terça-feira, 10 de julho de 2007

Emergentes sobem e oportunidades já são menos recorrentes

Do Valor Econômico de 10/07/2007:

Por Danilo Fariello

Se um relógio Rolex e um Timex custassem o mesmo preço, qual você compraria? Essa é uma metáfora aplicável ao mercado financeiro atualmente, diz David Turnbough, estrategista global da AllianceBernstein Investments, gestora que administra mais de US$ 742 bilhões (cerca de R$ 1,4 trilhão). Para ele, o preço das ações de mercados emergentes subiram tanto que praticamente já não há desconto entre o preço desses papéis e as ações de grandes e tradicionais empresas dos países desenvolvidos. Seria como se o relógio Timex tivesse se valorizado tanto que agora custasse o preço de um Rolex. O economista leva em conta os avanços institucionais dos mercados emergentes ou o melhor desempenho das empresas neles situadas, mas questiona o preço atual das ações desses países.
A metáfora reflete alguns dos indícios de uma especulação que atinge o preço das ações em mercados emergentes, explica Turnbough. "As chances de retorno não são mais tão boas nos emergentes quanto foram no passado" completa Giuliano De Marchi, vice-presidente para as Américas da AllianceBernstein.
Enquanto muitas das ações de empresas produtoras de commodities dos países emergentes podem ter subido demais, diversas grandes companhias mundiais - as "blue chips" com atuação global, principalmente - podem ser agora uma barganha no mercado, diz Turnbough. "Essa proximidade dos preços entre as grandes multinacionais e as empresas menores tende a reduzir novamente, seja pelo aumento das primeiras ou pela queda das demais."
De olho no maior risco das empresas em países emergentes, a gestora global reduziu nos últimos 12 meses de 20% para cerca de 11% a parcela de sua carteira investida nesses países. "O momento agora é de maior seletividade", diz o estrategista global. "Dessa redução, a maior parte se trata de empresas com maior grau de risco", completa. A AllianceBernstein possui umas das maiores estruturas de avaliação de empresas, com mais de 300 mil analistas espalhados por praticamente todos os mercados relevantes do mundo.
Embora tenham reduzido a exposição a mercados emergentes mundialmente, Turnbough diz que a diminuição menor dos investimentos ocorreu no Brasil, mercado que ainda vê com melhores olhos em relação a outros similares, como China e Índia. O país é o principal destino da gestora na escolha entre esses mercados, tanto para investimentos em ações quanto em títulos de renda fixa. "Se os fluxos de recursos mundiais continuarem, o Brasil chegará ao 'investment grade' e o número de instituições que poderá investir aqui aumentará e o juro de longo prazo tenderá a cair."
Desde o início de 2003 até sexta-feira, o índice de ações de todos os mercado emergentes, o MSCI Emerging Markets, avançou 278,65% em dólar, enquanto o índice global sem esses mercados, o MSCI World, subiu 105,93%. Isso levou as ações de empresas de países emergentes a ter preços muito próximos daquelas de mercados mais maduros. "Isso faz não haver mais o desconto justo entre as ações de emergentes."
No Brasil, em proporção menor, algo parecido ocorre entre as empresas menos líquidas - em tese com maior risco - e as demais. De 2003 para cá, o Ibovespa, com as maiores e mais negociadas ações do pregão, subiu 400%, enquanto as cem maiores, que formam o IBrX-100, avançaram mais, 440%. Em dólares, o IBrX-100 subiu 902% no período.
Com base em teses ligadas ao comportamento do investidor, o executivo americano diz que os investidores devem estar atentos para o fato de a rentabilidade passada não representar retornos futuros tão bons nos países emergentes. Simulações de Turnbough apontam que, em geral, três anos de fartura no mercado de capitais tendem a ser acompanhados por três anos de escassez, ou seja, de retornos menores ou até perdas. "Apesar de muitas empresas ainda apresentarem boas perspectivas no futuro, os próximos anos não deverão ser tão rentáveis quanto os últimos." Muitas das boas notícias já foram incorporadas pelo mercado, diz.
Para Turnbough, não se trata atualmente do temor de uma freada na economia mundial, como havia até o início do ano, para afugentar investimentos do risco. "Diferentemente do que vimos por pelo menos 30 anos, hoje o mundo não desacelera no mesmo ritmo dos Estados Unidos, que atravessa um período difícil", diz. Até maio, havia ainda um temor que a desaceleração do crescimento dos EUA para 1,8% neste ano contaminasse o mundo, mas agora a gestora mundial, que investe cerca de US$ 11 bilhões apenas no Brasil, prevê que o mundo deverá seguir crescendo por volta de 3,5% neste ano e no próximo. Para o Brasil, está previsto crescimento ao redor de 3,7% até 2011. Essas informações constam da análise conjuntural chamada "Excesso ou oportunidade", que inclui um balanço do mercado no primeiro semestre e será lançada mundialmente pela AllianceBernstein hoje.
Para Turnbough, é possível que o Brasil chegue a ter, no futuro, uma taxa básica de juros em torno de 7% ou 8%, desde que a taxa americana não continue a subir muito além da previsão atual. A perspectiva aponta, portanto, para um juro real no Brasil próximo de 3% ou 4%. No entanto, é incerto quando isso ocorrerá. Se isso ocorrer, será possível lucrar com a valorização dos títulos em mercado, diz o estrategista, que veio ao Brasil para visitar o escritório local da empresa.
A AllianceBernstein prevê que os países emergentes que não aproveitarem o bom momento do mercado para fazer reformas importantes em suas instituições locais poderão enfrentar problemas mais sérios quando a bonança passar. "Os países emergentes não podem desperdiçar este período de calmaria para avançar em reformas institucionais", diz o economista David Turnbough.

Nenhum comentário:

Locations of visitors to this page