sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

PIBB vai virar mico?

Valor Econômico

Por Angelo Pavini, de São Paulo
05/02/2010

Lançado com estardalhaço e uma grande campanha de popularização capitaneada pela Bovespa e pelo BNDES em julho de 2004 - e reforçado por uma nova emissão em 2005 -, o fundo Papéis Índice Brasil Bovespa (PIBB) se aproxima do sexto aniversário definhando. Primeiro fundo de índice com cotas negociadas em bolsa (Exchange Traded Fund, ou ETF ), no Brasil, o PIBB está perdendo espaço rapidamente para versões mais modernas e vinculadas a referenciais mais populares, como o Índice Bovespa. Para o investidor, o risco é que a queda da liquidez dificulte a venda das cotas e até distorça os preços.

No ano passado, o volume negociado de PIBB na Bovespa ficou em R$ 698 milhões, menos da metade do R$ 1,482 bilhão do ano anterior. A média diária de negócios caiu para R$ 2,838 milhões, bem abaixo dos R$ 5,951 milhões de 2008. E o número de negócios por dia recuou de 126 para 73 em 2009, passando para 67 em janeiro deste ano.

A redução nos negócios do PIBB foi reflexo direto do aumento do interesse pelos ETFs criados pelo banco Barclays - hoje BlackRock - no fim de 2008. Especialmente o Bova11, que é referenciado no Índice Bovespa, e que negociou no ano passado R$ 3,8 bilhões, ou R$ 15,6 milhões por dia. Neste ano, o volume médio diário do Bova11 é quase dez vezes o de PIBB. Os outros dois fundos do BlackRock - um referenciado em um índice de pequenas empresas (small caps) e outro em médias e grandes (middle and large), por sua vez, negociaram, juntos, apenas R$ 37 milhões no ano passado.

Os ETFs, coqueluche hoje no mercado internacional, são fundos que reproduzem exatamente as carteiras dos índices e sua rentabilidade segue o desempenho desses referenciais. Ao comprar uma cota desses fundos, é como se o investidor estivesse adquirindo um pequeno clone do índice, com a vantagem de não precisar adquirir cada papel na quantidade exigida pelo referencial. No caso do PIBB, seriam necessários R$ 15 milhões para montar uma carteira completa do índice, o IBrX-50. Já a cota era negociada ontem a R$ 90,50.

A desvantagem do PIBB é justamente o que a Bovespa e os demais participantes da oferta inicial destacavam como diferencial: o Índice Brasil 50, descrito como muito mais equilibrado que o tradicional Índice Bovespa. Isso porque, enquanto o Ibovespa apenas seleciona os cerca de 50 papéis mais negociados, o IBrX-50 leva em conta também a presença de mercado das empresas. Assim, o IBrX não seria concentrado em poucos papéis.

Acontece que o IBrX-50 nunca emplacou, não tem mercado futuro e mesmo os grandes gestores de fundos preferem usar a versão com 100 papéis, o IBrX-100, como referência. Assim, quando surgiu o Bova11, ligado ao Ibovespa, com mercado futuro, opções e grande visibilidade, a transferência dos grandes investidores foi imediata. Para ajudar, os novos ETFs surgiram com estrutura mais moderna, que facilita aos grandes investidores transformarem ações em cotas e vice-versa. Isso favorece a arbitragem quando o valor da cota se afasta do dos papéis.

O PIBB perdeu espaço, admite Júlio Ziegelmann, diretor de renda variável da BM&FBovespa, mas não deve desaparecer. "Os ETFs vão crescer muito e, como o IBrX é um índice muito melhor que o Ibovespa, o PIBB não deve sair do mapa", afirma. Segundo ele, não é uma grande surpresa o PIBB perder mercado. "Mas a bolsa tem uma visão positiva sobre os ETFs, pelo exemplo mundial", diz. Segundo ele, o Bova11 sempre vai ter mais liquidez pela popularidade do Ibovespa.

Na visão de Ziegelmann, o apelo do PIBB para as pessoas físicas foi a garantia de principal por um ano, dada pelo governo na ocasião da criação das carteiras. Hoje, porém, cinco anos após o fim dessa garantia, as pessoas físicas ainda respondem por 30% dos negócios com as cotas do fundo. Ele destaca que, no exterior, são os investidores individuais que respondem por quase metade dos negócios com ETF. "Aqui, do total, incluindo Bova11, PIBB e os outros, são 10%", diz. E, com o lançamento de novos ETFs, a expectativa de Ziegelmann é que o mercado cresça mais. "Esse tipo de fundo começa a aparecer como instrumento para pessoas físicas", afirma. "Eu não teria medo de perda de liquidez."

Não tão tranquila, a superintendente da recém-criada área de fundos indexados da Itaú Unibanco Asset Management, gestora do fundo, Tatiana Grecco, reconhece que são necessárias mudanças para ajustar o PIBB. Tatiana cuida de R$ 25 bilhões em fundos de ações e renda fixa, e pretende dar novo gás aos ETFs. Com R$ 2,5 bilhões de patrimônio, o PIBB é ainda o maior ETF do Brasil "e um dos maiores do mundo", diz a executiva.

Ela admite que o processo está atrasado. "A bolsa nos chamou para mudar o modelo, mas fomos pegos no meio da união dos bancos", lembra. Segundo Tatiana, os novos ETFs facilitam a arbitragem entre cotas e ações, pois não é necessário ter todos os papéis da carteira do índice para criar cotas. "No PIBB, é preciso ter cada papel", lembra. No novo sistema, a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC) ajuda na formação dos lotes que vão virar cotas e vice-versa. "Estamos estudando uma atualização do fundo, mas isso depende de alterações no regulamento e de assembleias de cotistas", diz. "Isso deve fomentar um pouco a negociação das cotas, pois esse mercado cresce com os grandes investidores, não com pessoas físicas, que vêm na sequência."

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