terça-feira, 25 de janeiro de 2011

CVM quer facilitar acesso de investidores a BDRs


25/01/2011

 

Regulação: Autarquia coloca em audiência pública alteração da instrução 332, que regula negócios com esses papéis.
Ana Luísa Westphalen, Fernando Torres e Angelo Pavini | De São Paulo
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) colocou em audiência pública ontem uma norma que vai facilitar o acesso de fundos de pensão e investidores pessoa física à negociação de recibos de ações de empresas estrangeiras como Apple, Google, Microsoft e General Electric no Brasil.

A proposta é alterar a instrução 332, que regula a negociação dos chamados Brazilian Depositary Receipts (BDRs) Nível I - certificados com lastro em ações de companhias com sede no exterior. A ideia é permitir a inclusão de outras categorias de investidores nas operações envolvendo esses papéis, que atualmente são restritos a instituições financeiras e fundos de investimento.

A minuta propõe que entidades fechadas de previdência complementar e os investidores pessoa física ou jurídica com investimentos financeiros superiores a R$ 1 milhão também sejam autorizados a negociar os BDRs Nível I, patrocinados ou não. O prazo para envio de sugestões e comentários à Superintendência de Desenvolvimento de Mercado da CVM termina em 23 de fevereiro.

Atualmente, as pessoas físicas - com exceção dos consultores de investimentos e dos administradores de carteira - só podem ter acesso aos papéis das companhias estrangeiras por meio de fundos. Para efeito de composição de carteira, esses recibos são considerados investimentos no exterior. A mudança tem como objetivo aquecer esse mercado, que atualmente tem baixo volume de transações.

O primeiro lote de BDRs Nível I não patrocinados estreou na BM&FBovespa em outubro do ano passado, emitido pelo Deutsche Bank. O programa resultou na entrada das empresas Apple, Google, Bank of America, Arcelor Mittal, Goldman Sachs, Avon, Wal-Mart, Exxon Mobil, McDonald"s e Pfizer no mercado brasileiro.

No caso dos BDRs não patrocinados, a emissão fica a cargo de uma instituição financeira depositária no Brasil, sem qualquer participação das companhias sediadas no exterior. Os papéis são negociados em reais, com base na cotação das ações no país de origem e do dólar no Brasil na data da compra.

Ao fim de novembro, foi a vez do segundo lote, emitido pelo Citibank, envolvendo BDRs das companhias Alcoa, Cisco Systems, Citigroup, Freeport-McMoran, Copper & Gold, General Electric Company, Intel Corporation, Merck & Co., Microsoft Corporation, Procter & Gamble e Wells Fargo.

A previsão do diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, é de que 2011 chegue ao fim com BDRs Nível I não patrocinados de 100 empresas estrangeiras negociados no mercado de balcão organizado. Ele também acredita que esse mercado não será mais restrito a empresas americanas, devendo ser ampliado também para as companhias europeias e asiáticas.

Para Felipe Claret da Mota, gerente de registros da CVM, a autorização para investidores com mais de R$ 1 milhão se justifica porque é um tipo de público que já tem conhecimento de mercado suficiente para entender os funcionamentos dos BDRs de empresas estrangeiras. "São companhias que apresentam seus balanços em inglês e negociam papéis sujeitos à variação cambial, e achamos que quem tem esse valor é sofisticado o suficiente para avaliar os riscos", afirma ele. O mesmo acontece com os fundos de pensão, que têm equipes especializadas para avaliar as aplicações em BDRs estrangeiros.

Claret disse desconhecer a proposta da bolsa de levar a negociação dos BDRs nível 1 do balcão para o mercado normal. "O colegiado da CVM já fez uma série de concessões, de facilitadores, para o BDR nível 1 de companhias estrangeiras, como a dispensa em traduzir os balanços e comunicados para o português, justamente porque ele seria negociado no balcão", afirma. "Para negociar na bolsa, o BDR teria de ser nível 2, e o nível de exigência seria bem maior, como apresentar os resultados em português", lembra.

Ele explica também que a CVM está colocando as propostas em discussão e aguarda a opinião do mercado. Ele não vê espaço para a liberação da aplicação para clientes de menor valor, como os qualificados, que precisam ter R$ 300 mil para investir. "A CVM não entra no mérito do que é bom ou ruim para o investidor, mas achamos que toda decisão de investimento tem de ser atrelada à informação", afirma. "Se temos um investimento em companhia estrangeira com informações em inglês, não acho adequado colocar essa aplicação para pessoas sem muito conhecimento", diz.

Nenhum comentário:

Locations of visitors to this page