sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Debênture do BNDES rende mais que nota do Tesouro

Valor Econômico
Por Angelo Pavini, de São Paulo
30/01/2009


O investidor em renda fixa tem inúmeras oportunidades neste momento de aperto de liquidez, que valoriza quem tem recursos livres. Uma destas chances está nas debêntures da BNDES Participações (BNDESPar), braço de investimentos do banco oficial. Os papéis, lançados em dezembro de 2006, vêm sendo negociados no mercado secundário da BM&FBovespa com ganho adicional sobre os papéis do Tesouro, cujo risco é praticamente igual.

Em média, as taxas das debêntures costumam ficar acima entre 1 ponto percentual ou até 1,5 ponto percentual no caso do papel do Tesouro corrigido pelo IPCA, as Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-B), afirma Roberto Paris, superintendente executivo de Tesouraria do Bradesco. O banco é o formador de mercado do papel, responsável por garantir diariamente ofertas de compra e venda, mesmo que não haja negócios.


O ganho adicional é justamente o resultado da menor procura pelas debêntures e de sua liquidez mais restrita, explica Paris. Há dias em que não há negócio algum com as debêntures, o que cria dificuldades para quem pensa em comprar os títulos, de longo prazo, (a série indexada ao IPCA vence em 2012) e sair antes de seu vencimento. "Mas é um papel interessante para quem pode ficar com ele até o fim, pois terá uma remuneração maior que a do Tesouro hoje", diz Paris.


O BNDES lançou três séries de debêntures. A primeira delas, BDNP D21, paga a variação do IPCA mais juros e vence em janeiro de 2012. A segunda série, D31, tem juros prefixados e vence em janeiro de 2011. E a terceira, a D32, também corrigida pelo IPCA, vence em agosto de 2013. As séries mais procuradas são as ligadas ao IPCA.


A diferença de rentabilidade chegou a ser maior em alguns períodos de mercado mais conturbado, lembra Paris. "Em meados de outubro, novembro, as taxas de todos os papéis de renda fixa, inclusive os do governo, subiram, e o diferencial das debêntures bateu até 4 pontos pontos percentuais ao ano", diz. O mercado já se acalmou, as taxas caíram de maneira geral, acompanhando também a redução do juro básico pelo Copom, mas ainda há espaço para ganhos.


Na quarta-feira, os papéis do governo de prazo semelhante estavam na faixa de 7,12% ao ano mais IPCA, enquanto as debêntures da BNDESPar pagavam 9% ao ano para o vencimento de 2012. O executivo lembra que o diferencial não se refere a um risco maior do papel do BNDES. "O credor final é o mesmo, o governo federal", observa. A questão é mesmo a menor liquidez e a falta de popularidade do investimento.


Paris observa que a taxa depende também da quantidade que o investidor quer comprar. "Se o lote é muito grande, pode ser que a taxa se aproxime mais da dos papéis federais", observa. Isso porque, ao buscar lotes maiores, o comprador terá dificuldades em encontrá-los, pressionando o preço dos papéis para cima e as taxas para baixo.


Segundo Paris, o valor mínimo para se comprar debêntures é a partir de R$ 100 mil. "Pode-se comprar quantidades menores, até uma debênture apenas, a partir de R$ 1 mil, mas os custos podem não compensar e fica mais difícil encontrar vendedores", explica ele. Mas há alguma procura por parte de pessoas físicas de alta renda, clientes de private banks. A compra é um pouco mais complicada que a dos títulos públicos via Tesouro Direto, uma vez que o papel é negociado em bolsa, o que exige que a corretora feche o negócio. "No Tesouro Direto, o investidor vai lá e ele mesmo escolhe e compra o papel, já na debênture, normalmente é o banco - ou o private bank - quem faz tudo", explica. Os principais compradores, porém, são fundos de pensão ou de previdência, que têm retorno vinculado à inflação e não têm problemas de abrir mão da liquidez.


A média de negócios com as debêntures gira em torno de R$ 20 milhões, explica Paris. "Mas nem todo dia sai negócio", reconhece. Para ele, o mercado de debêntures poderia ser mais popular, mas isso dependeria de uma padronização maior dos títulos. "Quanto mais parecidos com os papéis do Tesouro, como fez a BNDESPar, mais fácil negociar", diz. Ele espera que, com a necessidade de mais empresas captarem neste ano pode aumentar a oferta de debêntures. "E isso pode desenvolver o mercado de títulos privados, que pagam prêmio sobre os papéis públicos".

Nenhum comentário:

Locations of visitors to this page