domingo, 20 de março de 2011

Taxa de administração superior a 1,5% torna fundos péssimo negócio


20/03/2011

 

SEU BOLSO

Bancos cobram de 0,5% a 4% sobre o valor aplicado para gerir o investimento. Tarifa elevada faz rendimento perder da poupança

Vera Batista

Fábio Monteiro

Fundos de investimento se tornaram as aplicações preferidas de quem entende pouco de mercado financeiro e não tem muito dinheiro disponível. Com sua ascensão, as classes C, D e E se tornaram alvo da cobiça de gestores, administradores e distribuidores do produto ao mesmo tempo em que bancos e corretoras abriram uma guerra pela melhor oferta. O que faz a diferença ao escolher onde aplicar os recursos é a taxa de administração. Às vezes, ela está disfarçada sob o pomposo nome de taxa de performance (penduricalho cobrado, caso o gestor do fundo ultrapasse os objetivos de rentabilidade).
A taxa de administração varia de 0,5% a 4% sobre o valor aplicado — não sobre o rendimento. Se R$ 10 mil forem investidos à taxa de 2%, serão descontados R$ 200 ao ano (ou cerca de R$ 17 ao mês). Os investidores devem ficar atentos: qualquer cobrança superior a 1,5% pode tornar a aplicação nos fundos um péssimo negócio porque come excessivamente o rendimento. Como ainda é preciso recolher o Imposto de Renda, os ganhos ficam muito pequenos, frequentemente menores do que os da caderneta de poupança, que é isenta tanto da taxa como do tributo.
Segundo estudo da Associação Brasileira de Entidades Financeiras e de Capitais (Anbima), as taxas das principais categorias de fundos caíram de dezembro de 2010 para janeiro, mas as cobradas dos investidores de varejo ficaram acima do nível médio. A categoria Referenciado DI subiu 0,46 ponto percentual, para 1,35%; e a de Renda Fixa teve alta de 0,28 ponto percentual, ficando em 1,12%.
O professor César Frade, 39 anos, começou a investir em 1996. À época, por não dominar o assunto, optou pelos fundos dos bancos. Após 10 anos, entendeu que as taxas são abusivas. “Dependendo do quanto você investe, a taxa de administração pode ficar muito alta”, analisa. Hoje, paga mensalidade de R$ 10 para uma corretora e faz movimentações por conta própria. “Resolvi cuidar sozinho porque aprendi como funciona e sei o que quero investir. Estava pagando caro por uma coisa que posso fazer.” Mas o professor alerta: ganhar autonomia requer estudo e experiência. “Cuidar das próprias aplicações é um caminho arriscado e perigoso para quem não entende.”
Os bancos se defendem afirmando que os custos das operações levam em conta a experiência dos profissionais envolvidos. “Temos uma equipe especializada, que acompanha as movimentações do mercado. Isso, evidentemente, gera custos, mas garante tranquilidade ao cotista que não tem tempo ou conhecimento”, argumenta Clayton Calixto, gerente de Relacionamento do grupo Santander. Saulo Sappir Sabbá, diretor de Gestão da Máxima Asset, ressalta que as “casas menores” oferecem melhor atendimento, maior rentabilidade e cobram menos.
Para Francisco José Santos, superintendente de Relações com Investidores Institucionais da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pelo porte do setor, que envolve patrimônio de R$ 1,5 trilhão, 10 mil fundos e 10 milhões de cotistas, a incidência de problemas e reclamações é bem pequena, até mesmo se comparada a estatísticas internacionais. Assim mesmo, para os investidores, todo cuidado é pouco. “Façam análise do seu perfil de risco, verifiquem se os gestores e os administradores são registrados na CVM e procurem estudar o histórico desses profissionais”, aconselha.
Lucro gordo
Não é à toa que os fundos de investimento estão em alta. Nos cálculos de Saulo Sappir Sabbá, diretor de Gestão da Máxima Asset, quem comprou cota de um fundo de renda fixa, no valor de R$ 1 mil, em 2001, e “esqueceu o dinheiro lá por 10 anos”, acordou em 2011 com um lucro de 323,81% e pôde resgatar R$ 4.238. Se investiu em bolsa de valores, ganhou 329,32% (R$ 4.293). “Só perdeu 13,89% se optou pelo fundo cambial (acompanha a variação do dólar). Acabou ficando com R$ 861”, garantiu Sabbá.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Poucos com tanto...

