segunda-feira, 2 de junho de 2008

Faça a Bolsa pagar 'salário' para você

Jornal da Tarde
02/06/2008

Além do rendimento das ações, investidor pode ganhar um extra com o lucro das empresas

FABRÍCIO DE CASTRO,
fabricio.castro@grupoestado.com.br

Ao comprar ações listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o investidor está - como não poderia ser diferente - de olho na valorização dos papéis ao longo do tempo. Só que essa não é a única forma de ganhar dinheiro nesse tipo de mercado. Quem adquire ações se torna sócio das empresas escolhidas e passa a ter direito a uma parcela de seus lucros. E a distribuição de resultados, muitas vezes, permite que a pessoa tenha uma renda extra, regular, sem fazer esforço.

Pela lei, todas as empresas listadas na Bolsa são obrigadas a distribuir, anualmente, pelo menos 25% dos lucros por meio de dividendos. Mesmo que o preço das ações passe por altos e baixos, a companhia que registrar lucros precisa reparti-los com os investidores.

“As empresas distribuem no mínimo 25% dos lucros, mas algumas chegam a pagar uma porcentagem maior”, afirma Paulo Roberto da Silva, diretor da Planner Corretora.

A mecânica é simples: quanto mais ações o investidor tiver em seu poder, maior será a parcela dos lucros recebida por ele. “As boas pagadoras são as que distribuem de 35% a 40% dos lucros”, explica Daniel Gorayeb, analista de investimentos da corretora Spinelli.

Embora todas as companhias paguem dividendos, algumas são referências na hora de repartir seus ganhos. Bancos como Bradesco e Itaú, por exemplo, pagam dividendos aos acionistas várias vezes durante o ano. Já companhias como a Souza Cruz são apontadas como destaque pelo volume distribuído.

“Há empresas que são históricas boas pagadoras de dividendos”, confirma Marco Saravalle, analista da corretora Coinvalores. “É o caso da Souza Cruz, que tem um caixa confortável e não precisa fazer novas captações. Ela paga bons dividendos porque está próxima da fase de maturação.”

Cada empresa possui uma política de pagamento. Algumas distribuem o lucro uma vez ao ano ou a cada seis meses, enquanto outras escolhem períodos menores.

Dessa maneira, investidores mais experientes chegam a montar carteiras com ações de várias empresas para que, em diferentes meses do ano, possam receber dividendos. É como se fosse uma retirada extra, às vezes até mensal. “A melhor forma da pessoa ter uma renda é com os dividendos”, defende Gorayeb, da Spinelli.

Mais indicadas

A pedido do Jornal da Tarde, as corretoras Coinvalores, Spinelli e Planner formularam listas com dez ações mais indicadas, sob o ponto de vista dos dividendos. Algumas empresas, como Eternit, Metalúrgica Gerdau e Telesp, são citadas mais de uma vez.

As corretoras consideraram tanto o potencial de valorização dos preços das ações quanto os lucros esperados para os próximos meses. Um dos indicadores avaliados pelos especialistas é o dividend yield - a taxa de retorno de um investimento de capital. Quanto maior o yield esperado, maior a fatia de lucros.

Em 2007, por exemplo, a Telesp teve um yield de 13,30%. Isso significa que, se o investidor tivesse em seu poder R$ 100 mil em ações da empresa, ele receberia 13,30% desse valor em dividendos (R$ 13,3 mil). “É como se fosse um salário”, compara Gorayeb. “Quem tem R$ 300 mil aplicados numa empresa de 12% de yield, terá R$ 36 mil por ano ou R$ 3 mil por mês.”

As corretoras apontam as melhores opções de acordo com o yield projetado para os próximos meses. Porém, como se trata de uma projeção, nada garante que o retorno será realmente positivo. Se a companhia enfrentar dificuldades, obviamente, sua capacidade de distribuição de lucros será menor.

O estrategista Fábio Anderaos de Araújo, da Itaú Corretora, afirma que o iniciante precisa observar o histórico de pagamentos. “A primeira coisa é ter idéia de quanto a empresa pagou de dividendos no último exercício”, explica.

Retorno e estabilidade

Pela estimativa da Itaú Corretora, a AES Tietê (GETI4) e a Tran Paulista (TRPL4) serão os destaques nos próximos 12 meses na Bolsa de Valores: ambas sinalizam com um yield de 9%. “O investidor tem de procurar o maior yield, com a maior estabilidade.”

Antes de comprar as ações, no entanto, o investidor inexperiente deve consultar uma corretora de valores. Marco Saravalle, da Coinvalores, lembra que a distribuição de lucros não deve ser o único critério considerado. “Vale a pena focar não apenas nos dividendos, mas também no potencial de crescimento do setor onde essas empresas atuam.”

SAIBA O QUE SÃO OS DIVIDENDOS

Quando uma empresa listada na Bolsa tem lucro, ela é obrigada a distribuir pelo menos 25% do resultado com os acionistas. O valor recebido são os dividendos

Essa distribuição de lucros deve ocorrer todos os anos, ao final do exercício fiscal. Porém, a empresa tem a possibilidade de adiar o pagamento de dividendos por até três anos - o que não é muito comum. Ao final do período, o acionista recebe todos os dividendos a que tem direito

Algumas companhias pagam mais que os 25% obrigatórios. Geralmente, são empresas em fase de maturação - consolidadas no mercado e com bom fluxo de caixa -, que não precisam reinvestir os 75% restantes do lucro

São também comuns os casos de empresas que pagam dividendos várias vezes ao longo do ano. Esse é o caso de vários bancos

Os acionistas recebem dividendos de acordo com o número de ações em seu poder. Quanto mais papéis, maior a parcela de participação nos lucros

Um dos principais indicadores para avaliar a distribuição de lucros é o dividend yield. A taxa indica o retorno que a pessoa terá sobre o investimento. Um yield de 12%, por exemplo, permitirá dividendos de R$ 12 mil para quem tiver R$ 100 mil em ações

É difícil para o investidor de primeira viagem avaliar todos os indicadores sem a ajuda de uma corretora. Os analistas de mercado, assim, podem indicar as melhores opções disponíveis

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