segunda-feira, 3 de maio de 2010

Novo ciclo de alta do juro básico altera o cenário de investimentos para o ano

O Estado de São Paulo

03/05/2010

Para quem aplica em fundos conservadores, especialistas recomendam migração para produtos com títulos pós-fixados; poupança não é afetada


Roberta Scrivano - O Estado de S.Paulo

O Comitê de Política Monetária Nacional (Copom) do Banco Central (BC) iniciou na semana passada um novo ciclo de altas da taxa básica de juros. Segundo analistas, a Selic deve chegar a pelo menos 11,50% ao ano em dezembro. Esse movimento altera o cenário para os investimentos do País em 2010.

A elevação é boa para alguns ativos e ruim para outros. Por isso, o investidor precisa estar atento às mudanças no mercado. Títulos pós-fixados, que compõem principalmente os fundos DIs, passam a ser mais rentáveis. Com isso, os fundos com papéis prefixados ficam menos atrativos. A poupança não sofre alterações, mas perde competitividade na comparação com outras aplicações.

Luiz Simões, consultor financeiro, destaca que o investidor tem de colocar no planejamento da carteira as oscilações nos juros. "É preciso entender que sempre haverá ciclos econômicos, isso deve estar na conta."

Uma boa maneira de mitigar os riscos, segundo Simões, é sempre manter uma carteira diversificada. "E a recomendação muda de acordo com o perfil de cada um. Mas é sempre bom manter um pouco em renda fixa, um pouco em ações e por aí vai."

Especialistas em finanças pessoais detalham as alterações de cada aplicação e apontam qual o melhor caminho para o investidor manter ou aumentar sua rentabilidade no ano.

Pós-fixados: Estão nesse quesito CDBs pós-fixados, fundos DI e papéis LFT emitidos pelo governo federal. "Se há tendência de alta no juro, os pós-fixados são excelente opção", diz Willian Eid Júnior, professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Manuel Enriquez García, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), também recomenda papéis pós-fixados. "Para que tenha a repercussão da nova taxa, o ideal é que o investidor tenha 50% da carteira em pós-fixados", sugere o especialista.

Prefixados: CDBs prefixados e papéis LTN do governo federal não são uma boa em momento de perspectiva de alta da Selic.

Fábio Colombo, administrador de investimentos que atua no mercado há mais de 20 anos, explica que o futuro dessa aplicação está incerto no momento. "Temos a expectativa de alta do juros, que já elimina a possibilidade de esse investimento ser bom", avalia. "Há ainda as eleições, o que gera incerteza maior a respeito do futuro da política monetária nacional e consequentemente dos prefixados", explica Colombo.

O administrador de investimentos também recomenda que, tanto nos pré quanto nos pós-fixados, o ideal é que o investidor mantenha o dinheiro aplicado por, no mínimo, dois anos.

Títulos indexados à inflação: Os papéis NTN-B do governo federal são exemplo de títulos indexados à inflação. Segundo Eid, da FGV, esse papel é interessante para a diversificação da carteira e não sofre muita alteração com a alta da Selic.

Colombo completa que as NTN-Bs são tipos de ativos para manter o dinheiro aplicado entre cinco e oito anos. "Considero que 20% da carteira deva ficar nesses papéis", sugere Colombo.

Poupança: A rentabilidade da tradicional caderneta não é alterada com a variação no juros. García, da USP, explica, porém, que a rentabilidade, quando comparada à de fundos DI, por exemplo, passa a ser muito menor. William Eid recomenda, para quem tem mais de R$ 10 mil na poupança, a migração para o CDB. "Mas é preciso sempre estar atento às taxas cobradas pelos CDBs, ou ele não será tão rentável quanto o esperado."

Ações: O mercado de ações não é para qualquer um, insistem os especialistas em finanças pessoais. Oscilações fazem parte do processo e a alta do juros pode provocar queda nos rendimentos de quem aposta na bolsa de valores. "Bolsa é para longo prazo. Mas longo mesmo. Crises são passageiras e quem investe em ações precisa ter essa consciência", frisa Eid.

García, da USP, dá mais uma recomendação: "O dinheiro investido na bolsa deve ser aquele que o investidor não precisará por, pelo menos, dois anos."


Para lembrar

Na quarta-feira da semana passada, o Comitê de Política Monetária Nacional (Copom) do Banco Central (BC) elevou a taxa básica de juros em 0,75 pontos porcentuais, para 9,5% ao ano. Segundo o BC, a alta é necessária já que a economia está muito aquecida, sobretudo por conta do alto índice de consumo, fato que contribui para a elevação do preço dos produtos. Por esses fatores, a inflação
pode ficar acima da meta de 4,50% no ano. A alta no juro, é uma manobra do BC justamente para conter a inflação e mantê-la dentro da meta prevista.

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