Valor Econômico

09/03/2011

Daniele Camba e Luciana Monteiro | De São Paulo


Concentração é a marca do mercado de gestão de recursos no Brasil. As dez maiores assets respondem hoje por nada menos do que 77,6% do patrimônio do setor de fundos de investimentos. Um percentual ainda bastante elevado, apesar de ligeiramente abaixo dos 79,8% do fim de 2009. O levantamento foi feito pelo Valor com base nos dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Essa concentração traz um efeito perverso para o investidor, que fica à mercê de taxas de administração altas, mesmo para carteiras conservadoras, e poucas opções de aplicação, especialmente no varejo. Para aplicações de R$ 100,00 em fundos renda fixa e DI, por exemplo, os grandes bancos de varejo cobram, em média, de 3,5% a 5% ao ano. Como resultado, após a tributação, eles chegam a render menos que a poupança.

As seis primeiras colocações ainda são ocupadas pelos grandes bancos de varejo, que detêm 67,6% do mercado de gestão de fundos, número que chegava a 70,2% no fim de 2009. Mas, enquanto os grandes perdem um pouco, as assets independentes ganham espaço, ainda que também lentamente. Os números levam em conta o patrimônio total do setor em fundos de investimento, sem seguradoras.

Algumas instituições, em especial, vêm sofrendo mais nesse processo de perda gradual de participação. É o caso do Itaú, que se fundiu com o Unibanco em novembro de 2008. Em dezembro daquele ano, juntando-se os recursos geridos pelos dois bancos, a participação no setor de fundos era de 16,87%. Dois anos depois, já com o processo de integração concluído, a fatia caiu para 14,83%.

A perda de fatia de mercado chama ainda mais a atenção no caso do Itaú Unibanco por conta do bom resultado do setor de fundos no ano passado, que registrou captação recorde de R$ 108,7 bilhões. O segmento cresceu 18% ante 2009, atingindo patrimônio líquido de R$ 1,618 trilhão. Mas, apesar do ano tão positivo, o maior banco privado brasileiro encerrou 2010 com resgates de R$ 4,257 bilhões.

Num processo de fusão, é natural que ocorram perdas, já que grande parte dos investidores institucionais mantém limites de concentração nas instituições, explica o consultor Marcelo D"Agosto, autor do livro "Como escolher o melhor fundo de investimento". Nesses casos, há um corte nas aplicações, não uma soma, diz.

Um executivo que pediu para não ser citado observa, no entanto, que o ranking de gestão da Anbima leva em conta também os fundos de direitos creditórios (FIDCs), cujo patrimônio oscila muito. E os números revelam que o Itaú Unibanco teve resgates concentrados justamente nesse seguimento em 2010. Os fundos de recebíveis da instituição registraram saques de R$ 3,898 bilhões dos R$ 4,257 bilhões perdidos no período.

Os números do banco também teriam sido afetados pela estratégia de um fundo de pensão administrado pelo banco que, por uma questão de custos, preferiu migrar R$ 3 bilhões de fundos para carteiras administradas, cujos dados não aparecem no ranking.

Mas, no mercado, comenta-se que a perda de participação no ranking e os resgates têm a ver com o processo de fusão. Segundo uma fonte que acompanhou o processo de perto, houve um choque entre as culturas de gestão do Itaú e do Unibanco, resultando na saída de vários profissionais experientes.

Outro executivo que também acompanhou a fusão lembra que o processo decisório ficou muito mais concentrado nas mãos de poucos, que estão na cúpula, tirando agilidade da gestão. Ele afirma que esse perfil de alta concentração é muito mais resquício da herança da gestora do Unibanco, que acabou predominando. Vários cargos-chave ficaram com profissionais que vieram do Unibanco. Já no Itaú, antes da fusão, as decisões eram descentralizadas, com cada gestor tendo muito mais autonomia para responder por sua estratégia. Procurado, o Itaú Unibanco preferiu não se manifestar.

