terça-feira, 25 de janeiro de 2011

CVM quer facilitar acesso de investidores a BDRs


25/01/2011

 

Regulação: Autarquia coloca em audiência pública alteração da instrução 332, que regula negócios com esses papéis.
Ana Luísa Westphalen, Fernando Torres e Angelo Pavini | De São Paulo
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) colocou em audiência pública ontem uma norma que vai facilitar o acesso de fundos de pensão e investidores pessoa física à negociação de recibos de ações de empresas estrangeiras como Apple, Google, Microsoft e General Electric no Brasil.

A proposta é alterar a instrução 332, que regula a negociação dos chamados Brazilian Depositary Receipts (BDRs) Nível I - certificados com lastro em ações de companhias com sede no exterior. A ideia é permitir a inclusão de outras categorias de investidores nas operações envolvendo esses papéis, que atualmente são restritos a instituições financeiras e fundos de investimento.

A minuta propõe que entidades fechadas de previdência complementar e os investidores pessoa física ou jurídica com investimentos financeiros superiores a R$ 1 milhão também sejam autorizados a negociar os BDRs Nível I, patrocinados ou não. O prazo para envio de sugestões e comentários à Superintendência de Desenvolvimento de Mercado da CVM termina em 23 de fevereiro.

Atualmente, as pessoas físicas - com exceção dos consultores de investimentos e dos administradores de carteira - só podem ter acesso aos papéis das companhias estrangeiras por meio de fundos. Para efeito de composição de carteira, esses recibos são considerados investimentos no exterior. A mudança tem como objetivo aquecer esse mercado, que atualmente tem baixo volume de transações.

O primeiro lote de BDRs Nível I não patrocinados estreou na BM&FBovespa em outubro do ano passado, emitido pelo Deutsche Bank. O programa resultou na entrada das empresas Apple, Google, Bank of America, Arcelor Mittal, Goldman Sachs, Avon, Wal-Mart, Exxon Mobil, McDonald"s e Pfizer no mercado brasileiro.

No caso dos BDRs não patrocinados, a emissão fica a cargo de uma instituição financeira depositária no Brasil, sem qualquer participação das companhias sediadas no exterior. Os papéis são negociados em reais, com base na cotação das ações no país de origem e do dólar no Brasil na data da compra.

Ao fim de novembro, foi a vez do segundo lote, emitido pelo Citibank, envolvendo BDRs das companhias Alcoa, Cisco Systems, Citigroup, Freeport-McMoran, Copper & Gold, General Electric Company, Intel Corporation, Merck & Co., Microsoft Corporation, Procter & Gamble e Wells Fargo.

A previsão do diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, é de que 2011 chegue ao fim com BDRs Nível I não patrocinados de 100 empresas estrangeiras negociados no mercado de balcão organizado. Ele também acredita que esse mercado não será mais restrito a empresas americanas, devendo ser ampliado também para as companhias europeias e asiáticas.

Para Felipe Claret da Mota, gerente de registros da CVM, a autorização para investidores com mais de R$ 1 milhão se justifica porque é um tipo de público que já tem conhecimento de mercado suficiente para entender os funcionamentos dos BDRs de empresas estrangeiras. "São companhias que apresentam seus balanços em inglês e negociam papéis sujeitos à variação cambial, e achamos que quem tem esse valor é sofisticado o suficiente para avaliar os riscos", afirma ele. O mesmo acontece com os fundos de pensão, que têm equipes especializadas para avaliar as aplicações em BDRs estrangeiros.

Claret disse desconhecer a proposta da bolsa de levar a negociação dos BDRs nível 1 do balcão para o mercado normal. "O colegiado da CVM já fez uma série de concessões, de facilitadores, para o BDR nível 1 de companhias estrangeiras, como a dispensa em traduzir os balanços e comunicados para o português, justamente porque ele seria negociado no balcão", afirma. "Para negociar na bolsa, o BDR teria de ser nível 2, e o nível de exigência seria bem maior, como apresentar os resultados em português", lembra.

Ele explica também que a CVM está colocando as propostas em discussão e aguarda a opinião do mercado. Ele não vê espaço para a liberação da aplicação para clientes de menor valor, como os qualificados, que precisam ter R$ 300 mil para investir. "A CVM não entra no mérito do que é bom ou ruim para o investidor, mas achamos que toda decisão de investimento tem de ser atrelada à informação", afirma. "Se temos um investimento em companhia estrangeira com informações em inglês, não acho adequado colocar essa aplicação para pessoas sem muito conhecimento", diz.

