terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Telebrás vira mania com governo tagarela

Valor Econômico

23/02/2010

Daniele Camba

O cenário é um restaurante francês em São Paulo, no sábado à noite. Na mesa ao lado um homem explica com alguma desenvoltura para um casal mais velho sobre o mercado de ações, no qual ele investe. Num determinado momento, eis que o rapaz conta que vendeu ações da Petrobras e da Vale para comprar os papéis da Telebrás. Ele explica que a Telebrás, que hoje é praticamente uma empresa sem função, está em vias de se tornar uma operadora de banda larga para as classes mais baixas. Isso pode parecer ficção, mas é uma situação real, com esse diálogo entreouvido por esta colunista. O fato é apenas uma pequena amostra de como, do dia para a noite, as pessoas físicas passaram a se interessar pela Telebrás.

As ações tiveram enorme valorização e aumento no volume de negócios nos últimos meses, após afirmações de fontes do governo de que a companhia fará parte do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). O último foi o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva a confirmar, na quinta-feira passada, a intenção do governo de colocar a companhia dentro desse projeto. Só neste ano, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da empresa já subiram 249,33% ante uma queda de 2,05% do Índice Bovespa. Ontem, as PN se valorizaram 5,65%.

Era de se esperar que um desempenho dessa magnitude coçasse a mão do pequeno investidor. A grande preocupação é que essas pessoas estão se desfazendo de papéis de alta liquidez, de empresas com sólidos fundamentos, para comprar ações de uma companhia cuja sua ressurreição ainda não passa de uma promessa do governo.

 

 

Para o economista-chefe da Way Investimentos e diretor do curso de relações internacionais da ESPM-RJ, Alexandre Espírito Santo, para decidir se compra ou não um papel, em vez de qualquer dica de amigo, o investidor precisa olhar os fundamentos concretos da empresa. "E a Telebrás, por enquanto, não possui fundamentos que justifiquem a valorização", diz o professor. Outro sinal de movimento infundado é que, pelas suas contas, a Telebrás está valendo 85% da Net.

Vale lembrar que quem comprou as ações da estatal quando elas valiam poucos centavos foram os grandes ganhadores e que quem comprar agora provavelmente vai adquirir um papel caro. "Quando a ação estava uma bagatela até poderia valer a pena o risco, agora a conversa já é bem diferente", completa o professor.

Petrobras patinando nos R$ 34

Desde maio do ano passado, as ações preferenciais da Petrobras patinam na casa dos R$ 34. Ontem, por exemplo, elas fecharam aos R$ 34,65, uma alta de 0,87% ante uma queda de 0,61% do Ibovespa, aos 67.184 pontos. O grande motivo dessa estagnação são as dúvidas sobre a capitalização da empresa. O banco HSBC, no entanto, aumentou a recomendação dos papéis para "overweight" (acima da média do mercado) e o preço-alvo de R$ 38 para R$ 44, um potencial de valorização de 26,98% ante o fechamento de ontem do papel. Segundo o banco, as ações não refletem o expressivo progresso na exploração do pré-sal e o aumento de 109% nas reservas de petróleo e gás no ano passado.

Daniele Camba é repórter de Investimentos

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