Enquanto o Itaú Unibanco perde espaço, a gestora do BTG Pactual foi a que mais recebeu recursos no ano passado, depois do gigante Banco do Brasil. A asset do banco de André Esteves captou R$ 9,632 bilhões em 2010, e ocupa o sétimo lugar no ranking dos maiores gestores, com patrimônio de R$ 65,355 bilhões. Com isso, a instituição passou a deter 4,08% do setor de fundos, ante 3,75% em 2009. A gestora do BTG cresceu principalmente em fundos de participações e multimercados.

O Banco do Brasil (BB) ainda ocupa a colocação de maior gestora, com patrimônio de R$ 363,211 bilhões até janeiro deste ano. Os números da BB DTVM já levam em conta os fundos da Nossa Caixa, adquirida em novembro de 2008.

Líder de captação no ano passado, com ingresso de R$ 18,552 bilhões, a BB DTVM atraiu R$ 44,470 bilhões para a previdência. Mas a gestora teve pesados resgates em fundos de renda fixa e curto prazo, de R$ 3,931 bilhões e R$ 2,041 bilhões, respectivamente. A asset fechou 2010 respondendo por 21,55% dos ativos sob gestão em fundos - fatia praticamente igual à de 2009, que somava 21,57%.

Essa concentração do setor de fundos é ruim especialmente para os investidores de varejo, que possuem pouco poder de barganha e condições de se movimentar rumo a outros gestores, diz o professor de finanças do Insper Ricardo José de Almeida. "Essa falta de poder se reflete em taxas de administração que ainda são altas para o varejo."

O professor lembra que a Instrução 409 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre fundos dá ao investidor o direito de pedir a abertura dos custos que estão embutidos dentro da taxa de administração. Essa medida deveria, em tese, acabar com as cobranças abusivas. O detalhe é que o pequeno investidor nem sabe desse direito e, portanto, essa fiscalização adicional não acontece na prática.

Para o professor do Insper, o fato de os bancos de varejo não oferecerem na rede de agências produtos de outros gestores contribui para que as taxas de administração continuem salgadas. "Nenhum banco tem interesse em levar a concorrência para dentro da sua própria casa", completa Almeida.

O setor de fundos no Brasil também é concentrado por conta do tipo de ativo demandado pelos investidores, que focam na renda fixa. "Os grandes bancos são justamente os maiores na gestão de fundos de renda fixa", lembra Francisco Costa, sócio da Capital Investimentos. "Mas à medida que os segmentos de multimercados e de ações cresçam, esse processo de concentração deve ficar menor."

Contribui para esse panorama o fato de as corretoras de valores não atuarem fortemente no mercado de distribuição de fundos, avalia o consultor. "As corretoras ainda são muito voltadas para estimular a negociação de ações e não a aplicação em fundos, em que o investidor tende a permanecer por mais tempo", diz o consultor D"Agosto.

Para os gestores independentes, é difícil fugir da "máquina de venda" dos bancos de varejo, já que as áreas "private" dos grandes bancos são os maiores distribuidores de fundos do país.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Clubes de investimento terão mais controle


07/03/2011

 

