terça-feira, 6 de maio de 2008

Sucesso vem com planejamento

Jornal da Tarde
06/05/2008


Na volta ao Brasil, os dekasseguis precisam estudar o mercado para aplicar bem o dinheiro que ganharam

Fernando Nakagawa

A história se repetiu em centenas de famílias japonesas nos últimos anos. Insatisfeitos com a situação no Brasil, descendentes buscaram trabalho do outro lado do mundo. Geralmente, o plano é o mesmo: juntar dinheiro, retornar e abrir um negócio. O sucesso na volta, porém, não vem facilmente. É preciso estudar o mercado e planejar a abertura da empresa - quem seguiu esses passos à risca já colhe os frutos e faz parte de uma nova geração de dekasseguis-empresários bem sucedidos.

Há exatos 100 anos, o café ajudou a trazer os primeiros japoneses para o Brasil. O mesmo grão que garantiu o sustento dos desbravadores no século passado é, agora, a fonte de sucesso para um grupo de paranaenses que suou anos em fábricas japonesas. Em 1999, quatro dekasseguis recém chegados decidiram se juntar para abrir um negócio. Passaram seis meses pesquisando o mercado e as oportunidades de negócio em Curitiba, Paraná.

“Opções não faltavam. Pensávamos em posto de gasolina, supermercado, restaurante. Mas optamos por aquilo que parecia ser mais promissor, com mais oportunidades”, diz Julio Yamaguti, que trabalhou por seis anos como operário no Japão. Então, decidiram abrir uma cafeteria, negócio que crescia a passos largos em São Paulo e ainda era incipiente no Paraná. A Exprèx Caffè foi aberta no final de 99, no centro de Curitiba. A decisão foi acertada. O setor cresceu forte e a cafeteria até ganhou concorrentes, que não conseguiram o mesmo sucesso. O negócio evoluiu e a empresa vai iniciar até a comercialização de franquias com a marca este ano.

À japonesa, Yamaguti diz que a perseverança foi o principal motivo do sucesso. Mas ele admite que o esforço não valeria nada se a abertura da cafeteria não tivesse sido precedida por um bom estudo do mercado. “Estudamos muito porque sabíamos que a oportunidade não podia ser perdida. Particularmente, eu não queria errar porque não queria perder por todo o esforço de passar anos trabalhando no Japão.”

Esclarecimento

Quem acompanha a volta dos dekasseguis ao Brasil diz que os erros são, geralmente, os mesmos na tentativa de se abrir um negócio. “Normalmente, ele volta sem pesquisar nada do mercado, sem ver quais são as oportunidades. Não há qualquer tipo de planejamento”, diz Silmar Rodrigues, coordenador-nacional do Programa Dekassegui promovido pelo Sebrae e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Para tentar reverter esse quadro, o programa desenvolve ações no Japão para esclarecer os que planejam o retorno ao Brasil.

O programa do Sebrae constatou que, na média, o dekassegui retorna ao Brasil com capital entre US$ 60 mil e US$ 70 mil, após período de 3 ou 4 anos de trabalho. Mas esse empreendedor costuma retornar com uma idéia clara do negócio que quer abrir. “Se ele tem habilidade em cozinhar, por exemplo, acha que tem de abrir um restaurante. Mas nem sempre é assim porque o local escolhido pode ter excesso de restaurantes e vai ser difícil entrar no mercado”, explica. “Antes de escolher o negócio, é preciso ter alguma vivência no Brasil para avaliar as condições do mercado, observar se há oportunidades.”

Assim como Yamaguti viu oportunidade no ramo de cafeterias em Curitiba, Eduardo Seko também foi feliz na escolha do negócio ao voltar do Japão. Em 2003, após uma temporada como dekassegui, reorganizou um pequeno negócio da família que comercializava fertilizantes e produtos naturais em Belém, no Pará. Seko percebeu a demanda por produtos naturais com propriedades terapêuticas e focou a pequena empresa em produtos relacionados à floresta amazônica. A mudança deu certo e a família passou até a exportar chás medicinais, raízes energéticas, mel e guaraná.

“São exemplos que mostram que o sucesso não é impossível. Para isso, basta planejar a volta, estudar muito o mercado e ter noções básicas de administração, como controlar o caixa e estabelecer preços”, diz o coordenador do Programa Dekassegui. Ele admite que muitos descendentes, principalmente no Japão, têm resistência em aceitar a ajuda de entidades como o Sebrae. “Há temor de que os serviços possam ser cobrados. Mas todos os nossos cursos disponíveis na internet são gratuitos”, esclarece.

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