terça-feira, 13 de janeiro de 2009

CDB, o favorito

Valor Econômico
Por Angelo Pavini, de São Paulo
13/01/2009



Entre uma maldade e outra da vilã da novela das oito, um dos personagens faz o seu "merchandising". Mas, em lugar de falar das maravilhas de aparelhos de som ou bebidas, ele alardeia as vantagens do CDB de um grande banco. Um bom exemplo de como a crise de liquidez fez uma aplicação veterana passar de coadjuvante à estrela do mercado. No ano passado, os CDBs lideraram as captações, com R$ 234 bilhões, para R$ 28 bilhões no ano anterior. A poupança captou R$ 17,7 bilhões e os fundos de investimento tiveram resgates de R$ 77,8 bilhões.

Os CDBs continuam pagando taxas bastante atrativas para o investidor. Clientes mais endinheirados, de private banks, conseguem taxas equivalentes a 102%, 104% do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) em papéis de grandes bancos de primeira linha sem liquidez diária e de 101% a 102% com liquidez em prazos de um a dois anos. Bancos estrangeiros chegam a pagar 105% do CDI para volumes acima de R$ 3 milhões. Um sinal de que, apesar de todas as medidas do governo para aumentar a liquidez do sistema, liberando compulsórios e injetando recursos, ainda falta dinheiro, diz Marcelo Xandó Baptista, sócio da Verax Serviços Financeiros. Por isso, as taxas seguem atraentes. "Vemos taxas de até 106% do CDI em bancos de primeira linha para valores acima de R$ 3 milhões."


Nas agências, o investidor de varejo consegue taxas menores, mas interessantes. O Unibanco pagava 91% em um CDB de dois anos para uma aplicação de R$ 10 mil. Melhor que um fundo de investimento com taxa de administração de 1% ao ano. E, com a expectativa de queda dos juros, a vantagem do CDB aumenta, pois o impacto da taxa de administração no fundo cresce. A queda nos juros deve reduzir a rentabilidade dos CDBs pós-fixados, uma vez que o CDI também vai cair. Mas seu ganho comparativamente deverá seguir melhor que outras opções semelhantes, como fundos DI.


Uma alternativa para o pequeno investidor são os CDBs com taxa crescente de acordo com o prazo, que chegam a pagar 100% do CDI para valores a partir de R$ 5 mil e que fiquem aplicados por dois anos. Em alguns casos, com quantias maiores, pode-se conseguir taxas acima de 100% após dois ou três anos. E há liquidez diária após seis meses, apesar de o cliente que sacar antes levar um percentual bem menor do CDI.


Os juros dos CDBs recuaram em relação ao pico da crise de liquidez, entre agosto e novembro do ano passado, mas se estabilizaram em um nível bastante alto, afirma George Wachsmann, da consultoria Bawm Investments. Além disso, a negociação das taxas ficou mais dura. Os bancos aceitam aumentar a remuneração, mas somente para prazos mais longos de investimento e sem resgates.


Mesmo assim, o ganho para o investidor é bastante atrativo. Na semana passada, bancos estrangeiros pagavam 107% para um ano e 108% para dois anos, sem liquidez diária. Já um grande banco privado nacional pagava 103% para clientes private para dois anos, sem liquidez. "Quanto mais tempo, maior a taxa", diz Wachsmann.


A pressão sobre as taxas dos CDBs deve continuar até que o mercado internacional volte a se abrir para os bancos brasileiros, afirma Paulo Saba, diretor de tesouraria do BES Investimento. Por isso, o aumento das taxas de CDB foi rápido, mas sua redução será lenta, alerta ele. Para Saba, a liberação dos compulsórios resolveu os problemas emergenciais do sistema, de socorro às instituições menores, mas não chegou a afetar as taxas.


Enquanto isso, as instituições locais vão pagar o que for preciso para arrumar dinheiro para emprestar ou mesmo para reforçar o caixa, afirma um gestor de recursos que pediu para não ser citado. Parte dos recursos captados está ficando no overnight, como mostram os dados do Banco Central, que saltaram de R$ 60 bilhões no ano passado para R$ 133 bilhões este ano. Os fundos de investimento, por sua vez, têm procurado comprar CDBs apenas de curto prazo, de um ano no máximo, pelos problemas para marcar esses papéis a mercado todo dia.


No varejo, os CDBs com ganho crescente tornaram-se um sucesso, explica Marcus Matos, gerente executivo de captação do Santander. Em dezembro, 20% da captação do banco veio do CDB Recompensa, que paga 100% do CDI para valores a partir de R$ 5 mil que ficarem mais de três anos. Para valores acima de R$ 50 mil, o ganho chega a 102% do CDI em mais de dois anos. Mas, se sacar antes, o investidor leva taxas menores, 70% do CDI em seis meses, por exemplo, no caso do valor mais baixo. Como comparação, a poupança paga em média 60% do CDI líquidos, o que equivaleria a 77% do CDI antes do imposto de 22,5% em seis meses.


O Bradesco, que também fez campanha para seu CDB Fidelidade, fechou o ano com um aumento expressivo de captação nessa modalidade, diz Marcos Villanova, diretor de investimentos do banco, sem dar números. Segundo ele, a tendência das taxas dos CDBs é de queda, acompanhando a menor procura por crédito neste início de ano. "Todo mundo, empresas, pessoas, bancos, estão em compasso de espera", diz.


O Bradesco paga para valores, entre R$ 10 mil e R$ 50 mil, 100% do CDI após dois anos. O papel tem liquidez diária, mas se o investidor resgatar antes leva menos, 85% do CDI até um ano e 90% de um ano a dois. Valores acima de R$ 50 mil conseguem 100,5% do CDI após dois anos. Villanova observa, porém, que o banco paga a taxa máxima para o período todo do cliente. Em alguns bancos, alerta, o cálculo da rentabilidade é pela média das taxas de cada período, o que dá menos de 100% do CDI mesmo após dois anos.


O que pode aumentar a pressão sobre os CDBs e melhorar ainda mais a situação para o investidor são as ofertas de papéis de empresas. Na semana passada, a Bradespar concluiu a emissão de uma debênture com juros equivalentes a 125% do CDI e prazo de três anos. "Muitas empresas de capital aberto devem fazer o mesmo e vão pagar taxas atrativas, inclusive para pessoas físicas, competindo com os CDBs", diz Wachsmann, da Bawm.


Assim, além de elevar o referencial de ganho dos CDBs e fundos de investimento, a debênture ainda afasta o investidor desses dois mercados por três anos.

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