terça-feira, 25 de maio de 2010

Bancos dizem que é hora da pechincha

Valor Econômico

25/05/2010

Daniele Camba

Desde que a crise na Europa se instalou de forma mais acentuada, o que mais se ouve são investidores se lamuriando pelas perdas que tiveram em suas carteiras de ações. Mas há quem acredite que estes são os melhores momentos para se comprar ativos a preços menores e com um bom potencial de valorização, até por causa da queda em si.


 

Entre sexta-feira e ontem, alguns bancos divulgaram relatórios na linha de que "há sempre um lado positivo em meio a uma situação negativa". Alguns analistas acreditam, inclusive, que a bolsa subiu na sexta e durante boa parte do pregão de ontem graças a esse novo olhar sobre a crise.

Ontem, foi a vez do J.P. Morgan falar sobre o assunto. O banco acredita que este é um bom momento para os investidores comprarem ações da América Latina, depois das grandes quedas recentes. O banco lembra que nas últimas duas décadas o mercado latinoamericano teve 15 correções de mais de 20%. Essas desvalorizações foram, em média, de 26% e ocorreram durante cerca de 11 semanas. O movimento atual de queda já atinge aproximadamente 21% e se encontra na quinta semana. Nessas últimas 15 correções, a recuperação média foi de 51% nos 12 meses seguintes.

Esse cenário traçado pelo banco americano quer dizer que as bolsas da América Latina já caíram boa parte do que deveriam cair e que a recuperação pode estar muito próxima de começar. O relatório lembra ainda que no ponto atual em que o mercado se encontra costuma ocorrer historicamente um retorno médio de 27% em 12 meses.

Além da história recente a favor, os analistas do J.P.Morgan ressaltam que as bolsas da América Latina estão baratas em termos de múltiplos. Segundo eles, o preço sobre lucro (P/L, que dá uma ideia de quantos anos deve demorar para o investidor ter de volta o quanto aplicou) do índice Morgan Stanley Capital International (MSCI) da América Latina está em 9,8 vezes para os próximos 12 meses, abaixo da sua média de longo prazo e cerca de 30% abaixo do seu maior nível, de 14,1 vezes.

Todo esse cenário benigno, no entanto, considera a hipótese de que a crise nos países da União Europeia vai aos poucos se acalmar, especialmente depois da implementação do megapacote de ajuda de 1 trilhão. Os analistas do banco americano afirmam que os fundamentos globais hoje são muito melhores do que na crise de 2008, que começou no setor hipotecário americano de alto risco. Eles acreditam que o impacto da crise europeia na América Latina deve ser limitado, uma vez que os fundamentos dos países da região são bons e as bolsas estão depreciadas em cerca de 20%.

O gestor de renda variável da Infinity Asset Management, George Sanders, concorda com essa tese de que países com fundamentos superiores, como o Brasil, podem se descolar da crise Europeia. "A grande questão é argumentar para o investidor que ele deve comprar mesmo com as ações estando em queda", diz. Ele acredita que o descolamento do Brasil depende da vontade do país de mostrar que é bem mais rigoroso do que países como a Grécia. "Este é o momento certo do Brasil dar bons sinais de cortes de gastos públicos", observa Sanders.

O Índice Bovespa ontem fechou em baixa de 0,57%, aos 59.9015 pontos. Para o analista da Gradual Investimentos Flávio Conde, o indicador deve ficar na casa dos 60 mil pontos no curto prazo. "Para sair disso, tanto para cima quanto para baixo, são necessárias notícias positivas ou negativas suficientemente fortes, o que não vejo ocorrer pelo menos nesta semana."

Daniele Camba é repórter de Investimentos

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