Novo código protegerá o consumidor endividado

Valor Econômico

25/01/2011

Criado há 20 anos e ainda considerado moderno pela comunidade jurídica, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) passará por reformas para abranger um tema que preocupa as famílias brasileiras: o superendividamento - total de contas acima da capacidade de pagamento. Hoje, de acordo com pesquisa divulgada este mês pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 59,4% de um total de 17,8 mil famílias entrevistadas estão endividadas. Desse percentual, 22% estão com contas em atraso e 7,9% alegam que não terão como quitar seus débitos. Um anteprojeto com previsões legais sobre o assunto deve estar pronto em seis meses, tratando de informações, transparência e o direito de arrependimento no mercado de créditos, a exemplo do que já é feito em outros países. O texto também deve regulamentar melhor outros temas, como o comércio eletrônico e o papel dos Procons como meio alternativo de resolução de conflitos.
O ingresso de 50 milhões de consumidores no mercado de crédito desde a década de 90 impõe a revisão da lei, segundo justifica o presidente da comissão que trata do assunto, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Herman Benjamin. Ele participou da comissão que elaborou o CDC atual, em 1989, quando atuava como promotor de Justiça. No entanto, nessa época, segundo o ministro, a inflação e o sistema bancário impediam essa discussão sobre o mercado de crédito.

Código abordará endividamento

Adriana Aguiar | De São Paulo

O mais novo código brasileiro, que trata da defesa do consumidor, vai passar por uma reforma para abranger um tema que preocupa as famílias brasileiras: o superendividamento - total de contas acima da capacidade de pagamento. Hoje, de acordo com pesquisa divulgada recentemente pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), 59,4% de um total de 17,8 mil famílias entrevistadas estão endividadas. Desse percentual, 22% estão com contas em atraso e 7,9% alegam que não terão como quitar suas dívidas. Um anteprojeto com previsões legais sobre o assunto deve estar pronto em seis meses. O texto também deve regulamentar melhor outros temas, como o comércio eletrônico e o papel dos Procons como meio alternativo de resolução de conflitos.

Ainda que o Código de Defesa do Consumidor (CDC) seja considerado de vanguarda pela comunidade jurídica e estar apenas 20 anos em vigor, o ingresso de 50 milhões de consumidores no mercado de crédito desde a década de 90 impõe a revisão da lei, segundo a justificativa do presidente da comissão, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Herman Benjamin. Ele participou da comissão que elaborou o CDC atual, em 1989, quando atuava como promotor de justiça. No entanto, nessa época, segundo o ministro, a inflação e o sistema bancário impediam essa discussão sobre o mercado de crédito.

O novo projeto, de acordo com Benjamin, não deve tratar da regulação dos serviços financeiros em si, mas de transparência, informação e o direito de arrependimento no mercado de crédito, a exemplo do que já é feito em outros países. Além da diretiva europeia editada em 2008, França, Suécia, Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Estados Unidos, Bélgica e Áustria possuem normas de proteção ao consumidor contra o superendividamento.

Apesar de o foco principal ser o superendividamento, o novo código também deve regulamentar melhor o comércio eletrônico, agora utilizado em larga escala pelos consumidores brasileiros. O texto ainda deve investir no fortalecimento dos Procons, para diminuir os litígios judiciais. No STJ, estima-se que de 20% a 30% dos recursos da 2ª Seção - responsável pelo julgamento de temas de direito privado - tratem de relações de consumo.

A comissão, que teve sua primeira reunião em dezembro, também é composta pela jurista Ada Pellegrini Grinover, copresidente da comissão responsável pelo anteprojeto; a professora Claudia Lima Marques, responsável pela redação do CDC-Modelo das Américas; o promotor do Distrito Federal e especialista em serviços financeiros, Leonardo Bessa e Roberto Pfeiffer, ex-diretor do Procon-SP.

O grupo pretende ouvir setores específicos da sociedade, como as instituições financeiras, a Defensoria Pública, o Ministério Público, os Procons e o Poder Judiciário. Depois de um primeiro esboço, a comissão deve organizar audiências públicas nas principais cidades do país para ouvir a população. Só então, o anteprojeto será apresentado ao Senado.

Os temas que serão incluídos no anteprojeto foram, em geral, bem recebidos pelos advogados. Segundo Marcelo Roitman, sócio do Pompeu, Longo, Kignel & Cipullo Advogados, a regulamentação que tratará do superendividamento vem em boa hora. "Essa superoferta de crédito só começou a ocorrer há alguns anos e agora é preciso haver regras mais claras para o consumidor de boa-fé, que não conseguiu, por algum motivo, honrar suas dívidas", diz. Para ele, contratempos como o desemprego, doença ou separação podem fazer com que o consumidor tenha sua renda reduzida de uma hora para outra. "O que se deve discutir é como resolver o problema da inadimplência para que o consumidor volte ao mercado."

