segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A Bolsa na montanha russa

Folha de São Paulo

02/08/2010

Gustavo Cerbasi



Quem rebalancear a carteira duas vezes ao ano estará sempre vendendo na alta e comprando na baixa

O MÊS DE JULHO encerrou com a maior alta mensal das ações em 14 meses, aliviando a queda acumulada no ano até junho. O salto do acumulado do índice Bovespa foi de -11,16% para -2,38% em um mês, ainda com perdas no ano. Mas o que poderia ser uma ótima notícia para a maioria dos investidores é, na verdade, prenúncio de problemas.
Infelizmente, a maioria das pessoas físicas ainda investe com base em dicas e interpretações superficiais dos fatos. Quando a imprensa anuncia a constatação do bom histórico de um investimento, o investidor despreparado interpreta os fatos como recomendação e tende a buscar esse tipo de investimento.
Isso vale tanto para a Bolsa de Valores quanto para imóveis e outros negócios. É comum, por exemplo, que o investidor inexperiente procure comprar terrenos e imóveis em lugares que apresentam um forte histórico de apreciação, quando a melhor escolha seria, contrariamente, vender ou evitar a compra de bens que estejam supervalorizados.
O motivo é simples: tudo que sobe de preço significativamente em curto espaço de tempo fica caro.
Em outras palavras, o espaço para valorizar fica menor, pois há mais investidores satisfeitos tentando vender do que tentando comprar aquele tipo de ativo.
Mesmo que o valor continue aumentando ou que ele não caia, a liquidez do ativo -que é o potencial de vendê-lo em curto espaço de tempo- cai significativamente. O que se observa quando encontramos um histórico como o que se vê atualmente na Bolsa é que muitos investidores tendem a migrar para as ações. Entendem que uma suposta crise passou, ou que o cenário para a Bolsa "ficou bom". Essa interpretação é equivocada.
O raciocínio correto é aplaudir a escolha de quem comprou antes da alta, estudar o que levou os demais investidores a antecipar essa possibilidade de ganho e se preparar para repetir a receita quando houver uma próxima crise, neste ou em outros mercados.
O bom momento da economia brasileira e suas perspectivas são um convite para que todos os brasileiros participem do sucesso das empresas do país, e as ações são o meio para isso.
Se, com a alta, a pessoa se conscientizou das oportunidades que as ações trazem, deve adotar uma receita que funciona muito bem para quem não está envolvido 24 horas por dia com o mercado. Sua primeira escolha deve ser a de investir sempre uma menor parte de seu patrimônio no mercado de ações, seja comprando papéis através de uma corretora, através de fundos, ou mesmo solicitando a migração de seu plano de previdência privada para um modelo composto, com participação em renda variável.
Opte por uma composição que seja sua referência -por exemplo, 20% em renda variável e 80% em renda fixa. Outra escolha importante é acompanhar as notícias, para entender os porquês do frequente sobe-e-desce dos preços.
Com esse acompanhamento, mesmo o investidor pouco experiente terá condições de perceber quando as ações estiverem baratas e quando estiverem caras.
Se há algo a fazer com as oscilações, é intensificar as compras quando o mercado apresentar baixas, e atentar para a necessidade de rebalanceamento quando a constatação for de boas altas. Rebalancear nada mais é do que ajustar sua carteira de investimentos para que ela volte à composição que você optou para referência.
Se rebalancear sua carteira pelo menos duas vezes durante o ano, estará sempre vendendo em momentos de alta e comprando em momentos de baixa -seguindo a célebre recomendação de comprar na baixa e vender na alta.
Analistas são unânimes ao dizer que os próximos meses serão de instabilidade nos mercados de ações.
Isso não significa problemas ou perdas, mas sim que as dúvidas dos investidores gerarão muita especulação. E especulação provoca alternados e intensos movimentos de sobe-e-desce no índice da Bovespa.
Se for seguida a simples regra de sempre investir em ações -para conhecer melhor o mercado- e de agir nos momentos de baixa, a probabilidade de fazer um mau negócio será ínfima.
GUSTAVO CERBASI é autor de "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos" (ed. Gente) e "Mais Tempo, Mais Dinheiro" (Thomas Nelson Brasil).
Internet: www.maisdinheiro.com.br

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