segunda-feira, 5 de abril de 2010

Poupança se firma como opção ao investidor

Folha de São Paulo

05/04/2010

Conservadora e competitiva em relação a vários fundos, caderneta ganha espaço como instrumento de diversificação de aplicações

Patamar menor dos juros na economia aumentou a atratividade da poupança, que atrai mais depósitos de investidores de alta renda


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de perder da inflação por sucessivos anos, a poupança finalmente se tornou um investimento de retorno competitivo. Embora a caderneta também seja procurada pelos grandes investidores, nela os pequenos acabam encontrando uma das suas melhores opções para investimento.
Mesmo com a taxa básica de juros da economia, a Selic, em seu menor valor desde a estabilização da moeda, poucos fundos de investimento conservadores conseguem superar o rendimento da poupança. A taxa, determinada pelo Banco Central, está em 8,75% ao ano.
No Brasil dos juros baixos e das taxas de administração altas, a poupança virou um instrumento de diversificação de investimentos também para aqueles com perfil mais arrojado e acesso a fundos com taxas competitivas. Nesse caso, a estratégia é deixar uma parte dos recursos na conservadora poupança, conseguindo, dessa maneira, "garantir" algum rendimento, e se arriscar com um percentual dos recursos disponíveis na Bolsa de Valores.
Prova de que esse caminho tem sido mais seguido é que, no ano passado, aumentou em 30% a participação na poupança de investidores com depósitos de mais de R$ 1 milhão, segundo o BC. O número de milionários da poupança saltou de 3.822 para 4.980, enquanto o volume de depósitos acima de R$ 1 milhão passou de R$ 14,9 bilhões para R$ 19,8 bilhões entre 2008 e 2009.

Mudanças
No ano passado, o governo Luiz Inácio Lula da Silva tentou duas vezes mexer na poupança, cuja atratividade ameaçava a indústria de fundos, mas acabou desistindo.
Quando os juros básicos sobem, a poupança, que tem retorno atrelado à taxa Selic, fica mais interessante. Alguns tipos de fundo de investimento também são beneficiados pela elevação dos juros, mas pagam taxa de administração e imposto de renda.
A ideia do governo era passar a taxar cadernetas com saldo acima de R$ 50 mil. No entanto, segundo analistas, como não houve a temida migração em massa dos aplicadores, esse projeto foi deixado de lado.
"Acabou não ocorrendo a mudança. Mas poucos ficam de olho na taxa de administração dos fundos. Por enquanto, a diferença não é tão grande, mas, se os juros caíssem mais, isso ficaria mais evidente. Agora, porém, diria que os juros estão na iminência de subir. Quando isso acontecer, a situação dos fundos melhora um pouco", diz Marcia Dessen, consultora de finanças pessoais.
Os especialistas esperam que o comitê de política monetária do BC aumente os juros básicos já na sua próxima reunião, que acontece neste mês.
Segundo o administrador de investimentos Fabio Colombo, dificilmente os fundos com taxa de administração acima de 2% conseguem bater a poupança, independentemente da alíquota de Imposto de Renda.
Ele estima que os fundos com taxa de administração entre 1% e 1,5% empatam com a poupança no caso de resgate em menos de seis meses, quando o Imposto de Renda a pagar é de 22,5%. Para resgate em período superior a dois anos, a taxa de administração de equilíbrio está entre 1,5% e 2%.
Colombo afirma que, para concorrer melhor com a poupança, os fundos de investimento DI e de renda fixa passaram a aplicar um pequeno percentual do patrimônio em títulos de empresas, que têm rendimento e risco maiores.
"Alguns fundos conseguiram elevar os ganhos para até 110% do CDI. Mas o aplicador não sabe disso nem do risco que está correndo. Se alguma empresa tiver problema, ele pode perder bastante", afirma.
Para Dessen, mesmo quando o fundo tem taxa de administração baixa e rende acima da poupança, a diferença é muito pequena aos olhos do investidor para justificar uma série de avaliações e decisões. "Se a diferença de retorno fosse de 0,5 ponto percentual, talvez justificasse esse estudo que ele tem de fazer para correr um risco um pouco maior. A pessoa que investe em poupança só olha para o banco e acabou. Para quem aplica menos de R$ 60 mil, com limite de cobertura do Fundo Garantidor de Crédito, a poupança é o melhor dos mundos", afirma.

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