segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Bolsa com proteção

Com o Ibovespa subindo 50% no ano, bancos criam fundos de capital garantido para atrair investidor mais conservador


Valor Econômico

Angelo Pavini, de São Paulo
31/08/2009

Com o Índice Bovespa subindo 53,66% no ano, depois de cair 41,22% no ano passado, ficou difícil encontrar investidores com coragem para comprar ações. Para ajudar, todos os analistas, apesar do otimismo, alertam que o mercado subiu rápido demais e pode cair a qualquer momento. Mas a bolsa continua subindo e os investidores sentem que perderam o bonde. Esse ambiente de insegurança e, ao mesmo tempo, de tentação, é o ideal para os fundos de capital garantido ou protegido, oferecidos pelos bancos, e que dão ao investidor uma parte do ganho do Índice Bovespa em troca da proteção do valor aplicado.

Nesta semana, Itaú Unibanco, Citibank e Santander estão colocando na praça carteiras que devem reunir patrimônio total de R$ 550 milhões. Na semana passada, o Real, controlado pelo Santander, encerrou a captação de um capital garantido de R$ 450 milhões. Somando todos, a captação deve atingir R$ 1 bilhão, ou 23,6% do patrimônio total da categoria, que terminou julho em R$ 4,2 bilhões.

Cada fundo tem características diferentes e deve ser bem estudado pelo investidor. Todo, porém, têm em comum a estrutura, de aceitar aplicações por um período e depois ficarem fechados até o vencimento - apenas o do Real vem agora com uma versão com saques trimestrais. Além disso, têm gatilhos atrelados ao Ibovespa que, se atingidos em qualquer momento da vigência do fundo, mesmo por um segundo, transformam totalmente a aplicação.

A oferta desses fundos depende do mercado de opções - onde os investidores assumem o compromisso de comprar ou vender um ativo a determinado preço em troca de um prêmio -, que serve de base para as estruturas protegidas.

O Itau Unibanco está encerrando hoje a captação de dois fundos oferecidos para os clientes do varejo seletivo Uniclass e Personnalité. A expectativa é captar R$ 250 milhões, diz Osvaldo do Nascimento, diretor executivo responsável por operações de investimento e previdência. "Já operamos com esse tipo de fundo desde 2006, temos 14 carteiras e um patrimônio de mais de R$ 1,250 bilhão, com 15 mil cotistas", afirma.

Apesar de ligados à bolsa, os dois fundos oferecem ganhos de renda fixa, equivalentes a 130% do CDI (cerca de 11,5%). Mas caso o Ibovespa supere em qualquer momento dos 228 dias de prazo dos fundos 21% de alta ou baixa, o investidor leva apenas o principal aplicado. Isso significaria o Ibovespa cair abaixo de 45.583 pontos ou subir além dos 69.817 pontos, tendo como referência o fechamento de sexta-feira, a 57.700 pontos. Os fundos tem aplicação de R$ 5 mil e a taxa de administração é de 1,5%.

Para Nascimento, os fundos protegidos pegam o investidor que quer ingressar no mercado acionário, mas não tem muito apetite pelo risco. "É o investidor que não quer saber do risco de perder", diz. São ainda investidores mais idosos, que querem ganhar mais que o CDI sem arriscar o principal.

No Citibank, o prazo para captação do Citifirst Ibovespa Capital Protegido termina sexta-feira, 4 de setembro. A aplicação mínima é de R$ 25 mil e o prazo é de 18 meses, explica Jan Karsten, diretor de investimentos do Citibank Brasil. O fundo tem uma barreira de alta para o Ibovespa de 40% e de baixa de 25% em relação à data de criação do fundo, 8 de setembro. Em relação a sexta-feira, significaria cair abaixo de 43.275 ou ficar acima de 80.780. Se o índice não bater esses limites em nenhum momento, o investidor levará a variação do Ibovespa, para cima ou para baixo. Ou seja, se o índice cair 20% ou subir 20%, o investidor ganhará 20%.

Já se o índice cair mais de 25%, o fundo passará a seguir o Ibovespa até o vencimento, pagando no mínimo o capital aplicado. Se o indice subir mais de 40%, e no vencimento do fundo estiver positivo, o investidor leva uma taxa acima do CDI. Se o índice estiver abaixo, levará a taxa do CDI menos a perda do Ibovespa. E se o índice bater as duas barreiras, o investidor leva a taxa de juros.

"Vemos muitos investidores que não participaram do salto da Bovespa e agora ficam preocupado em entrar depois de toda alta", afirma Karsten. O Citibank tem hoje R$ 400 milhões em fundos de capital protegido, e espera captar mais R$ 100 milhões com a nova carteira.

Já no Santander, que encerrou o Real Capital Protegido 4 na sexta-feira e estará captando no Santander Capital Protegido 5 até 9 de outubro, a barreira de baixa do Ibovespa é de 20% e a de alta, de 40% (46.160 a 80.780 pontos), explica Alexandre Paixão Silvério, superintendente de gestão da Santander Asset Management.

O fundo do Real tem prazo de um ano e meio e começará no dia 14 de setembro, enquanto o do Santander terá dois anos. "Tivemos de alongar os prazos pois a menor volatilidade reduziu os prêmios de curto prazo", explica Silvério. A aplicação mínima é de R$ 5 mil e a taxa de administração é de 2,5% nos dois fundos.

Segundo Silvério, o fundo de capital garantido tem um pouco da atratividade da bolsa com a tranquilidade da proteção de principal. "E há o benefício de ganhar mesmo em cenário de queda da bolsa", diz ele, lembrando que as carteira do Santander e do Real também pagam a variação do índice, para cima ou para baixo, desde que ele não ultrapasse as barreiras.

Se bater o limite de baixa e o Ibovespa fechar o período em alta, o investidor receberá o a variação do índice. Mas se o Ibovespa cair, receberá o valor aplicado apenas. Já se o Ibovespa superar o limite de alta e depois fechar o período positivo, o investidor sai com a taxa de juros. Se o índice fechar em baixa, recebe a variação percentual do índice. Se bater as duas barreiras, de alta e baixa, o fundo paga a taxa prefixada. O Santander já acumula R$ 1,8 bilhão em capital garantido, já incluindo o novo do Real.

Para William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV, os fundos de capital protegido são bons para investidores mais acomodados ou que morrem de medo de bolsa. "O melhor é selecionar bons gestores de ações e renda fixa e aplicar direto", afirma ele. Eid recomenda que o investidor trace cenários e pense. "Ele tem de ver que, se a bolsa subir 50%, ele ficará satisfeito com 150% do CDI, ou 14%", diz.

Foi o que aconteceu com alguns investidores que aplicaram em fundos desse tipo no fim do ano passado e, pela volatilidade, saíram com um ganho de 180% do CDI. "Se o investidor acha que a bolsa vai superar os 66 mil pontos, é melhor entrar direto em ações", resume Nascimento, do Itaú Unibanco. Dos 13 lançamentos do Itaú, cinco ficaram limitados ao principal, especialmente os lançados em 2007 e meados de 2008. Já no Citibank, o fundo criado em janeiro de 2008 vence hoje e deve pagar o principal aos investidores, que teriam perdido cerca de 9% se estivessem no Ibovespa.

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