SEU BOLSO

Para evitar que clubes de investimentos virem fundos “disfarçados’’, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) prepara uma nova regulamentação, que deve entrar em vigor em cerca de 30 dias. Segundo o diretor do órgão, Otávio Yazbek, as versões finais da regulamentação estão em fase de discussão interna.
No Brasil, há 3.054 clubes, com um patrimônio líquido total de R$ 11,4 bilhões e 131.521 participantes, segundo a Bovespa.
Por meio dos clubes, é possível entrar na Bolsa com R$ 200. Para aplicações individuais, o valor é baixo. Mas, com esse montante e um grupo de pessoas com um objetivo em comum, é possível organizar um clube.
– Aquelas pessoas que conhecem pouco e têm medo do risco investem coletivamente, colocando um pouquinho de dinheiro na aplicação. Conforme aprendem, alteram a quantia – explica Tércia Rocha, consultora da Bovespa.
Em geral, um clube pode ter entre três e 150 pessoas e deve ter um representante. Os integrantes podem ser, por exemplo, de uma mesma empresa ou família. No caso de funcionários de uma mesma empresa ou entidade, pode ser um grupo até maior.
As principais mudanças, explicou Yazbek, devem ser justamente em relação à restrição no limite do número de cotistas e à exigência de assembleias, que poderão ser realizadas por meio de ferramentas eletrônicas, pois envolvem menos custos para as corretoras de valores.
O objetivo é valorizar o caráter pedagógico e fortalecer o controle sem aumentar demais os custos. Conforme Yazbek, um dos motivos que levaram a criar a nova regulamentação foi um mal-estar em relação a clubes que viravam fundos:
– É o que se chama de arbitragem regulatória. Usar um meio mais barato para atingir aquilo que é mais caro. Se quiser desconto regulatório, terá de ser uma estrutura diferente. Não pode ser um fundo disfarçado.

Recuo na criação

- A criação de clubes teve desaceleração no último ano:

- Em 2009, houve avanço de 6,4% na quantidade de clubes em relação ao ano anterior.

- No ano passado, a alta foi de só 3,3% em relação a 2009.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Tesouro direto rende o triplo da Poupança


27/02/2011

Investir em títulos públicos é uma maneira segura de multiplicar o dinheiro

Gabriel Caprioli

Garantir uma boa renda no futuro não depende mais apenas de uma gorda aposentadoria ou da sorte em aplicações de risco — como a compra de ações de empresas privadas no mercado de capitais. Uma nova maneira de investimento, segura e rentável, vem ganhando adeptos dia a dia. É o Tesouro Direto, modalidade que já atraiu quase 220 mil brasileiros desde 2002. A aplicação permite a qualquer pessoa, por meio da compra de títulos do governo pela internet, tornar-se credora do Tesouro Nacional sem intermediários.
Especialistas garantem que a rentabilidade e a segurança dos ativos públicos ainda são imbatíveis, quando comparados às opções mais tradicionais do mercado. Alguns papéis com prazo de vencimento mais longo, nos últimos 12 meses, chegaram a render mais de 19% aos compradores — uma fábula, quando comparada aos 6,5% da poupança. E passar a ser dono de parte da dívida pública do país é mais fácil do que parece (veja passo a passo abaixo). Com valores a partir de R$ 100 na conta bancária e o número do CPF, é possível ingressar no programa pelo endereço eletrônico www.tesourodireto.gov.br.
O site oferece uma série de ferramentas para esclarecer até mesmo os menos familiarizados com a dinâmica dos títulos públicos, como um curso virtual desenvolvido em parceria com a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) — o mecanismo traz um simulador de compra e uma calculadora de rendimentos. “Quando lançamos o Tesouro Direto, recebemos várias sugestões que deixavam clara a necessidade de trabalhar essa questão da educação financeira. Então desenvolvemos esses instrumentos”, explica André Proite, gerente de relacionamento com os investidores do Tesouro.
Custo baixo
Há nove anos, quando o programa foi criado, a única forma de as pessoas físicas adquirirem títulos públicos era via fundos de investimentos, carteiras que normalmente detêm esse tipo de papel. “A diferença principal em optar pelo Tesouro Direto é que você não precisa pagar uma taxa de administração para o fundo e, apesar de ter que arcar com alguns custos, eles são muito mais baixos”, afirmou Armando Castelar, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV). A única taxa cobrada pela aplicação é a de 0,1% sobre o valor da compra (em uma única vez) e 0,3% (ao ano) para a custódia dos títulos, que ficam sob a guarda da Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC). Os 87 bancos e instituições que operam o sistema podem cobrar uma taxa fixada entre zero e 4%. No site do Tesouro, há um ranking de operadores e tarifas.
Proteção
O programa oferece uma série de papéis com características diferentes que podem ser adequados aos planos dos investidores. “O primeiro passo a ser feito é definir qual tipo de poupança se quer. Se é para comprar um carro daqui a dois anos, incrementar a aposentadoria ou ter um rendimento contínuo. Para cada opção, há um papel diferente”, diz o gerente de renda variável da corretora TOV, Pedro Alceu. Na avaliação de Castelar, os títulos mais indicados para quem não acompanha de perto o vaivém da economia são os atrelados a índices de preço (NTN-B e NTN-B principal).
Dessa forma, os investidores ficam protegidos contra a perda de valor da moeda e ainda ganham algo acima da inflação. “Para sair disso e escolher, por exemplo, um papel ligado à Selic (taxa básica de juros), é preciso fazer uma espécie de aposta em variações macroeconômicas — no caso, na alta dos juros”, pondera. Atualmente, R$ 4,7 bilhões em dívidas da União estão em poder de pequenos investidores particulares graças ao Tesouro Direto. A maior parte (51,3%) está em aplicações menores do que R$ 5 mil. Somente em janeiro, foram emitidos R$ 360,26 milhões, sendo a maior procura por papéis prefixados (54,81%), seguida pelos indexados à inflação (35,16%) e pelos atrelados à Selic (10,04%).
O estoque do programa ainda representa muito pouco, apenas 0,1%, de toda a dívida pública federal (atualmente, de R$ 1,6 trilhão). Mas, para Proite, a parcela diminuta em relação ao total negociado não diminui a importância do programa. “Criamos o Tesouro Direto para aumentar a participação do investidor pessoa física como credor do governo. A intenção é democratizar o acesso.” O Tesouro trabalha com uma meta, guardada sob segredo, de ampliação da participação dos investidores pessoas físicas no total da dívida pública. “Queremos elevar essa fatia expressivamente em dois anos”, diz Proite.
Papéis confiáveis
Forma eficaz de financiamento dos gastos da máquina federal, os títulos públicos são emitidos pelo governo e comercializados no mercado financeiro. A administração da dívida da União tem por objetivo rolar esses compromissos, substituindo os que vencem por outros novos. Quanto mais confiável é a economia de um país, mais seguros são os papéis que compõem sua dívida.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Pirâmides provocam perdas de vários bilhões a incautos