Até agora, os casos de superendividamento tem que ser tratados individualmente na Justiça, que se baseia em princípios como a função social do contrato e a boa-fé para reduzir multas, juros e alongar os prazos de pagamento. "O ideal é que existam regras gerais para propor um mecanismo parecido com o da recuperação judicial de empresas", afirma Roitman. Com relação ao comércio eletrônico, o advogado diz acreditar que as normas já existentes são suficientes.

Já o fortalecimento dos Procons, de acordo com a advogada Juliana Christovam João, do Rayes, Fagundes e Oliveira Ramos Advogados, pode ser uma boa maneira de desafogar o Judiciário. O advogado Antonio Carlos de Oliveira Freitas, sócio do Luchesi Advogados, entende, no entanto, que não há necessidade de se elaborar um novo código para fazer atualizações pontuais.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Poucas ações dão dividendo maior que a poupança


 

Valor Econômico

11/01/2011

Em dez anos, apenas quatro das quase 500 empresas listadas na bolsa de São Paulo - Telesp, Eternit, Celpe e Coelba - distribuíram lucros suficientes para superar os juros da poupança, de 6% ao ano. Em cinco anos, a lista cresce para 11 companhias, com a inclusão de várias elétricas, Comgás e Souza Cruz, mostra estudo da Economática para o Valor.

Os reis dos dividendos

Por Angelo Pavini, de São Paulo

Poucas empresas conseguiram nos últimos anos distribuir lucros suficientes para superar os juros da poupança, de 6% ao ano. Em dez anos, apenas quatro superaram esse percentual - Telesp, Eternit, Celpee Coelba, mostra estudo da Economática para o Valor. Em cinco anos, a lista aumenta para 11 empresas, com a inclusão de várias elétricas, como CPFL, além de Comgáse Souza Cruz.

O estudo considerou que o investidor tivesse comprado a ação no último dia útil do ano anterior e recebido juros sobre capital e dividendos ao longo do ano, ou seja, o conceito de caixa. A partir daí, foi calculado quanto o valor representava em relação ao valor da ação, ou seja, o retorno em dividendos, ou "dividend yield".

O estudo pegou apenas ações presentes na bolsa em todos os anos e que tenham pelo menos um negócio em dezembro de cada ano. Mesmo assim, muitas ainda apresentam pouca liquidez, como os casos de Celpe e Coelba nos últimos dez anos. Em cinco anos, apenas sete empresas apresentam liquidez acima de R$ 1 milhão por dia. "E não adianta ter uma ação que paga um bom dividendo e não se consegue negociá-la no mercado", diz Einar Rivero, da Economática.

Mesmo com retorno alto na distribuição dos lucros, nem sempre esses papéis são um bom negócio para o investidor. É preciso olhar também para o retorno total dos papéis, uma vez que de nada adianta um alto dividendo se o preço da ação despenca. É o caso, por exemplo, de Telesp, que apesar de todo o dividendo, fechou o período de cinco anos com um retorno total de 50,5%, abaixo dos 107% do Ibovespa, por conta de uma queda de 12,3% em seu preço de mercado no período. Já em dez anos, o retorno total da telefônica é de 428%, apesar de o papel ter subido menos que o Ibovespa, 52,3%, para 354,2% do indicador.

Em outros papéis, o investidor que olha apenas a valorização pode também ter uma visão equivocada, de que perdeu dinheiro. Caso de Eternit, por exemplo, cujo preço da ação subiu 290,6% em dez anos, abaixo dos 354,2% do Ibovespa. Mas quando se junta o valor dos dividendos, o retorno total sobe para 1.630,3% no período. "O investidor às vezes esquece que colocou os dividendos no bolso", diz Rivero.

Este ano promete ser mais de ganhos com a valorização das ações do que com a distribuição de lucros, dizem analistas. Mas, mesmo assim, os dividendos não devem ser desprezados, lembra Maurício Ceará, estrategista para pessoa física da corretora do Santander. "Sempre recomendamos uma parcela da carteira em dividendos, como diversificação, pois elas são mais estáveis", afirma.

E há oportunidades de ganhos extras em algumas empresas fora da lista tradicional, caso da CSN, que deve distribuir mais lucro este ano para ajudar o acionista a pagar uma aquisição de ações. Ou da Light, que passará a receber pelo fornecimento de luz nas favelas cariocas retomadas, como no Complexo do Alemão, onde junto com a lei e a ordem devem chegar as contas de luz. Há ainda a AmBev, que este ano tende a se endividar um pouco para ajustar sua estrutura de capital, e deve sobrar mais dinheiro para os acionistas.

