DI, que tiveram retorno médio de 5,78% de dezembro a maio, uma carteira de longo prazo, que paga 15% de come-cotas, teria imposto equivalente a 0,87%, superior ao ganho médio de 0,79% da categoria no mês passado. Já em fundos que não são de longo prazo, que pagam 20% de come-cotas, o imposto equivaleria a 1,16%.

 

 

Nos fundos de renda fixa, com retorno de 6,22% em seis meses, o imposto de 15% equivaleria a 0,93%, um pouco abaixo dos 0,97% de retorno médio de maio. E os fundos curto prazo, que pagam 20% de come-cotas, teriam 1,14% de imposto, para 0,76% de rentabilidade no mês.

A cobrança antecipada do imposto via come-cotas é uma das desvantagens fiscais que os fundos têm em relação à caderneta de poupança - que se tornam mais claras à medida que o juro básico recua. E pode ser um incentivo a mais para os investidores trocarem os fundos pela caderneta, como tanto teme o governo, que não quer perder o principal financiador de sua dívida. Hoje, com os juros de 9,25% ao ano, apenas carteiras com taxa de administração de 1,25% - uma parcela ínfima dos fundos de varejo - conseguem competir com a caderneta, que é totalmente isenta de impostos.

Apesar disso, ainda não se detectou um movimento drástico de transferência de investimentos para a poupança, dizem executivos de bancos. Neste mês, as cadernetas registraram captação de R$ 3 bilhões na primeira semana, um número ligeiramente superior ao do mesmo período de meses anteriores - em maio foram R$ 2,7 bilhões. Normalmente, os depósitos em caderneta crescem no início do mês por conta do recebimento de salários e aposentadorias.

Muitas empresas depositam os salários dos empregados diretamente em contas de poupança, estratégia usada pelos bancos para escapar do compulsório sobre depósito à vista. Assim, há um grande aumento de captação no dia 5, mas que depois desaparece à medida que os funcionários gastam o salário ao longo do mês. Ao mesmo tempo, os fundos sofrem resgates, pois as empresas sacam para pagar os salários.

De qualquer maneira, o governo deverá monitorar de perto esses números de poupança e fundos nas próximas semanas. Segundo fontes do Ministério da Fazenda, se houver uma migração mais forte de recursos, poderão ser tomadas as medidas prometidas em maio para mudar a tributação dos fundos, reduzindo o imposto para 15% independentemente do prazo. Hoje, apenas aplicações com mais de dois anos pagam 15%.

Já a tributação das contas de poupança com saldo acima de R$ 50 mil, e que terá de passar pelo Congresso, poderá ficar para depois, na esperança que a Selic volte a subir e não seja preciso tomar uma medida tão impopular.

Neste mês, até dia 12, os fundos DI acumulam resgates de R$ 1,932 bilhão, para um patrimônio de R$ 186 bilhões. Os renda fixa que podem aplicar em prefixados mantêm captação de R$ 290 milhões. Destaque para os multimercados, que captaram R$ 862 milhões no mês, e para os fundos Petrobras, que captaram R$ 11 milhões, enquanto os fundos de ações perderam R$ 566 milhões.

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