Valor Econômico

23/02/2011



De São Paulo

A lista de investidores vítimas de esquemas que prometiam rentabilidades altas nos últimos anos é grande. Boi Gordo, Gallus, Avestruz Master, clubes de investimentos e forex são exemplos de estruturas que acabaram se revelando golpes no estilo pirâmide, nos quais o dinheiro dos novos investidores paga os antigos. Somados, esses esquemas provocaram um prejuízo total em torno de R$ 4 bilhões - R$ 2,5 bilhões só da Boi Gordo, R$ 1 bilhão da Avestruz Master e R$ 200 milhões da Gallus. Só os casos mais recentes - Agente BR, Firv, Dinero e outros menores - já superam R$ 200 milhões.

As pirâmides também são chamadas de esquema Ponzi, em referência ao ítalo-americano Charles Ponzi, que deu um grande golpe com selos nos Estados Unidos nos anos 1920. O maior escândalo recente envolvendo pirâmides foi orquestrado pelo americano Bernard Madoff, ex-presidente da bolsa americana Nasdaq e que, em 2008, deu prejuízo de US$ 50 bilhões a investidores do mundo todo.

O caso veio à tona 9 de dezembro depois que um investidor tentou sacar US$ 7 milhões. Dois dias depois, Madoff foi detido pelo FBI e acusado de fraude. Em junho de 2009, seis meses depois do caso vir à tona, Madoff foi sentenciado a 150 anos de prisão.

Normalmente, os esquemas guardam algumas semelhanças: a oferta é feita via internet ou no boca a boca. Esse clima de que a aplicação está aberta somente para alguns poucos escolhidos acaba fazendo com que as perdas ocorram em grupos familiares, de amigos ou de colegas de trabalho, já que um vai indicando para o outro.

No Brasil, alguns esquemas também ficaram famosos nos últimos tempos. Um deles foi realizado pela Agente BR, que era uma corretora de câmbio. Após a morte do controlador da instituição, seu filho, Túlio Vinícius Vertullo, antes mesmo de transferir a empresa para o seu nome, passou a oferecer clubes de investimento sem registro. A aplicação garantia retorno de 5% ao mês, no mínimo. Havia reuniões em churrascarias para comemorar os ganhos e atrair novos investidores para o esquema.