Mesmo que a empresa não distribua os dividendos, eles acabam indo para o bolso do acionista, uma vez que são incorporado ao preço da ação, lembra Walter Mendes, sócio da gestora independente de recursos CultInvest. Ao reinvestir o lucro, acabam por valorizar a companhia e seus papéis. Já as empresas que pagam mais dividendos não precisam investir tanto e, por isso têm sobra de caixa. "Para saber se uma é melhor que outra é preciso analisar o retorno total, contando a variação do papel", diz.

Os bons pagadores de dividendos costumam brilhar quando a bolsa está em baixa, lembra Mendes. "Num momento ruim, essas empresas têm a vantagem de manter um ganho constante ao investidor", diz. Foi o caso do segundo semestre de 2008, quando a bolsa despencou, e os fundos de dividendos caíram bem menos. Mas se a bolsa tem perspectiva de alta, a vantagem do dividendo diminui, pois o ganho de capital é maior.

Neste ano, por exemplo, Mendes espera uma recuperação do Índice Bovespa, depois da parada no ano passado. A Petrobras, que foi a grande pedra no sapato do índice, deve andar um pouco mais, com o preço do petróleo subindo e o anúncio de novas reservas e melhora na produção. E o receio de uma disparada dos juros por conta da inflação não deve se confirmar, avalia Mendes. Ele espera que o Ibovespa suba este ano o que não subiu em 2010, entre 15% e 20%.

Mendes respeita os fãs dos dividendos. "Mas no Brasil, onde há esse potencial de novos consumidores, crescimento e consolidação de setores, o espaço para ganhar com o valor das ações é muito maior do que ficar olhando para renda", diz. Para ele, hoje, as viúvas que ficavam apostando em dividendos no passado estão mais atrás de valorização das ações. "Nossas viúvas estão mais para Warren Buffett", diz.

A estratégia de dividendos não é a preferida no momento pela corretora do Itaú BBA, diz a estrategista Cida Souza. Segundo ela, neste momento, há maior chance de ganhos com a alta dos papéis por conta do crescimento econômico. A corretora estima uma alta de 20% para o Índice Bovespa, para 87 mil pontos. "Mas vemos alto potencial em dividendos em alguns papéis."

Já Ceará, do Santander, recomenda que, na hora da escolha, o investidor não deve olhar apenas para o passado. "É preciso ver a regularidade dos pagamentos, se não foi apenas um evento isolado, extraordinário, que aumentou o lucro e distorceu a série histórica", lembra. O estudo da Economática, com análise ano a ano, elimina essa distorção.

Além disso, o investidor precisa olhar se a empresa não está sofrendo alguma mudança importante, como é o caso da Telesp este ano, incorporando a Vivo. Outras, como Eternit ou Souza Cruz, apesar de lucrativas, enfrentam polêmicas em torno de sua área de atuação - o uso do amianto na primeira e o combate ao fumo na segunda. Ou casos em que o papel já subiu demais de preço. "É preciso reavaliar as empresas de tempos em tempos, para ver se não há algum problema", diz.

A alta dos juros neste ano também pode reduzir um pouco a atratividade dos dividendos, lembra Ceará. Mas a vantagem de não pagar imposto de renda para pessoas físicas ainda pesa a favor do dividendo.

Brasileiro se endivida mais no início do mês

O Estado de São Paulo

11/01/2011

Dados do Banco Central mostram que o início de mês é o período em que os brasileiros mais ficam no vermelho, informa o repórter Fernando Nakagawa. Entre os dias 1º e 10, a entrada no limite do cheque especial é em média 26,1% maior que no restante do mês. Já o uso do crédito rotativo oferecido pelos cartões de crédito é 59,8% maior entre os dias 5 e 15.

Endividado tenta se equilibrar entre especial e rotativo

Brasileiro usa saldo do salário na conta corrente para entrar no limite do cheque especial e depois pula para o cartão de crédito

Fernando Nakagawa, de O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Começo do mês é tempo de receber salário. A alegria, porém, dura pouco: contas chegam, o dinheiro sai e, em muitos casos, a conta fica no vermelho muito rapidamente. Dados do Banco Central mostram que, mesmo com o pagamento do salário, o início do mês é o período em que os brasileiros mais usam o limite da conta corrente e o crédito rotativo do cartão de crédito.

A entrada no cheque especial se concentra entre os dias 1.º e 10, quando a média é 26,1% maior que no restante do mês. No cartão de crédito , o uso do rotativo é 59,8% maior entre os dias 5 e 15.

Levantamento do Estado que comparou a tomada de crédito em todos os dias úteis de 2009 revela que essas linhas de crédito estão sendo maciçamente usadas logo após o depósito do salário.

