quinta-feira, 24 de junho de 2010

Investimentos: sem estratégia não há ganhos, nem no longo prazo

Valor Econômico

24/06/2010

Bruno Lembi
 
Quem investiu no Ibovespa em 1995 tem hoje menos do que se tivesse aplicado 100% no CDI. Entre 1999 e 2009, quem investiu no S&P 500 perdeu cerca de 1/4 do seu patrimônio. Esses exemplos deixam clara a falácia do argumento de que ações são sempre um bom investimento no longo prazo.

O investidor deve então desistir de renda variável (RV) e aplicar somente em renda fixa (RF)? Também não parece ser a alternativa correta. Em certos períodos, o investimento em ações se mostrou muito vantajoso. Entre 2002 e 2008, por exemplo, o Ibovespa se valorizou em mais de 500%!

O fato é que para decidir sobre a melhor alocação dos seus recursos os investidores precisarão se aprofundar, seja por conta própria, seja com o auxílio de profissionais. Os novos tempos exigirão esse comprometimento do investidor para que o capital tenha uma boa rentabilidade no longo prazo.

Na tentativa de simplificar esse processo foram criadas algumas fórmulas supostamente infalíveis. Tem sido divulgada, por exemplo, uma "equação" relacionando a idade do investidor com a porcentagem que ele deveria alocar em ações. A "equação" deveria ser aplicada da seguinte forma: se o investidor tiver 20 anos ele deve subtrair a sua idade de 100 chegando ao resultado (no caso, 80). Assim, deve investir 80% do seu patrimônio em RV e os demais 20% em RF. Se tiver 40 anos, deve alocar 60% em RV e os demais 40% em RF - e assim por diante. Apesar de sugerida por inúmeros "experts", essa suposta fórmula não tem sentido algum!

Há lógica em recomendar que um investidor de 20 anos, recém-casado e com apartamento financiado em 30 anos, assuma mais riscos que o investidor de meia-idade, bem sucedido, com patrimônio já constituído e filhos independentes financeiramente? Me parece que não! Os investimentos feitos em RV, como o próprio nome sugere, podem variar muito, principalmente em momentos extremos de euforia ou pânico. Essa oscilação é normal, apesar de não fazer parte, até pouco tempo atrás, do cotidiano da maioria dos brasileiros.

Mal acostumados com uma taxa básica de juros altíssima e livre de risco os brasileiros não investiram em sua própria educação financeira. Com isso, têm muitas dúvidas na hora de alocar seus recursos e ficam tentados a recorrer a alguma fórmula mágica que os auxilie. Acabam assim assumindo mais riscos do que normalmente suportam, ficando suscetíveis às ondas de pânico e de euforia, seguindo os comportamentos de massa, muitas vezes com enormes prejuízos.

Isso não acontecia antes (pelo menos não com tanta frequência). Num passado não muito distante, a Selic garantia ao investidor rendimentos altíssimos. Realmente, não fazia muito sentido procurar novas formas de se investir o seu capital. Por que tomar risco num ambiente como esse?

Felizmente para o Brasil acho que esses tempos ficaram para trás. Taxas básicas de juros altíssimas trouxeram enormes prejuízos ao país. Entretanto, essas mudanças foram relativamente rápidas e, num curto espaço de tempo, os investidores se viram num ambiente econômico totalmente distinto do que estavam acostumados a conviver. O investidor precisa agora ter um plano muito bem definido para alocar seus recursos. Não deve acreditar em receitas prontas, pois cada pessoa tem um perfil, um horizonte e uma capacidade de investimento diferentes. Identificar o seu perfil de investidor e a sua aversão ao risco, estabelecer um plano de ação e ter disciplina para segui-lo em momentos de maior volatilidade não é tarefa fácil, mas também não é uma missão impossível.

Com disciplina e dedicação isso é possível e pode até ser prazeroso. Se o investidor não estiver disposto a se aprofundar deve, ao menos, não se deixar levar por promessas de dinheiro fácil. Nesse caso deve contar com o aconselhamento de profissionais qualificados que poderão auxiliá-lo na melhor forma de alocar seu capital.

Em suma, o Brasil mudou muito nos últimos anos e os investidores estão sendo forçados a mudar também. Precisam se aprofundar, estudar e conhecer melhor o mercado financeiro e suas inúmeras possibilidades de investimento. Não devem recorrer a fórmulas mágicas, nem promessas de ganhos fáceis. Não devem assumir riscos desnecessários e precisam ter disciplina para seguir a estratégia previamente estabelecida, caso contrário as perdas podem ser muito grandes e, em alguns casos, irreparáveis. Nesse ambiente é possível ganhar dinheiro mas, sem estratégia, conhecimento e aprofundamento constantes, nem mesmo no longo prazo!

Bruno Lembi é sócio da M2 Investimentos

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