Em julho de 2008, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgou um alerta ao mercado sobre a irregularidade da oferta feita pela Agente BR, mas a empresa continuou captando recursos até janeiro de 2009, quando o Banco Central interveio e decretou a liquidação da instituição. Os interventores do BC, no entanto, não encontraram nenhum registro dos clubes, nem das aplicações, que se descobriu depois foram transferidas para um site. Mesmo assim, calcula-se que 3 mil aplicadores tiveram um prejuízo de cerca de R$ 100 milhões.

A falência da Agente BR foi decretada, mas os credores têm poucas chances de recuperar suas aplicações pois nem a corretora, nem os sócios possuem bens que cubram a dívida. Vertullo e a corretora foram multados pela CVM em R$ 1,5 milhão cada.

Outra história recente ocorreu em Belo Horizonte, que resultou na prisão de Thales Emmanuelle Maioline, em dezembro do ano passado. Conhecido como o Madoff mineiro, ele passou 140 dias foragido depois de ser acusado de sumir com R$ 86,1 milhões de 2 mil investidores de 14 cidades.

Maioline teria criado um portfólio chamado Ficap (Fundo de Investimento Capitalizado), que na verdade não existia. O fundo era oferecido pela Firv Consultoria e Administração de Recursos Financeiros, que funcionava em um bairro nobre da capital mineira. No site da empresa, o Ficap era apresentado como o "clube dos vencedores", prometendo uma renda fixa garantida a partir de operações de arbitragem. Assim como no Agente BR, não havia, no entanto, qualquer informação sobre onde o dinheiro era investido.

A aplicação também prometia rentabilidade elevada, de 6% ao mês e, ao fim de seis meses, uma bonificação de 30%. Em julho de 2010, a CVM divulgou um alerta sobre a oferta irregular da Firv. A pirâmide, no entanto, só caiu no fim de julho, quando um investidor tentou sacar R$ 3 milhões.

Quem tiver conhecimento ou suspeita de alguma oferta irregular de investimento pode alertar a CVM por meio de uma central telefônica, no número 0800 722 5354, que funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h. Pode, ainda, fazer a denúncia por carta ou pelo site www.cvm.gov.br, na seção "Fale com a CVM".

Já quem foi vítima ou acredita que uma empresa merece ser investigada pode também fazer uma denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) de seu Estado. Para quem está em São Paulo, o procedimento é acessar o site www.prsp.mpf.gov.br. Em seguida, a pessoa deve clicar em "Envie sua denúncia ao MPF do Digi-Denúncia". Permite-se o anonimato, mas os casos nos quais a pessoa se identifica acabam tendo mais credibilidade. A partir daí, abre-se uma investigação, que pode dar origem a um inquérito policial ou a um Procedimento de Investigação Criminal (PIC). (LM)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Investidores preferem os títulos a ações brasileiras

Valor Econômico

21/02/2011


Jonathan Wheatley | Financial Times

Os investidores no Brasil estão direcionando mais recursos para a compra de títulos do que ações, em mais um sinal de preocupação em torno da desaceleração no ritmo de crescimento e de dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir cortes prometidos nos gastos. Dados divulgados na quinta-feira pelo EPFR Global, consultoria com sede em Boston que monitora fluxos de fundos transnacionais, revelou que os investidores aplicaram mais dinheiro em títulos brasileiros domésticos e internacionais em janeiro do que em renda variável, pela primeira vez desde junho de 2010.

Recursos para títulos representaram US$ 356 milhões líquidos, disse o EPFR, na comparação com apenas US$ 104 milhões para renda variável. O movimento de distanciamento das ações indica que os investidores estão mais atraídos pela renda fixa prometida pelos títulos do que pelo lucro potencialmente maior, mas mais arriscado, proveniente das ações. Dados recentes deprimiram o entusiasmo dos investidores em torno da economia do Brasil, que estaria rumando para uma taxa de crescimento menor, de aproximadamente 4,5%, em 2011.