A situação é considerada preocupante por economistas porque indica que muitos consumidores contam com o limite da conta e o pagamento mínimo do cartão para fechar o mês e assim, pendurados no crédito, esperar até o próximo salário.

Na média, brasileiros entram diariamente no cheque especial em R$ 1,12 bilhão nos 10 primeiros dias do mês. No decorrer do mês, o dia 10 - tradicional data de pagamento de salários - é que concentra o maior uso do limite: R$ 1,48 bilhão. O valor é exatamente o dobro da data em que o crédito é menos usado, 24, cuja média é de R$ 737 milhões.

No cartão, a concentração é um pouco adiante: entre 5 e 15. Nesse período, operações como o uso do rotativo e o saque emergencial somam média diária de R$ 836,6 milhões. O valor é quase 60% maior que o visto no restante do mês. O ápice é no dia 12, quando a média atinge R$ 1,05 bilhão. O valor é quatro vezes maior que o movimento do dia 24, o menor valor do mês: R$ 274,8 milhões. Curiosamente, o menor uso do cheque especial e do rotativo do cartão acontecem no mesmo dia 24 de todo mês.

Bola de neve. "O comportamento é preocupante porque revela um estilo de vida em que as pessoas precisam se endividar para sempre. São consumidores que têm confiança de que receberão o salário no próximo mês e, por isso, tomam esses empréstimos sistematicamente logo após receber o salário", diz o professor de finanças do Insper, Ricardo José de Almeida.

Na teoria, consumidores concentram o vencimento das contas em datas próximas ao salário para que haja "casamento" entre receitas e despesas. Mas, na prática, é bem diferente. Juntas, as despesas correntes somam valor maior que a renda e, por isso, é preciso recorrer sempre ao cheque especial mesmo com o salário recém depositado.

Logo depois, o problema cresce porque chega o extrato do cartão com todas as compras do mês anterior. E, como a conta já está no vermelho, o jeito é pagar o mínimo e usar o rotativo.

Ou seja, as datas podem até coincidir, mas isso não resolve a situação porque são os valores que estão sempre descasados.

"Muitos clientes encararam com normalidade usar o cheque especial e pagar o mínimo do cartão todo mês. Isso não é adequado porque se houver qualquer imprevisto ou ele for demitido vira uma bola de neve", diz o superintendente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo.

Alto custo. Mesmo que não haja os imprevistos e o consumidor continue empregado, essa operação tem um custo, lembra Solimeo. O cheque especial é a segunda linha de crédito mais cara oferecida pelos bancos: juro médio de 163,6% ao ano.

No cartão de crédito é ainda pior: 238,3% anuais, simplesmente a mais cara operação de empréstimo do sistema financeiro. "O problema mora aí. Como usam todo mês e essas operações têm os maiores juros do País, a conta vai se acumulando e pode ficar inviável continuar tocando a vida com o cheque especial e o cartão", alerta o professor do Insper.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Investidores pacientes tem melhor resultado nos IPOs

Valor Econômico

07/01/2011

O mercado de ações premiou os pacientes e puniu os apressados. Foi o que ocorreu com os investidores que compraram ações nas ofertas iniciais (IPOs). Quem adquiriu os papeis na expectativa de vendê-los no primeiro dia de negociação se deu mal e quem esperou até o fim do ano teve lucro elevado. Dos 11 IPOs de 2010, cinco caíram na estreia, três ficaram estáveis, um subiu pouco mais de 1 % e só dois tiveram altas imediatas. Num prazo maior, até 31 de dezembro, só um decepcionou, a OSX, que caiu 39,63% em relação ao lançamento. Os demais tiveram altas entre 6% e 113%.
Um bom "exemplo de premiação aos pacientes foi a ofert a da Multiplus, que administra o programa de fidelidade da TAM. O início, em 4 de fevereiro, foi desanimador. O preço da ação baixou até 12% durante o pregão e encerrou o primeiro dia em queda de 0,96%. Apesar do tropeço inicial, o papel encerrou o ano em alta de 113,41%, o melhor desempenho entre todos os IPOs do ano passado.

 
 

Paciência premiada
Por Antonio Perez, de São Paulo

Os IPOs voltaram a dar alegrias aos investidores no ano passado, com ganhos de até 113%. Mas não logo no primeiro dia, como na euforia que marcou o mercado nos anos de 2006 e 2007. Quem aderiu às ofertas na expectativa de vender as ações com lucro no primeiro dia de negócios - os chamados "flippers" - se deu mal. Já o investidor que comprou as ações com um horizonte de investimento mais longo, como recomendam os analistas, não tem do que reclamar.

