quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Mais tempo, mais retorno

Valor Econômico

25/02/2010

Por Alessandra Bellotto, de São Paulo

Uma nova modalidade de Certificado de Depósito Bancário (CDB) vem ganhando espaço no universo dos investimentos de renda fixa. Trata-se do CDB escalonado, caracterizado pelo aumento progressivo da taxa de retorno quanto maior o prazo da aplicação. No ano passado, o estoque desses CDBs no mercado de balcão Cetip saltou de R$ 2,5 milhões em janeiro para R$ 2,1 bilhões em dezembro. As emissões somaram R$ 3,3 bilhões. Neste ano, o crescimento continua: ontem, o estoque já se aproximava dos R$ 2,8 bilhões.

Os CDBs escalonados começaram a ser oferecidos em meio à turbulência de 2008, quando os bancos precisavam de dinheiro para fazer frente à forte demanda por crédito. "Como o CDB é a opção que mais dá para "funding" para bancos, a crise aguçou a criatividade", conta o diretor de investimentos do Bradesco, Marcos Villanova. No banco, o escalonado, batizado de CDB Fidelidade, foi lançado em outubro daquele ano.

Contando os CDBs em geral, só em 2008, os bancos conseguiram captar R$ 234 bilhões, elevando o estoque de papéis de R$ 273 bilhões para R$ 518,5 bilhões. Em 2009, o saldo das aplicações em CDBs ficou negativo em cerca de R$ 7 bilhões - os escalonados, ao contrário, cresceram com força.

A modalidade ainda representa parcela pequena do mercado total de CDBs, cujo saldo gira em torno de R$ 511 bilhões, segundo levantamento do Valor Data. Contudo, com os bancos de caixa cheio e sem interesse para captar, o CDB escalonado tornou-se uma alternativa para o investidor, especialmente pessoa física, conseguir uma rentabilidade melhor. O ambiente de juro baixo também estimulou a procura pela aplicação, já que ela paga taxas progressivas.

No CDB tradicional, que pode ser pós-fixado - em geral atrelado ao CDI - ou prefixado, a taxa é acertada na entrada. Os prazos de emissão variam de acordo com o banco, de 30 dias até quatro anos.

O papel atrelado ao CDI tem liquidez diária, ou seja, pode ser resgatado antes do prazo com o rendimento - ou seja, o percentual do referencial - definido no início da aplicação. No caso do prefixado, em geral, não há liquidez diária. Para sair antes do vencimento, o investidor tem de negociar com o banco, podendo haver impacto no rendimento. Isso porque a referência será a taxa do mercado naquele momento.

No escalonado, que é pós-fixado, são definidas diferentes taxas (ou seja, percentuais do CDI) para prazos diversos. Quanto mais o investidor permanecer no papel, maior vai ser a sua remuneração. Segundo Villanova, a vantagem do CDB em relação a alternativas como o fundo de investimento é que, se o investidor precisar sair antes do prazo, vai saber exatamente o percentual do CDI a receber. E, se ficar até o vencimento, o retorno vai ser melhor do que no CDB tradicional. "É uma forma de compensar o cliente que ficar mais tempo na casa", afirma o diretor de tesouraria institucional do Itaú BBA, Luiz Marcelo Moraes.

O CDB escalonado significa o alongamento do prazo médio de captação dos bancos, já que o investidor vai pensar duas vezes antes de resgatar, avalia Jorge Sant"Anna, diretor superintendente da Cetip. Moraes, do Itaú, conta que essa foi a alternativa encontrada pelas instituições para perenizar a fonte de recursos. Segundo o executivo, em 2009, passada a pior fase da crise, muita gente resgatou CDB para trocar de carro, geladeira por conta da redução do IPI. Nessas horas, os tradicionais tendem a sofrer mais que os escalonados.

Só que o escalonado não é para todo mundo. Segundo Moraes, a demanda maior é da pessoa física, já que a empresa tem fluxo de caixa mais curto e, dificilmente, consegue alongar sua aplicação. "O escalonado não vai arrebentar como o tradicional na crise, mas veio para ficar." À medida que o país se consolida como estável, o investidor passa a confiar em deixar o dinheiro aplicado por mais tempo, argumenta. E o CDB, diz Moraes, é uma aplicação simples, que atrai o investidor de varejo.

No Bradesco, a procura pela modalidade foi muito grande no ano passado. Segundo Villanova, uma das explicações é justamente a nova percepção do investidor de que pode ter benefício se alongar suas aplicações. O escalonado foi também a maneira encontrada pelo investidor para compensar a queda nas taxas pagas pelos CDBs tradicionais. "O cliente optou por essa modalidade para melhorar a rentabilidade."

As taxas, ressalta Villanova, caíram para todos os CDBs independentemente da versão, mas o escalonado traz a possibilidade de o investidor ter um retorno maior lá na frente. No Bradesco, o cliente que tem de R$ 1 mil a R$ 49 mil vai encontrar uma taxa que começa em 83% do CDI para os primeiros 180 dias, sobe para 90% no intervalo de 181 a 360 dias, 95% entre 361 e 720 dias e, por fim, para 99% no período de 721 a 1080 dias, ou cerca de três anos. A remuneração pode até ser maior, dependendo do relacionamento do cliente com o banco. No meio da crise, segundo o executivo, o Bradesco chegou a pagar, em média, 5 pontos percentuais a mais do que hoje.

No Santander, a taxa do CDB Recompensa, como é conhecida a modalidade, chega a 100% do CDI para dois anos e um tíquete mínimo de R$ 30 mil - no ano passado, o papel pagava até 102% para volumes acima de R$ 50 mil. "Essa é uma boa opção para quem gosta de renda fixa e pode separar um dinheiro para deixar aplicado por dois anos", diz a superintendente de investimentos Sinara Figueiredo. No escalonado, além de melhorar o retorno, o investidor é beneficiado com a queda da alíquota de imposto de renda para 15% após dois anos. "Se ele pensar no curto prazo, vai ganhar menos."

Para valores menores, a partir de R$ 5 mil, o banco oferece o CDB Recompensa Fácil. Nesse caso, o investidor tem como ganhar 100% do CDI, mas desde que fique por três anos. Sinara afirma que, no tradicional, a taxa atual gira em torno de 90% do CDI para aplicações entre R$ 25 mil e R$ 30 mil. A carteira de CDBs escalonados no banco - que inclui uma parte que não é registrada na Cetip - já atinge R$ 2 bilhões.

Tanto no Bradesco como no Santander, se o investidor permanecer até o vencimento, a taxa do último período é retroativa a toda a aplicação, o que não acontece no Itaú. "Não temos esse desenho por enquanto, vamos lançá-lo em breve", diz Moraes. Ele não detalhou as condições da aplicação no Itaú.

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