A produção industrial caiu em dezembro ante novembro, contra aumento esperado de quase um ponto, e as vendas do varejo permaneceram inalteradas em relação a novembro. A inflação nos preços ao consumidor está acelerando a 6% ao ano, superando a meta do governo, de 4,5%. Amer Bisat, do Traxis Partners, consultoria de investimento de Nova York, disse que qualquer distanciamento das ações seria cíclico, não mais duradouro. O governo recentemente anunciou cortes de gastos de R$ 50 bilhões. O pacote foi criticado pela falta de detalhe e por não conseguir efetuar cortes em termos reais em relação aos gastos em 2010.

Isenção do IR eleva o ganho com papéis do agronegócio e de imóvel

Folha de São Paulo

21/02/2011

Incentivo do governo é atrativo para investidor aplicar em letras de crédito desses dois setores

Desvantagem é que, diferentemente de um CDB, não é possível resgatar a aplicação antes do vencimento

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Agronegócio, construção civil e, agora, infraestrutura.
Três dos setores de maior potencial da economia brasileira são também os que têm as melhores oportunidades de ganho para o investidor pessoa física nas aplicações financeiras em renda fixa.
E o motivo não é o dinamismo dessas indústrias, mas a isenção do Imposto de Renda dada pelo governo para quem ajuda a financiar esses setores, considerados estratégicos para o país.
As LCA (Letras de Crédito do Agronegócio) e as LCI (Letras de Crédito Imobiliário) têm isenção do Imposto de Renda, que leva até 22,5% do ganho em aplicações semelhantes de menos de seis meses. O mesmo vai ocorrer com os títulos de infraestrutura.
Quem aplicar R$ 100 mil por um ano nesses papéis com taxa de 85% do CDI pode levar R$ 9.477,50 líquidos, considerando um CDI projetado de 11,15%.
Para ter um ganho desse patamar -pagando IR de 17,5% (alíquota a partir de 361 dias)-, o investidor precisaria conseguir um CDB de 103,03% do CDI (11,49% ao ano, nessa conta), retorno que os bancos não oferecem nessa faixa de aplicação.
"É um investimento muito interessante. A gente mal consegue atender a demanda", disse Vitor Bidetti, diretor da Brazilian Mortgages, maior financeira do ramo imobiliário.
Apesar de estarem atrelados a um projeto -muitas vezes arriscado ou de difícil viabilidade, como na infraestrutura-, o risco dessas aplicações é baixíssimo.
No caso dos papéis imobiliários e do agronegócio, os bancos emissores garantem integralmente a aplicação do investidor mesmo em caso de inadimplência dos financiamentos a eles atrelados. O BNDES vai garantir o retorno dos papéis de infraestrutura.
O risco é o banco quebrar -o mesmo de um CDB. Na hipótese de isso ocorrer, o aplicador ainda tem como seguranças adicionais o imóvel e as garantias apresentadas pelos emprestadores.

VALOR ALTO
A principal desvantagem é que, diferentemente de um CDB, o aplicador não pode resgatar sua aplicação antes do vencimento.
O investidor precisa dispor de um valor elevado para comprar esses papéis e se beneficiar da isenção fiscal.
No Banco do Brasil, as aplicações em LCA começam em R$ 1 milhão e as taxas vão de 85% a 95% do CDI, dependendo do prazo. Bancos de menor porte, como o Safra e o Pine, aceitam investimentos a partir de R$ 100 mil, oferecendo taxas líquidas de 85% a 97% do CDI.
As LCI são um pouco mais acessíveis. Na Brazilian Mortgages, a aplicação mínima é de R$ 20 mil e as taxas começam em 88% do CDI.
"Se precisar do dinheiro no meio do caminho, é um problema. O investidor também tem de ver qual é a garantia da operação", diz Fabio Colombo, administrador de investimentos.
"É um produto diferente de um CDB e da poupança, que, se a pessoa precisar, pode sacar no outro dia. O risco de crédito é menor que em um CDB, mas a operação como um todo é mais arriscada porque não se pode sair quando quiser", diz Osvaldo Cervi, diretor do Private Bank do Banco do Brasil.

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