Dos 11 IPOs de 2010, cinco caíram na estreia, três ficaram estáveis e um subiu pouco mais que 1%. As exceções foram as duas últimas ofertas do ano: a rede de seguradoras BR Insurance, em novembro, com alta de 27,4% no primeiro dia, e a Droga Raia, em 20 de dezembro, que subiu 8,75%. O pior desempenho foi da OSX, vendida pelo bilionário proprietário do grupo EBX, Eike Batista, como a "Embraer dos mares". O papel tombou 12,5% no primeiro pregão e fechou 2010 com queda de 39,63%.

Um bom exemplo de que os IPOs premiaram os investidores que apostaram no longo prazo foi a oferta da Multiplus, empresa que administra o programa de fidelidade da companhia área TAM. O início, contudo, foi desanimador, com a ação encerrando o primeiro dia de negociação na bolsa em queda de 0,96%, após ter recuado mais de 12% durante o pregão.

Os problemas com o papel da Multiplus começaram antes mesmo da estreia. Para pôr a oferta na rua, a empresa teve que reduzir o preço do intervalo inicialmente sugerido, de R$ 18 a R$ 24, para R$ 16. Ou seja, a procura pelo papel foi menor que a esperada, obrigando a companhia a diminuir o preço de venda. E todo mundo que quis comprar o papel na oferta conseguiu. Resultado: na estreia no pregão, não havia número suficiente de compradores para fazer o papel subir.

Apesar do tropeção inicial, a ação fechou o ano com valorização de 113,41%, o melhor desempenho entre todos os IPOs do ano passado. No mesmo período, o Índice Bovespa subiu apenas 8,40%. "A Multiplus era uma coisa totalmente nova, com um modelo de negócio pouco conhecido, e era natural que os investidores pedissem desconto para entrar na oferta", afirma Ivan Guetta, gestor de renda variável da GAP Asset Management.

Embora tivesse um impressão positiva sobre a Multiplus, Guetta, até pelo ineditismo do negócio, preferiu não comprar a ação durante a oferta. Depois da divulgação dos primeiros resultados da companhia, contudo, o gestor se sentiu confortável para investir nos papéis. "Pagamos um pouco mais caro do que na oferta, mas com base em uma análise mais detalhada do negócio", afirma Guetta. "Carregamos os papéis por um bom tempo e depois vendemos a maioria, deixando apenas uma pequena posição na carteira".

Entre os papéis lançados em 2010, Guetta comprou também as ações da Mills, companhia que fornece serviços para obras de construção civil. Diferentemente do caso da Multiplus, a opção foi adquirir as ações logo na oferta, realizada em abril do ano passado.

O que atraiu a GAP foi o preço da ação, considerado atrativo pelo potencial de ganhos da empresa, cujo negócio é beneficiado diretamente pelo boom de investimentos em infraestrutura. Para conseguir realizar sua oferta, porém, a Mills teve que vender as ações a R$ 11,50, piso mínimo da faixa estimada no prospecto, que tinha como teto R$ 15,50. "Quando a oferta foi anunciada, pensamos que a demanda dos estrangeiros seria muito grande, já que estava ligada à infraestrutura", conta Guetta. "Mas o momento do mercado não era bom, e o papel acabou saindo num preço atraente", acrescenta.

A perspectiva era permanecer com a ação em carteira por pelo menos um ano, mas a rápida valorização da ação fez com que Guetta optasse por realizar os lucros. "Vendemos quando a ação bateu em R$ 17 (em outubro, registrando alta de 47,8% em relação ao preço da oferta), pois já tínhamos atingido nosso objetivo", afirma.

A ação da Mills, que subiu apenas 1,21% no pregão de estreia, fechou o ano com valorização de 81%, na casa dos R$ 20, o segundo melhor desempenho entre todos os IPOs de 2010, batendo de longe o Ibovespa no mesmo período (queda de 1,73%). Mais uma vez, quem sucumbiu à tentação do ganho rápido perdeu uma excelente oportunidade.

Quando não há um ambiente de euforia dos mercados, como o que se viu em 2007, só consegue bons resultados com IPOs quem tem capacidade de análise da empresa e visão estratégica, diz Elsen Carvalho, sócio da gestora independenteInvestidor Profissional(IP). "Em um cenário normal, a visão de curto prazo em IPO é quase sempre perdedora", afirma ele.

Carvalho participou do primeiro IPO de 2010, realizado em janeiro pela Aliansce, empresa que administra shopping centers. "Avaliamos que era uma empresa com um bom modelo de negócios e que se beneficiaria da expansão do mercado interno", afirma ele. "Além disso, como o mercado não estava em clima de euforia, o preço foi atraente".

