quarta-feira, 25 de junho de 2008

Carregamento de peso

Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
25/06/2008


Uma parte dos recursos aplicados na previdência privada em dezembro deverá chegar ao fim do primeiro semestre de 2008 sem um centavo de rendimento. Apesar da rentabilidade média de 4,3% dos planos de renda fixa até maio, segundo dados do site Fortuna, e a possível chegada a um ganho de médio de 5% no semestre, esse lucro pode ter sido corroído pelas taxas de carregamento, percentual que incide a cada novo aporte. Algumas seguradoras chegam a cobrar até 5% de encargo sobre qualquer depósito - em geral, quanto menor o valor aplicado e o patrimônio acumulado, maior tende a ser o custo.


Mas isso, a princípio, não é motivo para descartar o PGBL ou VGBL de qualquer portfólio de investimento. Em prazos de décadas, a taxa de carregamento pode ter peso relativo menor em relação ao retorno, pois as vantagens tributárias da previdência tendem a superar esse encargo.


Numa simulação que projeta o retorno líquido segundo a Selic atual de 12,25% ao ano, por exemplo, o aplicador que investir R$ 500 por mês, pagar taxa de carregamento de 5% e ficar no plano apenas seis meses, chegará ao fim com rentabilidade bruta de R$ 2.919,84, ou seja, menos do que os R$ 3 mil que teria aplicado.


A boa notícia é que cada vez mais as seguradoras têm planos alternativos para a cobrança da taxa de carregamento - que banca a distribuição dos fundos - e que, muitas vezes, o aplicador pode até ficar isento da taxa, dependendo do plano que encontrar. A competição do mercado e a redução dos ganhos quando o juro estava em queda têm feito mais e mais companhias oferecerem descontos ou pacotes especiais para aliviar o encargo.


Antes, era padrão a seguradora apresentar uma tabela de taxas decrescentes, conforme o aporte ou o patrimônio acumulado pelo cliente. Diversas seguradoras, por exemplo, têm planos em que essa taxa é cobrada no momento dos resgates, em vez dos aportes, e apenas se o participante ficar no plano por pouco tempo. Em geral, as taxas cobradas na saída decrescem conforme o período da aplicação e tornam-se nulas após alguns anos. "É um estímulo e, ao mesmo tempo, uma vantagem para o investidor de longo prazo", diz Renato Russo, diretor da Federação Nacional da Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) e vice-presidente de previdência e vida da SulAmérica. Para ele, essa é uma tendência para qual deve seguir todo o mercado.


O motivo dessa agitação para se rever as taxas é simples. O investidor de um VGBL de renda fixa popular de uma das grandes seguradoras do mercado, por exemplo, viu sua rentabilidade nominal cair de 15,93% em 2005, para 12,02% em 2006 e 8,20% no ano passado. Nos últimos 12 meses até março, o ganho caía a 7,75%, segundo o extrato enviado pela seguradora. Esse investidor deu-se conta de que, pagando carregamento de 5%, sobrava um retorno líquido muito pequeno para ele ao fim do ano. Assim, ele decidiu optar por outro plano, que lhe cobrava taxa de carregamento menor.


Segundo as seguradoras, o carregamento varia conforme o saldo porque pesam mais os custos de distribuição para os clientes menores. Se é cobrada taxa de carregamento de 4% de alguém que investe R$ 20, isso vai equivaler a R$ 0,80. O valor absoluto é menor do que o custo de postagem de uma fatura. Por isso, quando se investe mais, obtêm-se taxas menores.


O mesmo pode acontecer com o participante que já acumula bom patrimônio no fundo. As seguradoras costumam baratear o carregamento conforme o saldo sobe, independentemente de mantidos os valores dos aportes mensais. Se a seguradora não fizer isso, o participante poderá usar o saldo para barganhar taxas menores entre as concorrentes. Nessa comparação, ele deve levar em conta também a taxa de administração cobrada anualmente nos planos, que banca a gestão dos recursos aplicados. A taxa de carregamento, embora muitas vezes salgada, tem um caráter educativo e punitivo para aqueles que aplicam por prazos curtos.


No longo prazo, mesmo com uma taxa de carregamento elevada, a previdência privada pode ter bom retorno, principalmente por conta dos benefícios fiscais. Mas o aplicador deve estar atento para o quanto vai gastar para bancar esse encargo. Em dez anos, por exemplo, nas mesmas condições de aplicação, o participante que bancar 5% de taxa de carregamento terá retorno bruto de R$ 106.810,73. Se nunca tivesse pago carregamento, a quantia subiria a R$ 112.432,34. A diferença pode parecer pequena, olhando-se lado a lado quantias tão altas, mas o aplicador que bancou pedágio de 5% tem de se dar conta de que a diferença de R$ 5.621,62 se deve apenas ao carregamento. Em vinte anos, o preço cobrado do aplicador subiria a R$ 23 mil.


Ao começar a aplicar e, principalmente, para quem já investe, Antonio Cássio dos Santos, presidente da Fenaprevi e da Mapfre Seguros, diz ser necessário que se pergunte o custo dessa taxa para a segurador. "Na medida em que os aportes crescem, as taxas de carregamento tendem a cair."


Na entrada ou na saída, é fato que as taxas de carregamento têm caído, ratifica Renato Russo, da SulAmérica. Hoje já se encontra planos que cobram carregamento nos resgates e apenas se o dinheiro ficar no planos por período muito curto, como uns dois anos, por exemplo.


Juvêncio Braga, também diretor da Fenaprevi e executivo à frente da área de previdência da Caixa, diz que o mercado todo tem se alinhado para cobrar menos dos aplicadores. A Caixa, assim como no caso da SulAmérica e da Mongeral, lançou nos últimos meses uma família diferenciada de planos de previdência com cobranças alternativas, que podem sair mais baratas.

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