segunda-feira, 17 de março de 2008

Por que trocar a TV paga pela digital

Artigo - Costábile Nicoletta
Gazeta Mercantil
17/3/2008

O brasileiro tem paixão por televisão. Quando a tecnologia não nos oferecia recursos como os de hoje, recorríamos até a palhas de aço na ponta de antenas para tentar melhorar o sinal das emissoras. No início das transmissões coloridas, no começo da década de 70, quem não tinha dinheiro para trocar seu televisor preto-e-branco contentava-se em instalar sobre a tela do aparelho uma película plástica com estampa semelhante a um arco-íris. Difícil era fazer coincidir a cor do plástico com a da pele de qualquer ser humano que figurasse na telinha, principalmente quando a pessoa se movia de um lado a outro.

Vinte anos mais tarde, quase todo lar brasileiro dispunha de pelo menos um televisor em cores, mas a qualidade da recepção da imagem ainda era um problema. Foi mais ou menos nessa época que a televisão por assinatura começou a ganhar corpo comercialmente no País, embora a ABTA - a associação que reúne as empresas do setor - informe em seu site que o serviço começou há mais de quarenta anos em razão da necessidade de resolver um problema puramente técnico: fazer com que o sinal das emissoras de televisão localizadas no município do Rio de Janeiro chegasse às cidades de Petrópolis, Teresópolis, Friburgo, entre outras situadas na Serra do Mar, com boa qualidade de som e de imagem. As cidades serranas passaram a ser servidas por uma rede de cabos coaxiais que transportavam os sinais até as residências depois de recebidos por antenas instaladas no alto da serra. Os usuários que desejassem o serviço pagavam uma taxa mensal, a exemplo do que ocorre hoje.

As projeções econômicas que se faziam para a TV por assinatura eram de crescimento exponencial. Algo como 10 milhões de clientes alguns anos após o seu lançamento. Hoje, quase 20 anos depois, as empresas do setor contabilizam apenas um pouco mais da metade da quantidade de usuários que se esperava, conforme dados oficiais da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Muita gente se frustrou com a qualidade da programação dos canais e se considerou enganada quando as operadoras começaram a cobrar uma taxa extra pela exibição de jogos de futebol. Ainda hoje, vários canais pagos vendem horário para empresas de televendas. O telespectador que se dispôs a desembolsar dinheiro imaginando que assistiria a um programa ou filme diferente constata que pagou para ver a mesma coisa que, muito provavelmente, o aborrece na televisão aberta.

É difícil quantificar, mas muita gente ainda paga uma assinatura de televisão somente para melhorar o sinal das emissoras abertas. Um pacote com os canais convencionais e um ou outro de filme ou esportes não sai por menos de R$ 70 em qualquer operadora. No ano, são R$ 840. É mais do que se cobra por um decodificador de sinais analógicos para digitais (set top box, no jargão do setor), não o apregoado pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, que ainda acredita que seja possível produzir e vender o aparelho por bem menos que isso.
É provável que as operadoras de televisão paga já tenham feito essa conta. Se não a fizeram, é possível que assistam a uma reprise dos prejuízos que quase levaram à bancarrota a Net e a TVA e os grupos que as controlavam (Globo e Abril) quando os telespectadores perceberem essa aritmética, sobretudo os de baixo poder aquisitivo, aqueles que quase todas as empresas parecem ter descoberto nos últimos anos e sempre foram negligenciados.

Dependendo dos recursos que a TV digital oferecer, talvez até mesmo os clientes mais abonados questionem a validade de continuar pagando para assistir a uma programação que pouco difere da convencional e cujo provedor tortura seus clientes ao telefone quando eles necessitam de assistência técnica ou precisam resolver problemas de cobrança.

kicker: Vários canais por assinatura vendem horário para empresas de televendas

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