Como no caso da Multiplus, o investidor ditou o preço da oferta. A ação saiu a R$ 9, abaixo do piso do intervalo de preço inicialmente sugerido, entre R$ 10 e R$ 13. Mesmo assim, o papel caiu 2,55% no pregão de estreia. No fim de 2010, contudo, a ação da Aliansce subia 53,02%. "Continuamos gostando do papel", diz Carvalho. "O IPO tem que ser visto como o primeiro passo do investimento em uma empresa, e não como uma aposta de curto prazo".

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CDB e Tesouro Direto lideram as recomendações de investimento para 2011

O Estado de São Paulo

03/01/2011

CDB deverá demonstrar rentabilidades atrativas a partir do segundo trimestre; Tesouro pagará melhor do que a tradicional poupança

Roberta Scrivano e Luiz Guilherme Gerbelli

Começar a investir no novo ano é uma boa alternativa para quem quer incrementar os valores poupados. Com a entrada da nova equipe econômica no governo federal, ocorrerão algumas mudanças no cenário macroeconômico nacional. Os ânimos mais amenos no mercado internacional também trarão movimentos importantes que podem impactar nas aplicações.


Especialistas pontuam como muito relevante a quase certa alta na taxa básica de juros (Selic) no novo ano. "A expectativa é que o governo dê um tranco na economia", comenta Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper (ex-Ibmec). O objetivo principal da alta no juro é o controle da inflação.

Por outro lado, o aumento do déficit em conta corrente nacional poderá desvalorizar o real diante do dólar (leia mais na página B6), o que torna os investimentos em câmbio mais atrativos.

Além disso, há todo o pacote pré-sal, Copa do Mundo e Olimpíada, que devem movimentar com mais força o mercado durante 2011.

Abaixo está a avaliação de especialistas para o desempenho dos principais investimentos para 2011.

CDB. Rodrigo Caparica, diretor do Banco Prosper, aposta que o CDB será o melhor investimento em 2011. Ele explica que os bancos precisarão captar mais dinheiro por meio do CDB neste ano por causa do menor nível dos compulsórios.

"Então, os bancos terão de pagar mais rentabilidade para atrair novos investidores aos CDBs", comenta. Esse movimento, no entanto, deve ser notado a partir do segundo trimestre do ano.

Ele sugere que o investidor procure CDBs pós-fixados, já que há tendência de aumento nos juros.

Mauro Calil, consultor e educador financeiro, considera essa modalidade muito vantajosa já no início do ano para volumes superiores a R$ 50 mil. "Mas o prazo mínimo deve ser de 12 meses", recomenda o educador.

Poupança e fundos RF e DI. Se a inflação continuar subindo e se as medidas de aperto monetário não surtirem efeito, a caderneta não é o investimento mais recomendado para o novo ano. "Sempre acho a poupança um bom negócio para quem está iniciando o processo de guardar dinheiro", pondera Rocha do Insper.

Calil salienta que se a inflação subir acima dos 4,5%, fundos de renda fixa tornam-se mais atrativos que a poupança.

Se a opção for o fundo, o especialista salienta que é preciso atenção às taxas de administração cobradas sobre o investimento. Ou a rentabilidade será menor que a esperada. "A taxa de administração acima de 1% corrói a rentabilidade. Tem de tomar cuidado. Para um valor acima de R$ 50 mil, pode ser melhor um CDB bem negociado", recomenda.

Buscar fundos pós-fixados são a recomendação de Edson Franco, superintendente executivo de investimentos do Banco Santander. "Tanto em fundos de renda fixa, quanto nos DIs e CDBs essa é a recomendação. Isso porque há tendência de aumento do juro", detalha.

Tesouro Direto. Os títulos do Tesouro Direto têm sido cada vez mais recomendados por especialistas em investimentos. "São uma boa alternativa em substituição à poupança, por exemplo", sugere Fábio Colombo, administrador de investimentos. Ele salienta, no entanto, que é preciso ter atenção aos prazos dos títulos.

Fábio Gallo, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), lembra também que liquidez não é problema nessa modalidade.

"O ideal é deixar até o vencimento. Mas, se for necessário fazer o resgate antes, normalmente há liquidez", comenta. "Sempre que sobrar um dinheiro, o cidadão deveria pensar no Tesouro Direto. As taxas são muito boas", emenda Calil.

Multimercado. Quando o assunto é fundo multimercado, os especialistas em investimento sempre fazem diversas ressalvas. Para Rocha, do Insper, por exemplo, há muitas incertezas nessa modalidade. "Acaba sendo interessante só para quem quer ir à bolsa, mas não tem tempo de selecionar as melhores ações", detalha.

A recomendação antes de escolher em qual fundo aplicar é olhar o patrimônio líquido total, analisar a classificação de risco (se é moderado, agressivo ou conservador), verificar quem é o gestor e quais os resultados obtidos no passado.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Desaparecem, daqui para a frente, as opções mais óbvias

Folha de São Paulo

31/12/2010

ANÁLISE





 

O BRASIL FICOU MAIS FORTE, RICO E CONFIÁVEL; POR ISSO MESMO, AS AÇÕES JÁ ESTÃO CARAS, OS IMÓVEIS TAMBÉM, E O TESOURO NACIONAL JÁ NÃO PRECISA PAGAR JUROS ALTOS

 



MAURO HALFELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nos anos 1980, os investidores brasileiros viajaram num trem-fantasma.
Foram surpreendidos com planos de estabilização que quebravam regras da noite para o dia e que prometiam o impossível num estalar de dedos. Só que a promessa nunca era entregue porque a indisciplina fiscal do Estado sempre ressuscitava o monstro da inflação.
Naquele período, os juros nominais eram altos, mas não venciam a inflação.
O bloqueio dos ativos financeiros e a troca dos indexadores nas aplicações de renda fixa no Plano Collor de 1990 deram uma paulada na dívida pública, mas deixaram um grande trauma na nação de poupadores.
A partir do Plano Real, os aplicadores em renda fixa voltaram a ser cortejados no Brasil.
Por outro lado, os investimentos em infraestrutura foram adiados por muitos anos para que o governo pudesse fazer sobrar recursos para pagar juros exorbitantes aos corajosos investidores em papéis do Tesouro Nacional.
A economia real e os gastos públicos foram sacrificados. Em compensação, a transparência e a disciplina fiscal começaram a ser implantadas pelo Estado brasileiro, e o monstro da inflação finalmente foi sufocado.
Investidores em renda fixa ganharam muito nos anos FHC. Foi uma recompensa pela coragem de emprestar para um Tesouro Nacional ainda pouco confiável naqueles tempos. Acumularam 218,6% acima da inflação.
Já os acionistas enfrentaram as crises no México, na Ásia, na Rússia, na Nasdaq e na Argentina.
No entanto, contaram com bons momentos na privatização e com a oportunidade para que trabalhadores usassem parte do pouco rentável FGTS na compra de ações da Vale e da Petrobras. Na era FHC, o Ibovespa acumulou 26,8% acima da inflação.
Em 2002, abriu-se a porta do inferno. O dólar disparou, o Ibovespa despencou, e os juros só não subiram mais porque era ano eleitoral.
Parece que Lula não gostou do que viu e decidiu fazer um pacto com o mercado para fugir do inferno que tinha acabado de acolher, calorosamente, a Argentina.
Lula nomeou um habilidoso banqueiro para o Banco Central e, como retribuição, uma profecia, escrita por um grande banco americano que sonhava com um futuro glorioso para os Brics, autorrealizou-se no mercado internacional.
Com Lula, o futuro chegou mais perto do presente no Brasil. A China se tornou uma locomotiva do mundo e levou o Brasil a reboque. Não só comprou matéria-prima daqui como também fez subir o preço de quase tudo o que o Brasil exportava.
Foi uma festa: deu para resolver nossa dívida externa, deu para montar uma invejável reserva de dólares, deu para ajudar os pobres e deu para voltar a acreditar no Brasil gigante.
Nos anos Lula, os aplicadores de renda fixa ganharam 90,6% acima da inflação. Já os acionistas ficaram eufóricos com 295% acumulados no período.
Mais alegres ainda ficaram os investidores em imóveis, que, depois de anos abandonados, viram o eficiente plano Minha Casa, Minha Vida turbinar o setor da construção civil por inteiro.
Infelizmente, minha bola de cristal, que andou muito otimista nos últimos dez anos, não está mostrando vida tão lucrativa para os investidores nos anos Dilma. Tudo porque o Brasil ficou mais forte, rico e confiável.
Por isso mesmo, as ações já estão caras, os imóveis também, e o Tesouro Nacional já não precisa pagar juros altos. Desaparecerão as oportunidades mais óbvias do mercado.
Só vai ganhar dinheiro quem for muito rigoroso nas escolhas e trabalhar duro.
Minhas apostas daqui para a frente estarão no setor de serviços e no de infraestrutura.
Educação, energia e saneamento vão merecer a atenção de empreendedores e de seus fiéis investidores.
No mais, é contentar-se com rendimentos modestos daqui para a frente. Exatamente como os investidores fazem nos países ricos.

MAURO HALFELD, professor e analista de investimentos, é doutor em administração pela USP, com pós-doutorado em finanças no MIT.

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